O globo, n. 31126, 26/10/2018. País, p. 4

 

Na reta final, diferença cai seis pontos

Marcelo Corrêa

26/10/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

A três dias da eleição, Bolsonaro agora tem 56% contra 44% de Haddad

A distância entre os candidatos à Presidência diminuiu na reta final do segundo turno. Segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem, Jair Bolsonaro (PSL) perdeu três pontos em relação à sondagem anterior, da semana passada, e agora tem 56% dos votos válidos. Fernando Haddad (PT) foi na direção oposta: cresceu três pontos, para 44%. A diferença entre eles caiu de 18 para 12 pontos.

Tanto a queda do candidato do PSL quanto o crescimento do petista foram acima da margem de erro, que é de dois pontos para mais ou para menos. Essa é a primeira vez no segundo turno que a diferença entre os dois diminui. No primeiro levantamento, Bolsonaro tinha 16 pontos de vantagem.

Para analistas, o movimento indica um acirramento da disputa, principalmente considerando o alto índice de eleitores sem candidato (que votam branco, nulo ou estão indecisos), que chega a 14%. Segundo Mauro Paulino, diretor do Datafolha, é a maior taxa desde a redemocratização, em 1989. Bolsonaro, no entanto, segue como favorito.

— A taxa é recorde. O segmento pode ser decisivo nestes últimos dias — afirma Paulino.

O pesquisador atribui o movimento a episódios que tiveram repercussão negativa para o candidato do PSL recentemente. O mais recente foi um vídeo em que o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirma que basta “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).

O cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV-SP, também vê efeito desses episódios sobre a campanha. Mas destaca que o eleitorado de Bolsonaro segue sólido: 46% votariam com certeza no candidato do PSL, dado que cai para 37% entre eleitores de Haddad. A taxa de rejeição a Bolsonaro também segue menor que a do rival: 44% contra 52%.

— O discurso de domingo do Bolsonaro foi muito violento, por exemplo. Tudo isso pode afastar parte dos eleitores. Foram mais os erros do Bolsonaro do que grande mudança na campanha do Haddad —avalia Abrucio.

O especialista destaca ainda o efeito regional sobre a corrida presidencial. No Rio, a diferença entre Haddad e Bolsonaro caiu oito pontos.

—O debate de hoje (ontem) pode ter efeito. Os três candidatos a governador mais ligados

a Bolsonaro têm escorregado —diz Abrucio, em referência a João Doria (PSDBSP), Wilson Witzel (PSC-RJ) e Romeu Zema (Novo-MG).

O maior avanço do petista foi na região Norte, onde ele ganhou sete pontos, mas segue atrás do rival (59% a 41%). No Sudeste, maior colégio eleitoral, Bolsonaro mantém sólida liderança: 63% a 37% dos votos válidos.

Haddad ganhou votos entre os mais ricos, os que recebem mais de dez salários mínimos. Entre os com renda de cinco a dez salários mínimos, o petista cresceu quatro pontos. Paulino, do Data folha,vê sinais de que um aclasse média eleitorado PT que migrou para Bolsonaro possa fazer o movimento de volta.

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Ciro volta ao Brasil, e irmão já fala em projeto em 2022

Catarina Alencastro

Larissa Rodrigues

26/10/2018

 

 

Haddad faz comício em Recife e afirma: ‘Até minha mulher está com ciúme do Ciro já, de tanto aceno que faço para ele’

Depois de passar quase todo o segundo turno em viagem pela Europa com sua mulher, Ciro Gomes (PDT) tinha retorno previsto para a noite de ontem. Não há previsão de agenda de campanha para o petista Fernando Haddad, que disse recentemente esperar um maior engajamento do pedetista. Segundo seu irmão Cid Gomes, eleito senador pelo Ceará e um dos organizadores da recepção, a ideia é mostrar apoio a Ciro e já lançá-lo candidato à Presidência para 2022.

—Vamos fazer uma recepção com amigos e as pessoas que votaram nele no primeiro turno. É um ato para dar apoio moral e psicológico e lançá-lo para 2022 — disse Cid ao GLOBO.

Durante ato em Recife, Haddad cobrou a participação de Ciro Gomes. O petista brincou:

—Até minha mulher está com ciúme do Ciro já, de tanto aceno que faço para ele. Quando eu chego em casa, ela fala e eu? Eu vou continuar fazendo aceno porque boto o Brasil acima de tudo. Não é com arrogância que nós vamos enfrentar o desafio que está posto. A gente tem que ter humildade diante da situação. Ontem, liguei pro Carlos Lupi (presidente nacional do PDT), falei longamente com ele. Falei para ele que compartilhe conosco esse momento da virada. Temos três dias para virar o jogo. Com o Ciro fica mais fácil, mas vamos virar.

Logo após saber do resultado das urnas, no último dia 7, Ciro telefonou para cumprimentar Haddad por sua ida ao segundo turno. Depois, em entrevista, indicou voto contra o candidato do PSL, Jair Bolsonaro:

—O meu espírito é continuar fazendo o que eu fiz a minha vida inteira: lutar em defesa da democracia e contra o fascismo. Ele não, sem dúvida.

Mas, enquanto o PT esperava um engajamento de Ciro na campanha de Haddad, o PDT decidiu apenas por um “apoio crítico” ao petista.

Vice na chapa de Ciro, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), por sua vez, defendeu voto nulo no segundo turno e fez duras críticas ao PT e ao próprio Haddad. A senadora chegou a dizer que uma eventual administração Haddad seria um governo “Dilma 2 piorado”, pelo fato de o petista não ter apoio suficiente para aprovar medidas no Congresso, e sugeriu que ele desistisse da candidatura, para dar lugar a Ciro.