O globo, n. 31126, 26/10/2018. País, p. 8

 

Ataques entre Witzel e Paes marcam embate final

Miguel Caballero

Fernanda Krakovics

26/10/2018

 

 

Adversários se trataram como ‘candidato do Cabral’ e ‘candidato do Crivella’ no debate da TV Globo, o último de uma campanha que chega à reta final com a redução da diferença nas pesquisas entre os dois concorrentes

A troca de acusações e a tentativa de explorar aliados incômodos do adversário marcaram o último debate entre os candidatos ao governo do Rio, Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM), ontem à noite, na TV Globo. Amenos de 72 horas da votação, Paes procurou fortalecera ascensão registrada nas últimas pesquisas de intenção de votos, enquantoWitzel tentou estancara perda de eleitores.

O último levantamento do Data folha, divulgado horas antes do encontro entre os dois, mostrou que Paes reduziu em dez pontos percentuais avantagemdeWitzel, em comparação coma pesquisada semana passada. O ex-juiz apareceu com 56% dos votos válidos, contra 44% do ex-prefeito.

Relações incômodas

Durante ode bate,Witzel chamou Paes de“candidato do Pezãoed oC abral”,emr eferência aos mais recentes ocupantes do Palácio Guanabara, ambos do MDB, partido do qual Paes se desfiliou no início do ano. O ex-prefeito revidava ao tratar o rival como “candidato do Crivella”, em referência ao apoio do PRB, do prefeito do Rio, ao candidato do PSC.

Pela primeira vez na campanha, Witzel afirmou que Crivella “faz um péssimo governo” na capital, numa tentativa de se desvencilhar do aliado impopular.

— Nunca pedi apoio ao Crivella, muito pelo contrário. Crivella está fazendo um péssimo governo. Tentei ajudá-lo, mas está fazendo um péssimo governo — disse Witzel.

O ex-juiz tentou colar seu nome ao do clã Bolsonaro, que elegeu o deputado estadual Flávio como senador e tem o presidenciável Jair à frente nas pesquisas. Ao citar que Flávio Bolsonaro autorizou a divulgação de seu apoio, Witzel foi ironizado por Paes:

—Meu Deus do céu, parece um acriança. Parabéns ao Flávio Bolson aro, que foi eleito senador. Tem vídeo delem e elogiando, mas não fico dizendo isso. O Flávio não vai esta raqui no Palácio Guanabara coma caneta( na mão ). Agente precisa de governador com experiência. Nãoéoap oi odo Flávio Bolso naroquevair e solver.

O clima estava acirrado entre os apoiadores. Por várias vezes, a plateia foi advertida para evitar as vaias, aplausos e gritos durante as intervenções de cada um.

Desde o início, a troca de acusações foi intensa, com episódios já mencionados na campanha. Paes abriu o encontro explorando a relação de Witzel com o advogado Luiz Carlos Azenha, que defendia o traficante Nem e foi preso ao tentar subornar policiais quando levava o bandido no porta-malas de um carro. O ex-prefeito citou o acúmulo de benefícios de Witzel quando era juiz e sua transferência do Espírito Santo para o Rio de Janeiro, sob alegação de que estava sendo ameaçado pelo crime organizado.

— Você não é Moro, não é Bretas, não é Denise Frossard. Essas pessoas enfrentaram o crime. Você fugiu.

Witzel, por sua vez, repetiu ataques ao adversário, como o depoimento do exsecretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, de que Paes recebeu 1,75% de contratos da pasta:

—Eu não respondo a processo por improbidade, candidato do Pezão e do Cabral, e não ensinei ninguém, segundo Alexandre Pinto, a fazer superfaturamento.

No último bloco, Paes pela primeira vez reagiu a ser chamado de “candidato de Cabral e Pezão”.

— Você me respeite. Não sou candidato de Cabral e Pezão. Tive relações institucionais com eles, era prefeito. Pare com essa comparação —defendeu-se.

Em meio aos ataques pessoais, houve tempo para discussão de propostas. Witzel e Paes raramente concordaram sobre o que fazer como governador. Um dos únicos momentos foi quando ambos coincidiram em ser contra a privatização da Cedae.

Segurança também foi um tema abordado, e os dois candidatos destacaram pontos diferentes do que consideram um legado da intervenção federal na área.

—Vamos aproveitar o que a intervenção deixou e aparelhar melhor o policial militar. A prioridade é combater a lavagem de dinheiro do tráfico —prometeu Witzel, seguido por Eduardo Paes:

—O melhor da intervenção foi a maior integração operacional entre polícia civil e polícia militar. A intervenção deixa um planejamento estratégico, que deve ser seguido.

Nas considerações finais, Paes se apresentou como o candidato mais conhecido, em contraponto a Witzel:

—Uma candidatura que parece lobo em pele de cordeiro, se quiser uma imagem bíblica. Ou um kinder ovo, cada vez que abre é uma surpresa.

Já Witzel se colocou como o candidato da mudança:

—Decidi ser candidato porque, como você, estou indignado com tanta corrupção.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Ex-prefeito dobra aposta na pancadaria

Paulo Celso Pereira

26/10/2018

 

 

As pesquisas Ibope e Datafolha mostrando a redução veloz da vantagem de Wilson Witzel na disputa estadual animaram Eduardo Paes a manter no debate desta quinta-feira a estratégia que parece estar dando certo: o ataque. Desde a primeira pergunta, o exprefeito partiu para cima do adversário, indagando sobre sua relação com o advogado Luiz Carlos Azenha, que defende o traficante Nem. Witzel evitou se aprofundar no tema, e Paes voltou ao episódio diversas vezes ao longo de todo o encontro —conseguindo manter o ex-juiz nas cordas.

Witzel, por sua vez, também não perdeu uma só oportunidade de associar Paes ao ex-governador Sérgio Cabral, hoje preso, e ao governador Luiz Fernando Pezão. Nada mais sabido, mas ainda assim Paes sentiu o golpe. A impopularidade dos emedebistas é tamanha que ele, mesmo tendo sido lançado à prefeitura pelo ex-governador em 2008, precisou dizer que mantinha com Cabral apenas “relação institucional”.

Em meio à pancadaria, o eleitor conseguiu ao menos colher algumas propostas nos blocos programáticos. Ambos disseram, por exemplo, que não privatizarão a Cedae, apresentaram algumas ideias —nada surpreendentes, é verdade —para combater a criminalidade e tiveram uma divergência relevante em relação à política habitacional: Witzel defende a expansão imobiliária para novas regiões, enquanto Paes quer ocupar áreas onde já exista infraestrutura.

Outras ideias opostas surgiram quando se abordou o ensino infantil, com Witzel delegando a tarefa apenas para as prefeituras e Paes prometendo liderar a expansão das creches, e em relação à saúde —neste caso, o ex-prefeito quer recuperar leitos de hospitais estaduais e o ex-juiz privilegiará parcerias com clínicas privadas.

Ao final, ambos conseguiram deixar claro para o eleitor o cerne de seus discursos: Paes apresenta-se como o mais experiente e preparado para tirar o estado do buraco, enquanto Witzel espera que a onda do “novo” e pró-Bolsonaro o leve até o Palácio Guanabara.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Cordialidade da plateia dura pouco e temperatura esquenta

Marco Grillo

26/10/2018

 

 

A cordialidade, os sorrisos e os tapinhas nas costas que reinaram no convívio entre os aliados de Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM) até cinco minutos antes do início do debate não resistiram ao aumento de temperatura provocado pelo início do confronto.

Pouco antes de o embate começar, o vereador Otoni de Paula (PSC), eleito deputado federal, atravessou a plateia para cumprimentar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), em campanha por mais dois anos no comando da Casa — “Meu presidente, tudo bem?”. Em outra roda, conversavam em harmonia parlamentares de ambos os lados: Pedro Paulo (DEM) e Carlos Roberto Osorio (PSDB), pelo lado de Paes, e Márcio Pacheco (PSC) e Rodrigo Amorim, eleito agora deputado estadual pelo PSL, no lado de Witzel.

Mas bastaram alguns minutos de debate para o clima mudar: aplausos, vaias e gritos dominaram o ambiente.

—Parece uma criança — ironizou Paes, sobre Witzel, ouvindo em troca uma lembrança da plateia sobre uma conversa gravada com o expresidente Lula.

—Soldado do Lula — gritou o deputado Pacheco, acompanhado por correligionários.

Quando Paes discordou de Witzel sobre soluções urbanísticas para a habitação, foi apoiado com entusiasmo pelos seus convidados, que logo receberam vaias. Em outro momento, apoiadores de Witzel chiaram quando Paes afirmou que acabou com a “caixinha da Fetranspor”.

Nos intervalos, Paes ouvia conselhos do marqueteiro Mauricio Carvalho e do assessor Hudson Carvalho, enquanto Witzel era orientado pelo deputado Pedro Fernandes e pelo marqueteiro Gutemberg Fonseca. Num intervalo, um convidado mais empolgado de Paes trouxe uma lembrança das arquibancadas de futebol: “Ei, juiz, vai...”, empolgou-se, interrompendo o grito a tempo.