Título: Reconciliação estratégica
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2012, Política, p. 5
As duas maiores lideranças políticas de Pernambuco, o governador Eduardo Campos (PSB) e o ex-governador e atual senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), inimigos públicos declarados desde 1992, mas que nos últimos meses ensaiavam uma reaproximação, selaram de vez a paz oficial. O capítulo histórico está documentado e ajuda a entender o xadrez político pernambucano. Uma petição assinada pelos advogados de Eduardo e Jarbas, obtida ontem pelo Correio, será protocolada hoje no Supremo Tribunal Federal (STF). O governador pede ao STF que arquive duas representações criminais (números 3.292 e 3.291) por calúnia movida contra Jarbas durante a campanha eleitoral de 2010, marcada por duras agressões e muita baixaria.
O documento simples, de apenas uma página, tem um significado complexo. Em jogo, o plano nacional de Eduardo e a necessidade de aproximação com o PMDB num futuro próximo. Para isso, é preciso aparar todas as arestas e nada melhor do que uma demonstração documental. Um afago e tanto ao "ex-adversário". A ação foi movida porque Jarbas Vasconcelos, que concorria com Campos para tentar impedir a reeleição, em 2010, declarou, num discurso, que o governador estaria cooptando prefeitos e lideranças da oposição, trocando obras por votos. A declaração ganhou as páginas dos jornais e foi parar no guia eleitoral.
No documento, assinado pelos advogados Bruno Brennand, pela parte de Eduardo, e Leucio Lemos Filho, representando Jarbas, o governado diz que "não mais subsistem e estão superados os motivos que deram margem à iniciativa tomada em relação ao senhor Jarbas de Andrade Vasconcelos". O texto, que será encaminhado ao ministro do STF Celso de Melo, comunica que Eduardo Campos, com o vice-governador João Lyra Neto, "vem manifestar desinteresse quanto ao prosseguimento da medida intentada, pugnando pela sua extinção e arquivamento".
Acordo fechado A petição foi redigida ontem no escritório de Antônio Campos, irmão do governador. O pedido partiu do próprio Jarbas Vasconcelos. O advogado do governador teria costurado o arquivamento da representação com o ex-procurador do Estado Izael Nóbrega, bastante ligado a Eduardo Campos. Jarbas resolveu se antecipar porque estaria preocupado com uma reportagem que seria publicada na imprensa com uma lista de parlamentares que estavam sendo processados no STF.
No início do mês, o senador Jarbas Vasconcelos esteve no Palácio do Campo das Princesas, atendendo a convite de Eduardo Campos, para participar de solenidade de posse da Comissão Estadual da Verdade. (JV)
"Não mais subsistem e estão superados os motivos que deram margem à iniciativa tomada em relação ao senhor Jarbas de Andrade Vasconcelos" Trecho do pedido de Eduardo Campos para que seja arquivado processo por calúnia contra Jarbas Vasconcelos
Memória Inimigos históricos
A briga entre Jarbas Vasconcelos e Eduardo Campos remonta ao ano de 1992. Tudo começou porque o avô de Eduardo, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes de Alencar não gostou do veto de Jarbas ao seu neto como vice na chapa encabeçada pelo peemedebista para concorrer à prefeitura do Recife naquele ano. Em 1994, o embate acirrou-se. Miguel Arraes (PSB-PE) disputou a eleição ao governo de Pernambuco contra Gustavo Krause (PFL-PE), que contou com o apoio de Jarbas Vasconcelos. "O doutor Jarbas escolheu o caminho da perdição", dizia.
Em 1998, quando Arraes tentava a reeleição, Jarbas utilizou o chamado escândalos do precatórios, quando Eduardo Campos era secretário de Fazenda, para fazer os mais duros ataques ao candidato do PSB. A relação era de ódio. Jarbas venceu por mais de um milhão de votos. Na transmissão do cargo, Arraes não pisou no Palácio do Campo das Princesas. No ano passado, o senador pernambucano fez duras críticas ao governador de Pernambuco pela forma como Campos conduziu a mãe, Ana Arraes, ao Tribunal de Contas da União.