Título: Socorro à Espanha divide Zona do Euro
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2012, Economia, p. 10

Mercado respirou aliviado pela manhã, mas informações desencontradas sobre exigências para o empréstimo derrubaram as bolsas

O socorro de 100 bilhões de euros injetados no sistema financeiro espanhol, no fim de semana, levou o mercado da euforia à descrença. O voto de confiança dado à Espanha depois da medida de ajuda não durou metade do dia e, após o almoço, as principais bolsas da Europa desabavam. Madri, que chegou a bater alta de quase 6% no melhor momento do pregão, amargou perdas de 0,54% no fechamento, influenciada, sobretudo, pela incerteza em relação à contrapartida que a Espanha teria de dar em troca do dinheiro. A situação se tornou ainda mais dramática depois de a Itália também entrar na área de risco (leia mais na página 11) com os juros de seus títulos públicos em alta diante das incertezas.

A segunda-feira também foi marcada na Europa por declarações contrárias e favoráveis à ajuda aos espanhóis e também por dúvidas. O socorro causou mal-estar entre os integrantes do bloco econômico que receberam auxílios anteriormente e que têm pagado uma fatura severa pelo direito a empréstimos. Portugal foi uma das primeiras nações a reclamar e falar em revisão do acordo que fez no passado. A Grécia também tinha intenções de rever o combinado, assim como a Irlanda.

Tamanha tensão no bloco europeu colocou pressão sobre o mercado de títulos da Espanha e, após uma baixa pela manhã, os juros dos papéis com vencimento em 10 anos voltaram a subir no fim da tarde, chegaram a 6,430% contra os 6,192% na sexta-feira.

Explicações Líderes europeus, preocupados com as repercussões do socorro, se apressaram e foram a público tentar diminuir o ruído. "A ajuda à Espanha para recapitalizar seus bancos terá, evidentemente, condições", garantiu o vice-presidente da Comissão Europeia, o espanhol Joaquín Almunia durante entrevista à rádio espanhola Cadena Ser. "O FMI estará interado de tudo o que acontecer a partir de agora e também estará na troika. Os estados membros são os que colocam o dinheiro e todo empréstimo gera obrigações e compromissos por parte de quem o recebe", afirmou Almunia. Caso o crédito à Espanha chegue, de fato aos 100 bilhões de euros oferecidos, a ajuda total da Zona do Euro irá para 503 bilhões de euros, sendo 240 bilhões aprovados para Grécia, 85 bilhões para Irlanda e 78 bilhões para Portugal.

Apesar das considerações de Almunia, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, disse que a troika, grupo formado por FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, iria se limitar apenas a supervisionar a reestruturação do sistema financeiro espanhol. Ainda segundo Schäuble, ao contrário de Grécia, Irlanda e Portugal, a Espanha solicitou a ajuda para estabilizar e reestruturar seu setor bancário, não para realizar reformas estruturais, assim, estariam descartadas avaliações dos acordos firmados por outros países. "A reestruturação do setor bancário espanhol deve ser negociada caso por caso e será controlada para que chegue a um porto seguro", disse o ministro à rádio alemã Deutschlandfunk. "As condições serão impostas aos bancos, não à sociedade espanhola", afirmou o ministro espanhol de Economia, Luis de Guindos.

O porta-voz do comissário europeu para Assuntos Monetários, Amadeu Altafaj, foi incisivo nas suas declarações. "Haverá impacto porque são empréstimos e terão que ser reembolsados", declarou após ser questionado se o empréstimo causaria impacto na dívida pública espanhola. Ainda segundo Altafaj, os espanhóis teriam de pagar entre 3% e 4% de juros sobre o empréstimo.

Depois das declarações do porta-voz, o próprio comissário, Olli Rehn, decidiu falar. "A condicionalidade política incidirá sobre o setor bancário e financeiro", disse a legisladores no Parlamento Europeu em referência à Espanha. "Não haverá novas condições em política fiscal e reformas estruturais porque esses assuntos são tratados no âmbito da governança econômica e aí a condicionalidade política normal é aplicada", completou. Rehn também mencionou a possibilidade de recapitalização direta dos bancos pelo Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (ESM, na sigla em inglês).

As dúvidas em relação ao sistema financeiro espanhol e a ajuda dada a ele contaminaram todo o mercado, na Europa, com exceção da bolsa de Frankfurt, que fechou o dia com alta de 0,17%, todas as praças terminaram o pregão no vermelho. Londres amargou perda de 0,05% e Paris de 0,29%. Milão registrou perdas de 2,79%. Na Ásia, primeiros mercados a fecharem no mundo, Tóquio obteve ganhos de 1,96% e Xangai de 1,07%. Os Estados Unidos não ficaram de fora da rodada ruim e Nova York marcou perda de 1,14%.

» Dólar nas alturas

Além do pessimismo que tomou conta do mercado devido os receios de que a crise na Espanha termine com a quebra de vários bancos, a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) teve desempenho negativo, ontem, e fechou o dia em queda de 0,79%, aos 54.001 pontos. No início da sessão, puxada pelo otimismo matinal que tomou conta do mundo por algumas horas, a bolsa chegou a registrar alta de 1,78%. A queda em São Paulo também se explica pelas ações da Petrobras e da OGX, duas das maiores companhias do mercado brasileiro. As ações preferenciais da petroleira estatal encolheram 2,60% enquanto que as ordinárias caíram 2,99%. Na empresa do bilionário Eike Batista, o tombo foi de 7,40%. Enquanto a bolsa derretia, o dólar seguiu em alta e terminou o dia em R$ 2,057, com incremento de 1,64% na cotação.