Título: PF investiga quatro agentes e uma delegada
Autor: Araújo, Saulo
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2012, Cidades, p. 21

Direção da corporação apura as falhas de segurança na Superintendência que levaram ao sumiço de José Martins da Silva, 52 anos, detido poucas horas antes ao ser flagrado com 5kg de cocaína no aeroporto de BrasíliaNotíciaGráfico

A direção da Polícia Federal abriu um procedimento administrativo para investigar se a fuga de um traficante de drogas da Superintendência Regional da corporação ocorreu devido a falhas de servidores. O homem de 52 anos conseguiu, na tarde do último domingo, se desvencilhar das algemas, sair pela lateral do prédio e não ser notado. O plantão na sede da PF contava com quatro agentes, mas apenas um deles ficou responsável pela custódia do preso.

O Correio apurou que esse policial teria se ausentado do local por alguns minutos para buscar uma marmita na portaria, deixando o suspeito sozinho numa sala, que fica a poucos metros do gabinete da delegada de plantão. Ela não percebeu nenhuma movimentação estranha. O suposto criminoso aproveitou a ausência de vigilância, passou por um acesso na lateral do edifício e chegou à parte externa da Superintendência, onde pulou uma grade e escapou. No fim da tarde de ontem, a PF divulgou a imagem e o nome do foragido. Trata-se de José Martins da Silva. Mas os investigadores informaram não saber se o documento que ele portava é verdadeiro.

No mesmo dia, três detentos desapareceram do Complexo Penitenciário da Papuda e, na madrugada de ontem, dois adolescentes pularam a cerca do Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) (leia mais na página 22). O caso da PF intriga a cúpula da corporação, pois muitas perguntas continuam sem resposta. Uma delas é como José Martins se livrou das algemas. O mais provável é que o equipamento não tenha sido ajustado corretamente. Mas não se descarta a hipótese de que ele teve a fuga facilitada ou até mesmo ter quebrado os próprios punhos para se soltar. Essa última possibilidade é considerada remota, tendo em vista que seria praticamente impossível alguém conseguir saltar uma cerca com uma lesão tão grave.

O baixo efetivo de agentes federais no plantão de domingo e a demora em pedir ajuda a outras unidades de segurança podem ter contribuído para o suspeito se distanciar do prédio. A Divisão de Operações Especiais (DOE) e a Divisão de Operações Aéreas (DOA), ambas da Polícia Civil do Distrito Federal, foram acionadas apenas às 14h, quase uma hora e meia depois do sumiço de José Martins.

A Polícia Militar foi avisada ainda mais tarde. O prédio do Comando da Polícia Militar do DF fica a menos de 600 metros do da PF. "Muitos policiais militares ficam de serviço no Setor Policial Sul, que fica ao lado da PF. Eles poderiam ser empregados prontamente nas buscas, mas a PF demorou uma eternidade para fazer a comunicação", disse ao Correio um oficial de alta patente da PM que preferiu não se identificar.

Assim, o comportamento dos servidores escalados no serviço de domingo será alvo da apuração interna. A superintendência quer saber se houve falha no procedimento dos policiais. Ele havia sido encaminhado à Superintendência da PF para que fossem realizados os procedimentos legais de prisão, como o exame de corpo de delito, antes de ser encaminhado à carceragem da PF, no Complexo Penitenciário da Papuda. Porém, antes mesmo de o flagrante ser registrado, o suposto traficante desapareceu. Por esse motivo, a polícia registrou um flagrante indireto, e a Justiça decretou a prisão preventiva dele.

Ontem, helicópteros das polícias Civil, Militar e Federal sobrevoaram o Distrito Federal à procura do foragido. Cães farejadores também foram usados na tentativa de captura do detento, mas, apesar de todo o aparato mobilizado, o suposto traficante não havia sido localizado até o fechamento da edição. Esse é o primeiro caso de fuga da sede da PF registrado em Brasília.

Drogas

José Martins foi preso na manhã de domingo, no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, poucas horas antes de fugir da Superintendência da Polícia Federal. Ele tentava entrar no Distrito Federal com 5,5 quilos de cocaína. Saiu do Acre, sua terra natal, seguiu até Porto Velho, capital de Rondônia e, de lá, tomou um voo para Brasília, onde pretendia distribuir o entorpecente a traficantes da cidade. A PF desconfia que o foragido atuava como "mula", pessoa que recebe dinheiro para transportar substâncias ilícitas. Se condenado pelo crime de tráfico de drogas, ele poderá pegar pena que varia de 5 a 15 anos de cadeia.

A Polícia Federal se manifestou apenas por meio de nota. A corporação limitou-se a divulgar que, após constatada a fuga de José Martins, "foram tomadas todas as providências cabíveis", entre elas o pedido de perícia no local, a apreensão da droga e a lavratura do flagrante do foragido. A polícia pediu ainda que qualquer informação sobre o paradeiro do foragido seja comunicada imediatamente à Polícia Civil, por meio do Disque-Denúncia (197), ou, pessoalmente, na sede da Polícia Federal, que fica no Setor Policial Sul, próximo ao Cemitério Campo da Esperança.

OS ERROS

. José Martins permaneceu sozinho numa sala da Superintendência da Polícia Federal .

. O local fica ao lado da sala da delegada de plantão e deveria ser equipado com uma câmera de segurança, mas o aparelho nunca foi instalado.

. As cercas que protegem a sede da corporação são baixas e não têm arame farpado.

. A PF não tinha efetivo suficiente para iniciar as buscas ao fugitivo logo após detectarem a ausência dele.

. O tempo decorrido para pedir ajuda às polícias Civil e Militar pode ter sido determinante para a fuga de José Martins.