O globo, n. 31128, 28/10/2018. País, p. 7

 

Haddad fica sem Ciro, mas ganha apoio de Barbosa

Catarina Alencastro

Sérgio Roxo

28/10/2018

 

 

Após 15 dias na Europa, candidato derrotado do PDT disse que não vai ‘tomar um lado’ no segundo turno; ex-presidente do Supremo e Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, declararam voto no petista

Com uma bagagem de 13 milhões de voto sede olho em 2022, o candidato derrotado do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse ontem, em um vídeo divulgadonas redes sociais, quen ã ovai“toma rum lado” no segundo turno, frustrando assim a campanha de Fernando Haddad (PT). O petista, por outro lado, recebeu o apoio do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que foi relator do processo do mensalão, e do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, responsável por conduzir as investigações da Lava-Jato.

Ciro chegou ao Brasil na noite de anteontem, depois de passar quase todo o segundo turno na Europa. — Claro que todo mundo preferia que eu, com meu estilo, tomasse um lado e participasse da campanha, mas eu não quero fazer isso por uma razão muito prática que eu não quero dizer agora. Porque, se eu não posso ajudar, atrapalhar é que eu não quero — disse Ciro, no vídeo divulgado ontem. Um dia antes do pedetista voltar ao país, seu irmão Cid Gomes o lançou pré-candidato para a Presidência nas próximas eleições.

— Minha consciência me aponta a necessidade de preservar um caminho, e que a população brasileira amanhã possa ter uma referência para enfrentar os dias terríveis que, imagino, estão se aproximando — disse Ciro, também no vídeo.

Haddad se irrita

Ao chegar para seu último compromisso de campanha, na Favela de Heliópolis, em São Paulo, Haddad comemorou o apoio de Barbosa e se irritou quando perguntado sobre Ciro: —Estou querendo falar de quem até o sábado se manifestou. Para mim, Joaquim Barbosa é a notícia do dia.

Vocês estão querendo transformar uma notícia boa numa ruim. Só colabora com a desgraça nesse país. Logo após o resultado do primeiro turno, Ciro indicou voto contra Jair Bolsonaro (PSL), mas, dias depois, declarou apenas “apoio crítico” a Haddad e viajou.

—Quero que Deus abençoe essa grande nação para que todo mundo possa caminhar

amanhã compreendendo a necessidade de votar com a democracia, contra a intolerância, pelo pluralismo, mas ninguém está obrigado a votar contra convicções e ideologias —disse Ciro, ontem.

O posicionamento do pedetista dividiu seu entorno. Ciro temia que o apoio a Haddad prejudicasse seu projeto de terceira via para 2022. O irmão Cid Gomes puxou a ala do partido que defendeu uma cisão com o PT.

Outra ala, encabeçada pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, defendia o apoio ao candidato do PT, argumentando que o momento atual do Brasil é inédito, com ameaças à democracia.

Já o ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa, atualmente filiado ao PS B, declarou ontem voto em Haddad. . O gesto era esperado há 17 dias, quando os dois se encontraram. “Votar é fazer uma escolha racional. Eu, por exemplo, sopesei os aspectos positivos e os negativos dos dois candidatos que restam na disputa. Pela primeira vez em 32 anos de exercício do direito de voto, um candidato me inspira medo. Por isso,votarei em Fernando Haddad ”, escreveu o ex ministro em uma rede social.

O candidato do PSL rebateu, também em uma rede social, que Barbosa já declarou que “só Bolsonaro não foi comprado pelo PT.” O capitão da reserva postou um vídeo do então ministro do STF no julgamento do mensalão, quando cita a compra de votos para a aprovação de reformas no Congresso. Barbosa reagiu afirmando que o candidato do PSL estava deturpando sua declaração. “Bolsonaro não era líder e nem presidente do partido. Ele não fazia parte do processo do Mensalão. Só se julga quem é parte do processo. Portanto, eu jamais poderia tê-lo absolvido ou exonerado. Ou julgado. É falso, portanto, o que ele vem dizendo por aí", escreveu o ex-ministro.

Ao declarar voto em Haddad, Rodrigo Janot ironizou as acusações de que tinha preferências partidárias durante sua gestão na Procuradoria Geral da República. “Já fui chamado de petista e antipetista. Já fui psdebista e anti também. Houve muita especulação sobre meu interesse eleitoreiro na minha atuação profissional. Nada se comprovou. Agora, não posso deixar passar barato discurso de intolerância e etc. Por exclusão, voto em Haddad", escreveu Janot em uma rede social.