Título: Intermediária ligada a Cachoeira
Autor: Valadares, João; Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 13/06/2012, Política, p. 2

Cheques emitidos para a compra da casa de Marconi Perillo eram da Alberto e Pantoja, e foram pagos nas mesmas datas em que a empresa recebeu repasses da Excitant, próxima à Delta Informações colhidas pela CPI a partir da quebra de sigilo da empresa fantasma Alberto e Pantoja Construções atestam que os três cheques repassados ao governador Marconi Perillo (PSDB-GO) como pagamento pela venda de sua casa, no ano passado, saíram de uma empresa que recebeu dinheiro da construtora Delta. A empreiteira está no centro do esquema Cachoeira. Os cheques, dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil, que entraram na conta do governador, foram emitidos pela empresa de confecções Excitant, de propriedade do sobrinho do bicheiro, Leonardo Augusto Ramos.

O que chama a atenção é que o primeiro cheque, datado de 2 de março, foi compensado em 4 de abril. Nessa data, de acordo com os dados colhidos pela comissão, a Alberto Pantoja transfere R$ 250 mil para a Excitant. O último pagamento entra na conta do governador em 2 de maio. Outra coincidência. Neste dia, a Alberto Pantoja, que já recebeu depósitos da Delta de pelo menos R$ 30 milhões, repassa mais R$ 400 mil para Excitant. Exatamente o mesmo valor do último cheque recebido por Perillo.

Durante o depoimento, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) questionou o governador sobre o assunto. O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) alegou que o fato de as datas das transferências coincidirem com o dia em que os cheques são compensados complica a situação de Marconi Perillo. "Fica evidente que a Delta comprou a casa do Perillo. A situação é complicada. Cachoeira morava nesta mesma casa quando foi preso. A Alberto e Pantoja só existe para receber dinheiro da Delta."

Requerimentos O senador aproveitou a situação para cobrar a votação de 28 requerimentos de quebra de sigilos fiscais, bancários e telefônicos de empresas ligadas à empreiteira Delta. "A CPI só vai avançar quando descobrirmos todas as movimentações financeiras destas empresas", apontou Randolfe.

Pressionado, Perillo fez um mea-culpa e admitiu que não procurou saber qual a empresa que tinha emitido os cheques. "Eu não tinha bola de cristal para saber que ele (o ex-vereador Wladimir Garcez) recorreu aos patrões (pegou dinheiro emprestado com a Delta) para quitar o pagamento. Eu não tive cuidado de olhar o remetente dos cheques. Sinceramente, não sei de quem eram os cheques", repetiu.

Por mais de uma vez, ele fez questão de salientar que a casa não se tratava de uma mansão. "É uma casa com 450 metros quadrados. Os senhores ficam repetindo que é uma mansão, mas não é." No fim do depoimento, o relator, Odair Cunha (PT-MG), informou que analisará se, na próxima reunião administrativa, marcada para a quinta-feira, vai propor a votação de requerimento para quebrar os sigilos fiscal, bancário e telefônico de Perillo. Enquanto o governador tentava se explicar, o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), sentado na última fileira do Senado, ironizava cantarolando a música A casa, de Toquinho e Vinícius de Moraes.

"A CPI só vai avançar quando descobrirmos todas as movimentações financeiras destas empresas" Randolfe Rodrigues (PSol-AP), senador