O globo, n. 31128, 28/10/2018. País, p. 9

 

‘As eleições não estão ganhas’, diz Bolsonaro

Júlia Cople

28/10/2018

 

 

Em transmissão para seguidores na internet, candidato do PSL à Presidência pede para evitar clima de ‘já ganhou’. Deputado afirma que se ‘surpreendeu’ com apoio do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa a Haddad

O candidato à Presidência do PSL, Jair Bolsonaro, pediu a mobilização de seus apoiadores contra o clima de “já ganhou” e ressaltou que a democracia “não está em jogo” nas eleições. O apelo foi feito numa transmissão ao vivo no Facebook, na noite de ontem.

— As eleições não estão ganhas. Não podemos relaxar. Sei que tem gente que tem dificuldade para ir votar. Vai no sacrifício, sai mais cedo para votar. Não vamos dar oportunidade para o outro lado dizer ‘ganhamos’. Em dois dias, não vão virar 20 milhões de votos. Mas nós devemos fazer a nossa parte —disse. —Vamos no caminho hoje ainda, via WhatsApp, mídias sociais, buscar mais voto —completou o candidato. O deputado minimizou as críticas do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que o acusou de ter usado seu nome durante a campanha.

O ex-capitão frisou que uma eventual vitória do adversário, Fernando Haddad (PT), resultaria na volta do esquema de compra de parlamentares desmantelado no mensalão pela Corte e relatado por Barbosa, que anunciou apoio ao petista. Bolsonaro destacou que o ex-ministro fez “um excelente trabalho no STF”, sobretudo ao “botar na cadeia” os petistas José Dirceu e José Genoino.

Surpreso

O deputado disse que se “surpreendeu” com o apoio do jurista ao adversário. Mesmo desautorizado pelo ex-ministro do Supremo Tribunal nas redes sociais, o parlamentar reforçou que foi citado por ele como o único a votar contra a base aliada no mensalão e aproveitou para se desvincular da sigla de Haddad após as críticas de adversário de que teria votado como o partido no Congresso.

— Aí já cai um mito da ‘esquerdalha’ de que eu sempre votei com o PT no passado. Se eu tivesse votado com o PT, eu não seria um exemplo, eu seria réu na ação conhecida como mensalão. Então, a verdade está posta. Nunca tive qualquer contato com o PT, qualquer afinidade. Na transmissão, descrita como a “live da vitória”, Bolsonaro se declarou “escravo da Constituição”.

O parlamentar citou o artigo 85 do texto constitucional para refutara desconfiança sobre sua governabilidade, caso eleito. Na visão do deputado, entregar cargos de ministérios ou estatais a aliados por apoio seria crime de responsabilidade porque violaria a liberdade do Poder Legislativo. Ele se comprometeu a realizar indicações técnicas para as pastas do governo e destacou que a Constituição “é a maior defesa que posso ter para meu mandato”.

Universidades

Bolsonaro ainda comentou a ação de juízes eleitorais que ordenaram a retirada de faixas contra o fascismo em universidades do país por interpretaram haver propaganda político-partidária no material. Após protestos de estudantes e alunos, a ministra do STF Cármen Lúcia suspendeu as decisões. Segundo ele, um apoiador seu que pendurasse uma faixa “corrupção nunca mais” ou “abaixo (Nicolas) Maduro” seria “escorraçado e agredido”. Ele considerou que “a maioria dos universitários são da paz, a minoria é militante que vai para a violência”.

—Quem combateu o fascismo foram os nossos soldados da Força Expedicionária Brasileira. Nós combatemos o fascismo, diferentemente dessa minoria que é PT, que é fascista. Tentam jogar para mim a responsabilidade que não é minha, é deles —ressaltou Bolsonaro, que apareceu na transmissão ao lado de Hélio Bolsonaro, deputado federal eleito no Rio.

Pacificação

O parlamentar destacou que, caso eleito, pretende “pacificar o Brasil”. Por exemplo, segundo ele, acabar com a divisão entre brancos e negros e entre heterossexuais e homossexuais no país. Bolsonaro ressaltou que não conhece “quem defenda a mulher mais” do que ele, ao citar propostas suas no Parlamento como a castração química de estupradores. Bolsonaro voltou a questionar a confiabilidade do processo eleitoral e pediu que seus apoiadores, os “fiscais do Jair”, após o encerramento da votação, se dirijam às zonas eleitores e tirem fotos dos boletins das urnas eletrônicas para que a campanha faça a apuração paralela dos votos.