O globo, n. 31128, 28/10/2018. País, p. 17

 

No Rio, Paes se aproxima de Witzel na reta final

Marco Grillo

Igor Mello

28/10/2018

 

 

Em 10 dias, distância entre o candidato do DEM e o adversário do PSC, que lidera as pesquisas, recuou 16 pontos no Datafolha e 12 na contagem do Ibope; rejeição a ex-prefeito também apresenta queda

As pesquisas de intenção de voto divulgadas ontem mostram o acirramento da disputa pelo governo do Rio. A vantagem do candidato do PSC, Wilson Witzel, sobre seu adversário, Eduardo Paes (DEM), continua caindo e hoje é de seis pontos percentuais (53% a 47% dos votos válidos), segundo o Datafolha, e de oito pontos, de acordo com o Ibope (54% a 46%). Os números levam em consideração os votos válidos, quando brancos, nulos e indecisos são excluídos.

Em um intervalo de dez dias, a distância entre os dois recuou 16 pontos, na contagem do Datafolha, que registrava 61% a 39% a favor de Witzel, e 12 pontos, de acordo com o Ibope, que marcava uma vantagem de 60% a 40% do candidato do PSC na primeira pesquisa do segundo turno.

Os dois levantamentos captaram entre os eleitores a repercussão do debate da TV Globo, que aconteceu na quinta-feira. Paes manteve no encontro a mesma estratégia que tem adotado desde o início da segunda fase da campanha eleitoral: desconstruir o adversário.

O candidato do DEM vem explorando a relação entre Witzel e o advogado Luiz Carlos Cavalcanti Azenha, que ajudou o traficante Nem quando ele tentou escapar de um cerco policial escondido na mala de um carro.

Outra tática usada por Paes é citar um vídeo em que o candidato do PSC aparece explicando a juízes como eles podem fazer uma “engenharia” para acumular uma gratificação mensal de R$ 4 mil. Já Witzel rebate lembrando o depoimento em que o ex-secretário de Obras Alexandre Pinto diz ter ouvido um executivo da Odebrecht relatar um pagamento de propina a Paes e explorando a antiga parceria do adversário com o ex-governador Sérgio Cabral, preso por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

De acordo com o Datafolha, 49% dos eleitores afirmaram ter assistido ao debate. Dentro deste universo, 49% dos entrevistados avaliaram que Paes teve melhor desempenho, enquanto 34% creditaram a vitória a Witzel.

O Datafolha indica uma aproximação mais expressiva entre os dois candidatos. De quinta-feira a ontem, Witzel caiu três pontos, passando de 56%, nos votos válidos, para 53%, enquanto Paes cresceu três pontos, indo de 44% para 47%. Já nos votos totais, Witzel tem 44% (tinha 47% na pesquisa anterior), e Paes ficou com 40% (tinha 37%), no limite do empate técnico com o adversário. Brancos e nulos somaram 9%, enquanto 7% estão indecisos.

Já o movimento registrado pelo Ibope na comparação com a sondagem anterior,

de terça-feira, aconteceu dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Witzel passou de 56% a 54% nos votos válidos, enquanto Paes saiu de 44% para 46%.

Nos votos totais, Witzel tem 45%, uma queda de três pontos na comparação com a pesquisa anterior e de seis pontos em relação ao início da série histórica. Paes manteve os 38% registrados na terça-feira, o que representa quatro pontos a mais na comparação com a primeira sondagem do segundo turno. A proporção de eleitores sem candidato cresceu. A soma de brancos e nulos e indecisos atingia 14% no início da semana e agora chegou a 17% (12% de brancos e nulos com 5% de eleitores que não souberam responder).

Há quatro anos, na véspera da disputa do segundo turno entre Luiz Fernando Pezão e Marcelo Crivella, o índice de eleitores que se diziam sem candidato era de 15% (11% de brancos e nulos e 4% de indecisos).

O Ibope identificou também o aumento da rejeição de Witzel, que era de 18% há dez dias, passou para 22% e agora chegou a 25%. A rejeição a Paes continua em patamar superior à do adversário, mas vem caindo desde o início do segundo turno: era de 48% no primeiro levantamento da série, passou para 46% e agora é de 43%. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Paes comemorou o resultado das pesquisas e demonstrou confiança na vitória para “mudar” o Rio. Witzel não quis comentar os números. Mais cedo, ele havia afirmado que confiava na sua eleição, porque os eleitores querem “acabar com a corrupção”.

No último dia de campanha, os dois candidatos fizeram carreatas e caminhadas em diversos municípios do estado. Paes esteve em Nova Iguaçu e em Duque de Caixas, na Baixada Fluminense, e em bairros da capital, como Santa Cruz, Irajá e Vista Alegre. Já Witzel fez uma caminhada na Saara, no Centro, e participou de atos de campanha em São Gonçalo, Mesquita e Nilópolis.

Na frente da casa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), na Barra da Tijuca, apoiadores de Paes e Witzel fizeram campanha. O candidato do PSC usou como estratégia associar sua imagem à de Bolsonaro, enquanto o ex-prefeito tenta minimizar a ligação afirmando que o ex-capitão está neutro na disputa no Rio.

O candidato à Presidência recebeu ontem a visita do pastor Silas Malafaia, que tem feito campanha para Paes no Rio.

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Na matemática do 2º turno, ex-prefeito atrai esquerda e tentar captar bolsonarismo

Maiá Menezes

28/10/2018

 

 

Na matemática que se redesenhou no segundo turno da campanha do Rio, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) conseguiu, até aqui, herdar votos improváveis da esquerda, contrários ao discurso de militarização de escolas estaduais e de defesa do abate em operações policiais, defendido por Wilson Witzel (PSC). Situação inusitada para um candidato que já teve acirrada disputa contra o PSOL e PT em disputas anteriores.

Se ganhou adesão pragmática de ex-adversários, numa espécie de coro antiWitzel, o ex-prefeito entrou, ao mesmo tempo, em uma equação complexa: manter a esquerda a seu lado e, ao mesmo tempo, acenar explicitamente ao presidenciável do PSL e a seu filho, Flávio Bolsonaro, eleito senador pelo Rio com 4 milhões de votos.

A onda em que surfa Witzel, agora com vantagem reduzida, tem o sobrenome Bolsonaro. É a mesma que mudou de forma consistente o mapa eleitoral do país. A campanha presidencial, que passou longe do primeiro turno, se tornou chave para o desempenho dos candidatos no segundo turno.

Da posição de vidraça e em franca vantagem em relação aos outros adversários na primeira fase da disputa, não restou ao ex-prefeito na segunda etapa outra alternativa além de virar pedra na direção do até então improvável adversário. Reafirmar sua experiência por oito anos como prefeito do Rio, para se contrapor ao ex-juiz Witzel. E tentar “dividir” os Bolsonaros com o adversário.

O outsider Witzel, que chegou gigante ao segundo turno com vinte pontos percentuais de vantagem em relação a Paes já na primeira pesquisa Ibope após o dia 7 de outubro, surge, na véspera da eleição, com oito pontos à frente.

No Datafolha, a diferença é ainda menor: de seis pontos percentuais. Da estratégia programática da primeira fase, em que pontuava nas pesquisas com vantagem confortável e era alvo permanente dos adversários, Paes migrou para uma incansável tentativa de indicar incoerências e repetir acusações contra Witzel, que tinha apenas 27 segundos no horário de TV no primeiro turno.

O ex-prefeito tinha dez vezes mais: 3 minutos e 44 segundos. O ex-juiz passou grande parte do tempo no jogo de ataque e defesa. E reafirmando o duro discurso na Segurança Pública. Diante do caos em que vive o estado, o bolsonarismo varreu discussões densas sobre temas que vêm trazendo agonia ao Rio.

As urnas dirão se a estratégia de Paes fechará de vez a “boca de jacaré”, jargão para a diferença de votos entre adversários, e comandará o Guanabara. Ou se será do outsider a missão de tirar o Rio da tempestade perfeita que vive há dois anos.