O globo, n. 31125, 25/10/2018. País, p. 4

 

Recuo estratégico

Bernardo Mello

Rayanderson Guerra

25/10/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

Sob pressão, Bolsonaro reavalia proposta de unir Agricultura com Meio Ambiente

A proposta de fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, defendida por Jair Bolsonaro (PSL), pode ser revista em caso de uma eventual vitória nas urnas. O recuo foi ensaiado, ontem de manhã, pelo presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Nabhan Garcia, após liderar uma visita de empresários do agronegócio a Bolsonaro. Mais tarde, o candidato do PSL avaliou que há um “ruído” e afirmou que ainda estuda a melhor solução.

A fusão foi reavaliada depois que setores do agronegócio e ambientalistas fizeram alertas sobre o impacto da proposta. Os primeiros reconhecem possíveis prejuízos em negociações internacionais, que levam em conta práticas ambientais dos países exportadores, enquanto o segundo grupo entende que a medida prejudica o controle do desmatamento. A união das duas pastas faria parte do plano para reduzir de 29 para 15 o número de ministérios.

Durante a campanha, Bolsonaro voltou atrás em propostas controversas e adotou tom mais ameno na reta final para driblar temas sensíveis. Em meio a declarações polêmicas de aliados e sugestões rechaçadas por setores do mercado ou por movimentos sociais, o presidenciável avaliou que é hora de “parar de ter ideias” e se colocar em “ponto morto”. Ontem à noite, durante transmissão ao vivo no Facebook, Bolsonaro acenou com uma solução conciliadora para Agricultura e Meio Ambiente.

— Está havendo um certo atrito agora sobre a fusão, ou não, do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente. De minha parte, estou pronto para negociar. Falei para o pessoal do agronegócio que isso era importante, e eles concordaram. Alguns, agora, estão discordando. Vamos chegar ao meio-termo —afirmou.

Nabhan, um dos cotados para assumir a Agricultura, tratava a fusão como “muito positiva” quando chegou ao encontro com Bolsonaro, pela manhã. Ao sair da residência na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, o ruralista falou em “rever essa questão da fusão entre as pastas”.

— Se tiver que funcionar Agricultura aqui, Meio Ambiente lá, tudo bem. Vai valer a vontade da maioria da sociedade —disse Nabhan.

Em carta aberta publicada na última semana, organizações como Instituto Ambiental, SOS Mata Atlântica e WWF alertaram que uma subordinação do Meio Ambiente à pasta da Agricultura “geraria conflitos de interesses insuperáveis” e deixaria a proteção ambiental exposta a “danos irreversíveis”.

Assessores e conselheiros de Bolsonaro avisaram, por outro lado, que esta mudança pode trazer dificuldades para o comércio internacional. Por conta disso, até integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que podem indicar nomes para o Ministério da Agricultura, teriam desaconselhado a fusão.

O atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que declarou voto em Bolsonaro no segundo turno, foi outro a se mostrar cético sobre a viabilidade da fusão, que traria para a pasta temas pouco relacionados à produção agrícola, como licenciamento de poços de petróleo.

Em entrevista ao GLOBO, no último domingo, o climatologista Carlos Nobre explicou que a tendência mundial é não comprar produtos oriundos de desmatamento.

— Mais de 150 dos maiores fundos do mundo, que investem no setor de produção de alimentos, já se comprometeram com inciativas de princípios éticos. Facilitar a expansão agrícola com desmatamento é atacar a economia — explicou Nobre.

Em seu pronunciamento à noite, após gravar programas eleitorais, Bolsonaro afirmou que, se mantiver os dois ministérios separados, colocará no Meio Ambiente “alguém que não tem vínculo com o que há de pior nesse meio”.

— O coitado do agricultor leva dez anos para conseguir licença ambiental. Vamos preservar meio ambiente? Vamos. Mas não atrapalhar a vida de quem quer produzir no Brasil.

Bolsonaro também tem acenado com alterações em algumas de suas propostas históricas, como a redução da maioridade penal. O plano de governo defende a redução para 16 anos, enquanto a maioridade aos 18 anos está prevista na Constituição, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no Código Penal. Prevendo dificuldades na aprovação de sua proposta, Bolsonaro já estuda uma redução progressiva e a fixação da idade mínima em 17 anos.

O presidenciável ainda tem feito recuos sobre propostas de aliados. Discursos do general Hamilton Mourão sobre uma nova Constituição e o 13º salário, por exemplo, foram desautorizados.

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Fraga se lança ministro, mas campanha não respalda

Catarina Alencastro

Jussara Soares

25/10/2018

 

 

Líder da bancada da bala afirma que será chefe da coordenação política, porém missão deve ser exercida por Onyx Lorenzoni

Após reunir mais de 30 deputados da chamada bancada da bala na casa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) afirmou ontem ao GLOBO que o candidato deseja que ele seja ministro das Relações Institucionais, caso vença a disputa do próximo domingo. Fraga, que é amigo de Bolsonaro há mais de 37 anos, ficará sem mandato no ano que vem.

— Ele (Bolsonaro) disse, claramente, que quer que eu fique responsável pela relação com o Congresso. Ele sabe que eu tenho ótima relação com o Congresso. Ontem (terça-feira), ele ficou chocado de eu ter levado 32 deputados à casa dele, ninguém tinha conseguido levar mais do que oito. Ele disse: ‘O Fraga vai ser o coordenador das bancadas’ —contou.

Os dois foram da mesma turma na Escola de Educação Física do Exército, no Rio, em 1981. Fraga é coronel da PM e concorreu ao governo do Distrito Federal, mas ficou em sexto lugar no primeiro turno, com 5,8% dos votos. Ele é do mesmo partido que o deputado Rodrigo Maia (DEMRJ), que tentará se reeleger presidente da Câmara no ano que vem.

A cúpula da campanha de Jair Bolsonaro, porém, nega que tenha ocorrido um convite a Fraga. A declaração na terça-feira, disse um aliado do candidato, foi em tom de brincadeira, quando o presidenciável do PSL afirmou: “Já anuncio aqui quem vai coordenar a bancada lá no Planalto” —comentário seguido de gargalhadas.

Em um eventual governo Bolsonaro, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEMRS), que fez a articulação política da candidatura, seguirá com a missão de negociar com o Congresso como ministro-chefe da Casa Civil. Lorenzoni foi confirmado para a pasta, assim como Paulo Guedes para a Economia, e general Augusto Heleno para a Defesa.

Outro nome que, segundo Bolsonaro, está “quase confirmado” é o do astronauta Marcos Pontes para Ciência e Tecnologia.

“Ele disse, claramente, que quer que eu fique responsável pela relação com o Congresso. Ele sabe que eu tenho ótima relação com o Congresso”

Alberto Fraga (DEM-DF), deputado federal