Título: Eduardo Campos perde a paciência com o PT
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 13/06/2012, Política, p. 7

Presidente do PSB estuda acabar com a aliança no Recife e lançar nome próprio na disputa pela prefeitura local. Apesar do conflito, apoio aos petistas em São Paulo será formalizado

O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos — que deve anunciar até o fim desta semana o apoio de seu partido ao candidato petista à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad — deu ontem uma demonstração explícita de que está no limite da paciência com o PT pernambucano e poderá, inclusive, lançar um nome do PSB ou apoiar candidatos de outras siglas da Frente Popular para a disputa no Recife. No fim da semana passada, Campos desincompatibilizou quatro secretários estaduais e as opções mais viáveis para a candidatura própria são Danilo Cabral, ex-secretário de Cidades, e Geraldo Júlio, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, responsável pelos principais prêmios de gestão vencidos pelo governo de Pernambuco — Geraldo Júlio é o nome mais cotado, considerado a "Dilma de Eduardo Campos".

A ameaça preocupou o pré-candidato do PT à Prefeitura do Recife, senador Humberto Costa. Ele simplesmente abandonou o depoimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), na CPI do Cachoeira, a fim de viajar a São Paulo para se reunir com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Depois de um encontro a portas fechadas, ficou decidido que Lula atuará mais diretamente no Recife, tentando juntar as partes de uma legenda que esfarela a olhos vistos.

Lula também deve aproveitar o encontro que terá com Eduardo Campos, na sexta. O governador pernambucano vai a São Paulo para anunciar, oficialmente, que o PSB estará ao lado de Haddad e deve, inclusive, indicar a deputada federal Luiza Erundina como vice na chapa. Entretanto, dificilmente Lula conseguirá mudar os planos de Campos de lançar um candidato próprio no Recife. Eles se falaram por telefone no domingo, na segunda e ontem. "Lula sabe a posição do governador, ele não está agindo de maneira escondida", disse um integrante da máquina partidária.

Durante entrevista após evento econômico em Pernambuco ontem, o governador disse que a situação chegou a um ponto muito além do que os integrantes da Frente Popular esperavam. "Chegou aos prazos legais de desincompatiblização (dos secretários estaduais). Ninguém esperava que se chegasse até aí", disse Campos. "Para ter unidade, é preciso estar unido dentro de casa. E o PT não está."

Ovos

Essa unidade interna está longe de acontecer. Preterido pela Executiva Nacional, o atual prefeito, João da Costa (PT) recorreu ao Diretório Nacional. O grupo terá até o fim deste mês — de preferência antes dos prazos de convenções partidárias — para responder o impasse. Dificilmente dará razão ao prefeito, já que a escolha de Humberto Costa foi uma costura conduzida por Lula e imposta à Executiva Nacional. "Não tem problema. A única coisa que podemos dizer é que, se o nosso grupo for a um comício de Humberto, será para jogar ovos nele", disse o deputado Fernando Ferro (PE), aliado do prefeito João da Costa.

O senador Armando Monteiro (PTB-PE), que conduz a construção de uma candidatura alternativa no Recife, ainda aguarda para um acerto entre o PSB e o PT. "A Frente, se mantida, é imbatível. Mas precisamos esperar os desdobramentos. O grande eleitor do Recife ainda é o governador Eduardo Campos", disse Monteiro. O grupo tem três opções de nomes como candidatos: os deputados federais Eduardo da Fonte (PP), Carlos Cadoca (PSC), Paulo Rubem Santiago (PDT) e o deputado estadual Silvio Costa Filho (PTB).

Se em Pernambuco o cenário caminha para o abismo, em Fortaleza, o trem já descarrilou. Insatisfeito com o nome de Elmano Freitas (PT), ex-secretário municipal de Educação, o governador Cid Gomes (PSB) anunciou que está rompendo uma aliança entre o PSB e o PT que remonta a 2004. As opções são Fernando Feitoza, responsável pelas obras da Copa no estado; Roberto Cláudio, presidente da Assembleia Estadual; e o vereador Salmito Filho, ex-presidente da Câmara Municipal de Fortaleza.

"Para ter unidade, é preciso estar unido dentro de casa. E o PT não está" Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB

"Não tem problema. A única coisa que podemos dizer é que, se o nosso grupo for a um comício de Humberto Costa, será para jogar ovos nele" Fernando Ferro, deputado federal e aliado de João da Costa, sobre a possibilidade de o Diretório Nacional do PT barrar a candidatura do atual prefeito do Recife