O globo, n.31112 , 12/10/2018. País, p.6

Bolsonaro admite faltar a debates por estratégia

Marco Grillo

Jussara Soares

 

 

 

Candidato reconhece que pode evitar encontros ainda que seja liberado pelos médicos e chama Haddad de ‘fantoche’

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, admitiu ontem, pela primeira vez, a possibilidade de não comparecer aos debates no segundo turno por questões de estratégia política, mesmo que seja liberado pelos médicos para participar dos encontros. Adversário do capitão da reserva, Fernando Haddad (PT) tem cobrado a participação de Bolsonaro, mas a equipe médica, que o acompanha desde a facada recebida no dia 6 de setembro, desaconselhou a presença no último debate do primeiro turno, na TV Globo, e no evento que fora agendado para ontem, na Band.

— Existe a possibilidade sim, por estratégia (de faltar aos debates). Estou vendo o Haddad desafiando agora: ‘Quero que você diga o que fez em 28 anos no Parlamento’. Eu responderia para ele: ‘Não roubei ninguém, Haddad’ —disse Bolsonaro.

Inicialmente, a coordenação de campanha do PSL trabalhava com a possibilidade de o candidato ir a dois encontros no segundo turno: os organizados pela Record e pela Globo, que seriam na última semana antes da eleição.

O candidato do PSL ainda ironizou a mudança de logotipo da campanha adversária, que trocou o vermelho do PT pelo verde e amarelo da bandeira brasileira. Bolsonaro chamou Haddad de “camaleão” e “pau-mandado”, ao citar as visitas do petista ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.

—Vou debater com um cara (Haddad) que nem poste é. É fantoche e pau-mandado, age como camaleão. Eu vi o Haddad falando em família, em Deus. Eu fico com vergonha. Ele está cumprindo à risca o que o Lula manda ele falar: ‘Haddad não é de esquerda, Haddad é de direita’. Haddad agora quer posse de arma de fogo. Bem-vindo. Tomara que ele tenha sido curado de verdade, não só por um tempo. Dizem que bandido não se aposenta, tira férias. Haddad está de férias.

O candidato do PSL participou de uma entrevista coletiva que durou 30 minutos em um hotel na Barra da Tijuca, Zona Sul do Rio. Antes do encontro com os jornalistas, ele se reuniu com a bancada federal eleita pelo PSL. Havia uma expectativa de que o encontro reunisse cerca de parlamentares eleitos por outras legendas e que pudessem compor a base do eventual governo, mas a reunião ficou restrita aos nomes do PSL. Questionados sobre a ausência de políticos de outros partidos, integrantes da campanha citavam o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o senador Magno Malta (PR-ES), derrotado nas urnas, e o senador eleito pelo Rio, Arolde de Oliveira (DEM).

Militantes e parlamentares do PS Lestavam na mesma sala dos jornalistas e vaiaram quando houve o anúncio de que o jornal “Folha de S. Paulo” faria uma pergunta. O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, pediu que a hostilidade fosse interrompida. No início do discurso, antes de os questionamentos começarem, Bolsonaro se declarou favorável à liberdade de imprensa.

—Vamos, sim, garantira liberdade de imprensa. Conosco não te maquela história de controle social da mídia. Ou democratização da mesma. Meus amigos, queremos realmente que vocês sejam independentes. E tenham responsabilidade em tudo aquilo o que escrevem.

No encontro fechado com os parlamentares, ele pediu aos aliados para evitarem contato com os jornalistas. Bolsonaro fez um apelo para que tenham “muito cuidado para conversar coma mídia ". Disse ainda que muitos jornalistas “não querem fazer uma matéria isenta, querem arrumar um amane irade pega ruma escorregada param e atacar ".