O globo, n.31112 , 12/10/2018. RIO, p.10

Bancada da bala

Antônio Werneck

Ludmilla de lima

Nelson Lima Neto

Selma Schmidt

 

 

“Vamos varrer o PSOL, o PCdoB e o PT da Alerj. Vai ser bala anoque vem ”. Com gesto de arma na mão, ainda em campanha para deputado estadual pelo PSL, Rodrigo Amorim já adiantava, em vídeo que caiu nas redes sociais, no mês passado, o clima beligerante que marcará anova Legislatura fluminense, a partir de 2019. Deputado mais votado do Rio, ele é advogado, mas seu discurso está alinhado a oque deverá sera maior “bancada da bala” do estado de todos os tempos.

Serão 12 nomes ligados aforças de segurança, P Ms, policiais civis ou militares, quando nesta Legislatura eram sete. Metade deles é do PSL que também será abancada mais numerosa, com 13 deputados. Desses, quatro são PMs, um policial civil e a única mulher da legenda, Alana Passos, és argento do Exército.

O PSL vai levar para o debate propostas conservadoras e até radicais para a segurança. Entre elas, algumas já estão prontas para entrar na ordem do dia, como o incentivo à compra de armas, caso sejam liberadas por lei federal — prevendo até taxa zero de ICMS para alavancar a indústria bélica e estimular as vendas — e tratamento diferenciado para policiais que matam em serviço, o que passaria a ser tratado como legítima defesa.

Para o cientista político Eurico de Lima Figueiredo, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF, esse discurso é perigoso porque estimula confrontos. Ele alerta os novatos — 36 dos 70 eleitos vão cumprir o primeiro mandato — que a resposta para a radicalização pode ser mais violência:

— Há um fator de imprevisibilidade na renovação da Alerj. Há os que não têm traquejo parlamentar e não passaram por um processo de socialização em que o grito tem que dar lugar ao diálogo.

Procurado para comentar as imagens em que promete “bala” no ano que vem, Amorim —o mesmo que destruiu uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco —disse não se recordar das imagens, mas não negou que pretende “endurecer” com os partidos de esquerda por considerá-los nocivos ao Rio e ao país.

—Vamos varrer no campo ideológico — promete, dando outra característica da bancada: seguir as determinações de Flávio Bolsonaro, eleito para o Senado. — Sou soldado disciplinado do Flávio Bolsonaro. Minha missão é dar continuidade ao legado dele. Defendo o viés conservador e de direita.

Embora não seja policial, Alexandre Knoploch (PSL), microempresário e presidente da Associação de Tijuca, é o autor da ideia de reduzir tributos para armamento, já dando como quase certa a liberação dou sode armas. Ele também avalia desonerara blindagem de carros.

— Para nós, arma é proteção — diz ele, que pratica tiro esportivo. — Não sou policial para dizer como a polícia deve trabalhar. Mas digo que ela precisa de respeito, respaldo e recurso.

Soldado da reserva da PM, Marcelo do Seu Dino (PSL) defende que parte dos impostos vá para as polícias:

— Não se trata de criar imposto, mas de destinar uma parte de um já existente para equipar as polícias, que hoje usam material ultrapassado.

Para Doutor Serginho (PSL), a lei deve ser mudada porque o policial hoje vive com “receio” de ser punido:

— Mesmo quando age em legítima defesa, ele responde a processo. Isso restringe a atuação do policial.

Sargento reformado da PM, Vandro Lopes Gonçalves (Solidariedade), 41 anos, chega à Casa tentando apagar uma mancha do currículo: em abril de 2012, foi preso acusado de integrar milícia em Magé, na Baixada, onde hoje é vice-prefeito. Chegou a passar três meses preso, mas o processo foi extinto. Vandro é ficha limpa.

—Meu foco será a segurança pública e defender os bons policiais, sejam eles civis ou militares —disse.

São da “bancada da bala”: Fernando Salema, Gil Vianna, Sargento Alana Passos, Renato Zaca, Marcelo do Seu Dino, Márcio Guarberto (PSL); delegada Martha Rocha (PDT); Delegado Carlos Augusto (PSD); Subtenente Bernardo (PROS); Marcos Abrahão (Avante); Marcos Muller (PHS); e Vandro Família (Solidariedade).