O Estado de São Paulo, n. 45660, 22/10/2018. Política, p. A6
Filho de Bolsonaro fala em vídeo sobre fechar o Supremo
Roberta Jansen e Constança Rezende
22/10/2018
Eleições 2018 Campanha / Deputado federal, Eduardo Bolsonaro diz que bastaria mandar ‘um soldado e um cabo’; ministro do STF cobra ‘respeito pelas instituições’
Em vídeo gravado em 10 de julho, antes do primeiro turno das eleições, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSLSP), filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), disse que, para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF), “basta um soldado e um cabo”. Ele afirmou ainda que, se o STF impugnasse a candidatura de seu pai, teria “de pagar para ver o que acontece”.
O vídeo foi feito durante aula em um curso preparatório para provada Polícia Federal, em Cascavel( PR ). Foi o próprio curso que divulgou o vídeo em sua página. A resposta do deputado veio após o questionamento de alunos sobre o que ocorreria caso a candidatura de Bolsonaro fosse impugnada.
“O STF vai ter de pagar para ver. E aí, quando ele pagar para ver, vai ser ele contra nós. Você está indo para um pensamento que muitas pessoas falam e muito pouco pode ser dito. Mas, se o STF quiser arguir qualquer coisa,... recebeu uma doação ilegal de R$ 100 do José da Silva e, então, impugna a candidatura dele... Não acho isso improvável, não”, disse ele, para acrescentar: “Mas, aí, vai ter de pagar para ver. Será que eles vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca lá: se quiser fechar o STF, você sabe o que faz. Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Sem querer desmerecer o soldado e o cabo”.
Em entrevista, no Rio, JairBol sonar o disseque desconhecia o teor do vídeo. “Isso não existe, falar em fechar o STF. Se alguém falou em fechar o STF, precisa consulta rum psiquiatra”, afirmou o candidato.
No fim do dia, o próprio Eduardo – que foi o deputado federal mais votado no País, com 1,7 milhão de votos – usou as redes sociais para dizer que “tranquilamente” pedia desculpas pelas declarações. “Se fui infeliz e atingi alguém, tranquilamente peço desculpas e digo que não era a minha intenção”, escreveu. “Eu respondi a uma hipótese esdrúxula, onde Jair Bolsonaro teria sua candidatura impugnada pelo STF sem qualquer fundamento. De fato, se algo desse tipo ocorresse, o que eu acho que jamais aconteceria, demonstraria uma situação fora da normalidade democrática. Na sequência, citei uma brincadeira que ouvi de alguém na rua.”
Reação. Ao responder sobre o caso, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também ministra do STF, Rosa Weber, disse que juízes não se deixam abalar por manifestações inadequadas. Já o ministro Marco Aurélio Mello falou em “tempos estranhos”. “Tempos estranhos, vamos ver aonde é que vamos parar. É ruim quando não se tem respeito pelas instituições pátrias, isso é muito ruim.”
Em sua conta no Twitter, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu que as declarações do deputado merecem o “repúdio dos democratas” e “cheiram a fascismo”. Já o candidato petista Fernando Haddad , em campanha em São Luís (MA), comparou a família Bolsonaro a “um grupo de milicianos”.