Título: O alerta de Lagarde
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Fonte: Correio Braziliense, 13/06/2012, Economia, p. 12

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, pediu ontem que autoridades europeias adotem "medidas decisivas" para lidar com a crise financeira da região. Em um discurso para a conferência Rio+20, a ser realizada no Rio de Janeiro entre 20 e 22 de junho, Lagarde afirmou que a estabilidade econômica e financeira é decisiva para lidar com os desafios ambientais do mundo. "Precisamos de uma estratégia que seja boa para a estabilidade e boa para o crescimento — onde a estabilidade leve ao crescimento e o crescimento facilite a estabilidade", disse ela em evento no Centro para Desenvolvimento Global em Washington.

O discurso de Lagarde, que chegou ao FMI apoiada pelo ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, marca uma mudança estratégica de posição ao falar de crescimento, tese defendida pelo atual presidente francês, François Hollande. "Isso tem que começar com economias avançadas, especialmente na Europa. Autoridades precisam adotar medidas decisivas para se livrarem da crise", completou Lagarde. A crise da Zona do Euro intensificou-se no mês passado, com investidores temendo a possibilidade de a Grécia deixar o bloco monetário. As eleições marcadas para 17 de junho serão decisivas.

A União Europeia concordou no sábado em emprestar 100 bilhões de euros para resgatar bancos espanhóis. Lagarde disse que era fundamental que os governos em economias avançadas esbocem planos confiáveis de médio prazo para diminuir a dívida pública. Sem tal plano, os países podem ser forçados a fazer ajustes maiores em breve, segundo ela.

O empréstimo de até 100 bilhões de euros aos espanhóis não será barato. Enquanto o mercado especulava sobre taxas anuais de 3% ao ano, com reembolso de 10 a 15 anos, o vice-presidente da Comissão Europeia, Joaquín Almunia, disse ontem que a Espanha cobrará pelo menos 8,5% das instituições resgatadas. A razão disso está nos estatutos do bloco.

Socorro Almunia explicou que a ajuda pedida por Madri para sanear seu sistema financeiro é tida como "investimento" do Estado. Se os bancos socorridos voltarem ao azul, o Estado ganhará dinheiro. Caso contrário, terão prejuízo. A Espanha concluiu no sábado com seus sócios europeus acordo para um plano de ajuda a seus bancos, alguns dos quais atravessam graves dificuldades devido à exposição ao setor imobiliário. O pedido de socorro deve ser entregue formalmente até 21 de junho.

Antes disso, as tensões continuam em alta. Ontem, a agência norte-americana de classificação de riscos Fitch decidiu por rebaixar simultaneamente a nota da dívida de longo prazo de 18 bancos espanhóis, um dia após ter cortado em dois graus a classificação dos dois maiores grupos do país, BBVA e Santander. A agência prevê aumento do nível geral de endividamento mesmo com o socorro.

Diante das incertezas sobre o plano de ajuda aos bancos espanhóis e sobre as eleições gregas, as principais bolsas europeias encerraram os pregões de ontem em leve alta, à exceção de Milão. Londres subiu 0,76%, Frankfurt terminou em alta de 0,33% e Paris obteve ganho de 0,14%.

Para o Banco Central Europeu (BCE), o auxílio financeiro do bloco ajudará a estabilizar a Espanha e o próprio euro.