O globo, n. 31124, 24/10/2018. País, p. 10

 

Petista reclama da ausência de Ciro no 2º turno

Fernanda Krakovics

Bernardo Mello

24/10/2018

 

 

Em sabatina, Haddad diz que esperava outra atitude do pedetista, que viajou: ‘Lamento muito ele não permanecer no Brasil, sobretudo neste momento’ Bolsonaro foi convidado, mas não respondeu se vai conceder entrevista

Na sabatina promovida pelos jornais O GLOBO, Extra, Valor Econômico e revista Época, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, reconheceu erros no escândalo de corrupção na Petrobras, revelado pela Lava-Jato, mas defendeu o ex-presidente da empresa José Sérgio Gabrielli, atualmente coordenador-geral de sua campanha.

Em desvantagem nas pesquisas, Haddad criticou o ex-adversário Ciro Gomes (PDT), que viajou para a Europa e não se engajou na campanha, mesmo com “apoio crítico”.

A entrevista foi mediada pelo colunista Lauro Jardim, com participação de de Ancelmo Gois, Ascânio Seleme, Bernardo Mello Franco, Daniela Pinheiro e Maria Cristina Fernandes.

Até a noite de ontem, Bolsonaro não respondeu se vai conceder entrevista.

‘Acho que na Petrobras falhamos’

Haddad disse que, no caso da Petrobras, os controles anticorrupção falharam. Mas o petista defendeu indicações políticas para cargos no governo:

— Nenhum presidente nomeia ninguém sem passar por comitês (do governo). Às vezes falha, aí você tem que redobrar a vigilância. Acho que na Petrobras falhamos.

O presidenciável defendeu, no entanto, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras e atual coordenador-geral de sua campanha:

—Ele não está respondendo por absolutamente nenhum desvio de recurso, nem inquérito. O Gabrielli não foi delatado por absolutamente ninguém.

O ex-presidente da Petrobras foi citado na colaboração do ex-ministro Antonio Palocci. Em meados de 2010, segundo Palocci, ele participou de uma reunião com o então presidente Lula, a então ministra Dilma Rousseff e Gabrielli na biblioteca do Palácio da Alvorada. O assunto eram os contratos de exploração do présal. Lula, segundo o ex-ministro, teria falado abertamente do propósito de desviar dinheiro da estatal para financiar a campanha de Dilma.

Sobre ataques a Marina em 2014, a culpa é do João

Um dia depois de receber o apoio da candidata derrotada da Rede, Marina Silva, Haddad fez um mea culpa sobre os ataques feitos pelo PT a ela na eleição de 2014, mas atribuiu a responsabilidade ao marqueteiro João Santana. Na ocasião, a campanha de Dilma tachou Marina como defensora dos interesses dos bancos, devido à presença em sua equipe da educadora Neca Setúbal, acionista do Itaú.

— Isso foi um erro. E, para ser honesto, eu liguei pessoalmente para o João Santana, porque havia o rumor de que isso seria efeito. Eu perguntei: “Vocês não vão fazer isso, né?”. Ele respondeu que não. E fez — disse o presidenciável do PT.

Erro estratégico e a surpresa com o WhatsApp

Haddad afirmou que sua campanha foi surpreendida pela disseminação de conteúdos pró-Bolsonaro e anti-PT em grupos de WhatsApp. Ele fez referência a uma reportagem publicada na “Folha de S. Paulo”, na última quinta-feira, apontando suposto pagamento ilegal, por parte de empresas, de disparos de mensagens contrárias ao PT:

— Entendo que cometemos um erro estratégico porque não pensamos que eles iriam usar o expediente do WhatsApp para obter financiamento ilegal de campanha. O que aconteceu no primeiro turno, e pode acontecer nesta semana, é o novo caixa 2. Estão driblando o velho caixa 2 e criando um novo mecanismo.

Haddad citou como exemplo de mobilização por meio do aplicativo de celular as eleições de Minas e do Rio, segundo e terceiro maiores colégios eleitorais do país. Para o presidenciável, essa seria a principal razão para que dois candidatos praticamente desconhecidos — Romeu Zema (Novo) e Wilson Witzel (PSC) —tenham crescido exponencialmente na reta final do primeiro turno e ido para a segunda etapa na liderança. Os dois colaram suas imagens à de Bolsonaro.

—As fake news no Rio e em Minas fizeram toda a diferença na eleição estadual. E esses dois estados explicam 80% da diferença que me separa do meu adversário — sustenta Haddad.

Tentando entender a ascensão de Bolsonaro

Embora insista que a disseminação de notícias falsas seja o maior impulso eleitoral do adversário, Haddad reconheceu que erros do governo Dilma estimularam Bolsonaro.

— Para mim, equivale à queda de um avião. Quando um avião cai, você vai ver: Foi o manete? Foi a pista? Foi o piloto? Não é só uma coisa que explica o Bolsonaro.

Após comentar a declaração do deputado Eduardo Bolsonaro, que falou na possibilidade de fechar o STF, Haddad foi questionado sobre afirmação semelhante do deputado federal petista Wadih Damous. Disse, no entanto, que não se lembrava da fala do aliado.

Lamento pela viagem de Ciro Gomes

Haddad lamentou o “apoio crítico” e a falta de engajamento do candidato derrotado do PDT, Ciro Gomes, em sua campanha. O pedetista viajou para a Europa neste segundo turno:

—Eu lamento muito o Ciro não permanecer no Brasil, sobretudo neste momento. Não é uma questão qualquer que está em jogo no Brasil de hoje, e ele sabe disso. Haddad disse que nunca teve a expectativa de que o PSDB o apoiaria.

Pacote de bondades para aquecer economia

Assim como foi feito no governo Lula, o candidato do PT defendeu o estímulo ao consumo das famílias como forma de aquecer a economia e de gerar empregos. Ele defendeu aumento de 20% do Bolsa Família e reajuste do salário mínimo acima da inflação:

— A população mais pobre, que paga muito imposto sobre consumo, tem que ter um tipo de compensação, e a transferência de renda, na minha opinião, é a melhor maneira de fazer isso. Já o Bolsa Família é um elemento de recuperação econômica importante.

Privatizações fora dos planos petistas

O candidato do PT afirmou que, se eleito, privatizações não estão “em seu radar”. Ele disse, no entanto, que esse posicionamento não se deve a questões ideológicas:

— Não está no meu radar (privatizações). Não tenho problema com isso, não sou uma pessoa dogmática. Em São Paulo organizei processo de privatizações e concessões.

Polícia Federal na segurança pública

Haddad disse querer dobrar o efetivo da Polícia Federal:

—A PF tem toda condição de assumir novas responsabilidades e os resultados vão acontecer em pouquíssimo tempo, em um ou dois anos.

O petista também falou sobre punições não só a corruptos, mas para corruptores:

—Ninguém é contra prender empresário corrupto. Se eu for eleito, o corruptor vai ter a pena agravada.