O globo, n. 31124, 24/10/2018. País, p. 15

 

STF pede investigação de ameaças a Rosa Weber

Carolina Brígido

24/10/2018

 

 

Em vídeo, coronel Carlos Alves, engenheiro militar da reserva que teve a identidade confirmada pelo Exército, diz que vai ‘derrubar’ ministros do TSE caso a candidatura de Jair Bolsonaro seja cassada por crime eleitoral

Comando do Exército afirmou ter pedido apuração do Ministério Público Militar

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou ontem, por unanimidade, requerimento para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) investigue vídeo que circula na internet com ameaças à presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, e a outros ministros.

Na gravação, um homem, que se apresenta como coronel Carlos Alves, ameaça “derrubar” ministros do TSE caso a candidatura do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) seja cassada por crime eleitoral.

O Exército confirmou a identidade e disse que Alves é engenheiro militar da reserva. À TV Globo, o Comando do Exército informou ter pedido investigação do caso ao Ministério Público Militar.

Logo no início da sessão, o ministro Celso de Mello, o mais antigo integrante do tribunal, fez um discurso duro defendendo os colegas do “ódio visceral” e da “intolerância” manifestados no vídeo, que veio à tona logo após a polêmica provocada pelas afirmações feitas por Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável, que falou, em gravação feita há quatro meses, em “fechar o STF”.

—Exteriorizaram-se palavras grosseiras e boçais, próprias de quem possui reduzido e tosco vocabulário. Faz lembrar personagens patéticos que optam por manifestar ódio visceral e demonstrar intolerância dos que consideram inimigo, com incapacidade de conviver em harmonia — disse o decano do tribunal.

Para o ministro, a fala do homem é um “ultraje inaceitável” ao STF. No vídeo, o suposto militar chama a presidente Rosa Weber de “salafrária” e coloca em xeque a competência da Justiça Eleitoral.

“Se aceitarem essa denúncia ridícula e derrubarem Bolsonaro por crime eleitoral, nós vamos derrubar vocês aí, sim”, disse, no vídeo, o homem que se diz militar.

No mesmo vídeo, o homem exige que o TSE promova “eleições limpas”. Ele também diz que, ao contrário das pesquisas de opinião tradicionais, Bolsonaro vencerá as eleições com 80% a 90% dos votos.

O ministro Gilmar Mendes defendeu a idoneidade do sistema eletrônico de votação e disse que esse tipo de declaração só se insere em tentativas de desestabilizar as eleições.

— Não há razão para qualquer suspeita em relação ao sistema eleitoral adotado. Precisam encerrar de vez com essa questão. Mas porque tentar gerar suspeita sobre processo? Se quer criar ambiente de terror, de suspeita, se os resultados não alcançarem a expectativa. Trata-se de crime de lesa-pátria, de lesa-democracia. Isso se trata de vilipêndio, um crime contra a democracia do Brasil —disse Mendes.

Os demais integrantes da Segunda Turma também manifestaram solidariedade aos colegas do TSE.

—A transmissão a que ele se refere a todos nós, não apenas traz perplexidade, mas indignação, uma vez que os ministros ali mencionados são exemplares. Tudo o que atinge um de nós, atinge todo o tribunal como instituição— afirmou Cármen Lúcia.