O globo, n. 31123, 23/10/2018. País, p. 7

 

Temer já costura transição com Bolsonaro

Leticia Fernandes

Jussara Soares

Eduardo Bresciani

23/10/2018

 

 

Antes mesmo do segundo turno, auxiliares do presidente e da campanha de capitão da reserva iniciam troca de informações para sucessão; gabinete está montado, e Eliseu Padilha centralizará atividades

A uma semana do segundo turno, a equipe do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, já ensaia os primeiros passos para a transição de governo. Embora evite falara respeito do cenário pós-eleitoral, o coordenador político Onyx Lorenzoni (DEM-RS), anunciado como futuro chefe da Casa Civil caso Bolsonaro seja eleito, pretende estar em Brasília no dia 31 de outubro para tratar do assunto.

Por outro lado, o presidente Michel Temer designou o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) como interlocutor para discutira troca de comando no Planalto. E afirmou que pretende estabelece ruma“transição muito tranquila” com o sucessor.

Em um vídeo gravado ontem, em uma reunião com ministros para discutira sucessão, Temer afirmou que, a partir de hoje, Padilha fará reuniões periódica spa radar forma final a um documento que será entregue ao novo presidente. Será disponibilizada à nova equipe uma versão digital com todos os números e balanços importantes de cada área do governo, e uma versão impressa, em formato reduzido, que Temer deverá entregar pessoalmente aseu sucessor.

Os grupos de trabalho da campanha de Bolsonaro já têm recebido diversas colaborações de integrantes do governo. Dois dos coordenadores de áreas já atuam no Executivo. Marcos Cintra preside a estatal Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Adolfo Sachisida é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Conversas com Generais

As equipes também têm encontrado as portas abertas em diversos órgãos. Quadros do corpo técnico do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes( D nit) e da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) cooperam como grupo liderado por generais da reserva, na expectativa deterem mais espaço em um futuro governo.

Há também movimentos de políticos na mesma direção. O ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, e o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, ambos do PSD, jantaram dias atrás com Onyx Lorenzoni. O ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) também já conversou sobre a área como coordenador político de Bolsonaro, que mantém acautela.

— Não, eu não falo em transição. Nós temos que manter o foco e humildade. Nossa equipe é humilde para manter o foco. Nós estamos olhando para o domingo. Depois, de segunda a terça feira agente começa afalarem transição autorizados por eles,ó(apon taos manifestantes nas rua ), queéqu em importa: a população brasileira —disse Lorenzoni.

O gabinete de transição será instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) de Brasília, em um espaço que estavavazio. A área reservada para a transição governamental tem 2.500 metros quadrados, mais de 20 salas, além do gabinete presidencial, e capacidade para receber 250 pessoas.

As obras no local duraram cerca de dois meses. O espaço e os móveis foram fornecidos pelo Banco do Brasil, que cederá o local para o governo e, portanto, não irá cobrar aluguel. Haverá, no entanto, rate iodas contas de luze água enquanto durar o processo.

— Faremos uma transição muito tranquila em relação ao novo presidente da República —disse o presidente Temer, que afirmou que a ideia de centralizar as atividades em Padilha é evitar “equívocos” que possam prejudicar o próximo ocupante do Palácio do Planalto:

— Essa centralização é fundamental para que haja um diálogo muito produtivo entre aqueles que chegam ao governo e aqueles que dele sairão. Portanto, mais uma vez, o Padilha ficará às ordens para receber colaborações daqueles que governarão o país a partir do ano que vem.

Por lei, a equipe de transição é composta por 50 pessoas a serem escolhidas pelo novo presidente da República. Os chamados Cargos Especiais de Transição Governamental (CETG) são criados no segundo dia útil depois da eleição e devem ser dissolvidos em até dez dias após a posse do novo presidente, quando obrigatoriamente todos esses integrantes são exonerados.

Aliados dizem que, se eleito, Bolsonaro quer ir a Brasília fazer a transição. A partir de 12 de dezembro, ele poderá fazer a cirurgia de reversão da colostomia, necessária após a facada que o candidato recebeu em 6 de setembro.

O cirurgião Antonio Luiz Macedo, chefe da equipe médica que cuida do candidato, afirmou que a recuperação é de cerca de duas semanas. Caberá ao próprio Bolsonaro a decisão sobre operar antes ou depois da posse, caso ele vença a disputa.

“Faremos uma transição muito tranquila em relação ao novo presidente da República. Essa centralização (no ministro Eliseu Padilha) é fundamental para que haja um diálogo muito produtivo entre aqueles que chegam ao governo e aqueles que dele sairão”

Michel Temer, presidente da República