O globo, n. 31123, 23/10/2018. País, p. 8

 

Marina Silva declara 'voto crítico' em Haddad

Sérgio Roxo

Tiago Aguiar

23/10/2018

 

 

Ex-senadora ataca PT por ‘projeto de poder pelo poder’, mas diz que Bolsonaro é ‘risco imediato’ às regras democráticas

Após uma campanha eleitoral em que fez duros ataques ao PT, principalmente por causa dos escândalos de corrupção, a ex-senadora Marina Silva (Rede) declarou ontem voto em Fernando Haddad. Apesar do apoio, a ex-ministra criticou os dirigentes petistas, em nota na qual também reafirma que será oposição, independente de quem seja eleito.

“Darei um voto crítico e farei oposição democrática a uma pessoa que, ‘pelo menos’ e ainda bem, não prega a extinção dos direitos dos índios, a discriminação das minorias, a repressão aos movimentos, o aviltamento ainda maior das mulheres, negros e pobres, o fim da base legal e das estruturas da proteção ambiental, que é o professor Fernando Haddad”, diz Marina, no documento.

A candidata derrotada da Rede afirma ainda, na nota, que vê no projeto político de Jair Bolsonaro (PSL) “risco imediato” para a “estrutura de proteção ambiental”, “os direitos e a diversidade existente na sociedade” e “as regras democráticas”. Marina também faz críticas aos dirigentes petistas que, segundo ela, “construíram um projeto de poder pelo poder, pouco afeito à alternância democrática e sempre autocomplacente: as realizações são infladas, não há erros, não há o que mudar”.

Depois de obter mais de 22 milhões de votos e ficar em terceiro lugar na eleição presidencial de 2014, a ex-senadora terminou o primeiro turno deste ano como oitava colocada, com pouco mais de um milhão de votos. A Rede, que não atingiu a cláusula de barreira, terá em 2019 só uma deputada federal e cinco senadores no Congresso.

“Cada um de nós tem, em sua consciência, os valores que definem seu voto. Sei que, com apenas 1% de votação no primeiro turno, a importância de minha manifestação, numa lógica eleitoral restrita, é puramente simbólica. Mas é meu dever ético e político fazê-la”, disse Marina, na nota.

Além dos escândalos de corrupção, Marina tentou desgastar o PT ao longo do primeiro turno responsabilizando o partido pelo governo Michel Temer, já que foram os petistas que o escolheram para vice da presidente Dilma Rousseff.

Cortejando FH

Ontem, Haddad telefonou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o presidenciável, os dois conversaram sobre questões “institucionais”. Ainda de acordo com o candidato do PT, eles não teriam conversado sobre um eventual apoio do tucano ao petista. A ligação durou cerca de dez minutos.

Haddad confirmou o telefonema em mensagens enviadas ao GLOBO. Ele não deu detalhe sobre a conversa. O ex-presidente havia condenado, horas antes, as declarações de um dos filhos de Bolsonaro, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL), segundo o qual bastariam um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal.

Na semana passada, o ex-presidente havia declarado que entre ele e Haddad havia uma “porta”, enquanto em relação a Bolsonaro havia “um muro”. Dias depois, no entanto, FH disse que a porta estava “enferrujada".

Depois de falar por telefone com Haddad, FH publicou nova crítica a Jair Bolsonaro. O ex-presidente classificou como “inacreditável” declaração contra o PT feita pelo candidato do PSL, a apoiadores, no último domingo, em São Paulo. “Inacreditável: um candidato à Presidência pedir às pessoas que se ajustem ao que ele pensa ou pagarão o preço: cadeia ou exílio”, escreveu o tucano no Twitter.

Em outra frente, apesar do apelo de governadores do Nordeste por medidas mais duras na segurança pública , o candidato do PT à Presidência resiste a incorporar ao seu programa de governo temas como aumento de pena para homicídio e criação de uma guarda nacional. Aliados do petista defendiam que as medidas serviriam como resposta às posições de Bolsonaro.

Na avaliação dos governadores, o candidato do PSL cresceu no Nordeste com propostas como armara população e reduzira maioridade penal. Embora considere messa plataforma equivocada, aliados de Haddad consideram que ela tem apelo entre a população.

Mesmo coma vitória do petista emoito dos nove estados da região no primeiro turno, o capitão reformados e saium elhoremc incoca pitais—Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoae Natal .

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Presidenciável do PT participa na manhã de hoje de sabatina no GLOBO

23/10/2018

 

 

O GLOBO, o jornal “Extra”, a revista “Época” e o jornal “Valor Econômico” promovem, hoje, sabatina com o presidenciável Fernando Haddad (PT) na sede da Redação Integrada, no Rio. A sabatina, com início marcado para as 10h (horário de Brasília), terá transmissão ao vivo nos sites e páginas do Facebook das publicações.

A entrevista, com duração prevista de duas horas, será mediada pelo jornalista Lauro Jardim e contará com os também colunistas do GLOBO Ancelmo Gois, Ascânio Seleme e Bernardo Mello Franco; pela diretora de redação da “Época”, Daniela Pinheiro; e por Maria Cristina Fernandes, colunista do “Valor Econômico”. A sabatina é uma nova oportunidade para o público conhecer mais as ideias e planos dos candidatos à Presidência, a menos de uma semana do segundo turno.

Ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, de 55 anos, disputa sua primeira eleição presidencial. Haddad foi oficializado como candidato do PT à Presidência em meados de setembro, depois que o ex-presidente Lula teve seu registo de candidatura indeferido com base na Lei da Ficha Limpa. Haddad foi ministro da Educação entre 2005 e 2012, durante os governos de Lula e de Dilma Rousseff. Nascido em São Paulo, é advogado e professor na Universidade de São Paulo (USP).

Desde que sofreu um ataque a faca em Juiz de Fora (MG), no início de setembro, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) concedeu entrevistas apenas no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde ficou internado após realizar cirurgia, e em sua residência, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A campanha do candidato do PSL já afirmou que ele não participará de nenhum debate neste segundo turno. Até a noite de ontem, Bolsonaro não havia confirmado a disponibilidade para ser entrevistado por jornalistas do GLOBO.

Bolsonaro lidera as pesquisas de intenções de voto já divulgadas por Ibope e Datafolha neste segundo turno. O candidato do PSL apareceu com 59% dos votos válidos nos últimos levantamentos divulgados pelos dois institutos, enquanto Haddad soma 41%. No primeiro turno, Bolsonaro teve cerca de 46% dos votos válidos, contra pouco mais de 29% para o petista.