O globo, n. 31122, 22/10/2018. País, p. 6

 

Candidatos a governador aderem a Bolsonaro

Júlia Cople

Miguel Caballero

22/10/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

Dos 28 concorrentes aos governos no segundo turno, 16 fazem campanha para o deputado, e só três apoiam Haddad

A arrancada de candidatos a governador que se associaram ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e a sua votação no primeiro turno (46% dos votos válidos) provocaram uma adesão ainda maior na segunda fase da disputa. Dos 28 nomes que permanecem na briga pelos governos estaduais, 16 declararam apoio ao capitão da reserva (apenas três deles sã odo PS L ). Outros nove estão neutros em relação à eleição presidencial, enquanto apenas três fazem campanha para Fernando Haddad(PT)—Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte, João Capiberibe( PS B ), no Amapá, e Belivaldo Chagas (PSD), em Sergipe.

Em 2014, também foram 14 os estados onde a disputa para governador foi ao segundo turno, masa divisão de apoios foi mais equilibrada. Dilma Rousseff (PT) teve a adesão de 16 candidatos, assim como Bolsonaro agora. Já Aécio Neves formou aliança com dez postulantes aos executivos estaduais, enquanto dois candidatos ficaram neutros na ocasião.

Atualmente, há cinco estados em que os dois candidatos apoiam Bolsonaro, e apenas no Amapá, Pará e em Sergipe não há um “representante” do presidenciável do PS L. Aforça eleitoral do capitão da reserva pode levá-loa eleger governadores aliados em seis dos dez maiores colégios eleitorais do país: candidatos de legendas diversas que aparecem à frente da disputa para o Executivo estadual de São Paulo, Minas Gerais, Rio, Rio Grande do Sule Santa Catarina associaram as imagens à de Bolsonaro. No Paraná, o militar gravou um vídeo de apoio a Ratinho Júnior (PSD), que venceu no primeiro turno.

Com um discurso que prega a aversão aos acordos da política tradicional, Bolsonaro tem evitado se envolver nas disputas regionais. No Rio, embora o líder nas pesquisas, Wilson Witzel (PSC), cite o presidenciável em vários momentos, o candidato do PSL já afirmou não ter candidato a governador. O adversário de Witzel, Eduardo Paes (DEM), afirmou que está neutro na disputa, mas tem feito elogios públicos a Bolsonaro.

Apoio até no PDT

Em São Paulo, a recusa de Bolsonaro foi mais explícita. O tucano João Doria, acusado de traição pelo presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, transformou o apoio ao ex-capitão em sua principal bandeira. Ele viajou ao Rio para gravar um vídeo formalizando o apoio, mas Bolsonaro sequer o recebeu. Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) chegou a pedir votos para o presidenciável do PSL ainda no primeiro turno e manteve o apoio.

— A imagem de candidato antissistema é parte importante da votação do Bolsonaro, e há uma corrida entre os candidatos a governador para se associar a essa imagem —analisa a cientista política Maria Hermínia Tavares.

O PSL está no segundo turno em Santa Catarina (Comandante Moisés), Rondônia (Coronel Marcos Rocha) e Roraima (Antonio Denarium). As declarações de voto vêm inclusive de candidatos do PDT, que apoia Haddad no plano nacional: Juiz Odilon, no Matro Grosso do Sul, Carlos Eduardo, no Rio Grande do Norte, e Amazonino Mendes, no Amazonas.

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Witzel defende deputado eleito que destruiu placa de Marielle

Igor Mello

Bernardo Mello

22/10/2018

 

 

Em evento pró-Bolsonaro, candidato justificou ato de parlamentar do PSL

O candidato do PSC ao governo do Rio, Wilson Witzel, aproveitou a presença no ato em apoio a Jair Bolsonaro (PSL), ontem na Praia de Copacabana, para defender os responsáveis pela depredação da placa em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março. O exjuiz fez um desagravo ao deputado estadual eleito Rodrigo Amorim (PSL), um dos responsáveis pela destruição da placa. Em discurso, Witzel afirmou que “ninguém desrespeitou a memória de ninguém, mas não toleramos a ilegalidade”.

Amorim, deputado estadual mais votado do Rio, esteve lado a lado de Witzel no trio elétrico do Movimento Brasil Livre (MBL). O candidato ao governo do Rio fez o que chamou de “desagravo” contra ataques “à honra” do aliado. Amorim e Daniel Silveira, eleito deputado federal pelo PSL, filmaram a depredação da homenagem.

— Não compactuamos com nenhum tipo de intolerância política. Agora, não aceitamos e toleramos a ilegalidade. Não se pode colocar placa onde não está autorizado pela legislação municipal. Então, Rodrigo (Amorim), aqui vai uma defesa de sua honra, porque você jamais desrespeitou a memória de quem quer que seja. Ninguém desrespeitou a memória de ninguém, mas não toleramos a ilegalidade —defendeu.

Em um ato em Petrópolis, os parlamentares eleitos exibiram a placa quebrada enquanto Witzel discursava. A declaração do ex-juiz marca uma mudança de posição sobre o tema: em um primeiro momento, ele afirmou, em nota, que “foi surpreendido” com a exibição da placa e disse que “qualquer questão relativa a essa placa deve ser perguntada aos deputados eleitos responsáveis”.

Ontem, mantendo o tom adotado no segundo turno, o candidato do DEM ao governo do Rio, Eduardo Paes, atacou Witzel, a quem chamou de “falso moralista”, “falso caçador de corruptos” e “falso ético”. O ex-prefeito tem acusado o adversário de propagar fake news a seu respeito nas redes sociais.

— Só ajo dentro da lei. Acho que meu adversário também deveria agir dentro da lei. Quero crer que não tenha acontecido alguma ilegalidade. Com as denúncias que surgiram, a bola que foi levantada, espero que algo desse tipo não se repita no segundo turno, caso tenha acontecido no primeiro.

Paes, que participou de uma carreata em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, também explorou o fato de Bolsonaro, apesar de apoiado por Witzel, não ter entrado na campanha estadual:

— À medida que o segundo turno vai avançando, as pessoas estão vendo que o Bolsonaro está neutro, o que permite que o debate seja entre eu e ele (Witzel).