O globo, n.31113 , 13/10/2018. País, p.4

A tática do medo

Sérgio Roxo

 

 

Na TV, Bolsonaro e Haddad miram rejeição adversária

Dada a largada na propaganda de TV e de rádio no segundo turno da corrida presidencial, os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) usaram ontem o horário eleitoral para associar a sensação de medo à campanha adversária. Ambos aumentaram o tom das críticas ao que consideram marcas negativas de um e do outro. E, mais que propostas, usaram boa parte do primeiro programa para se atacarem mutuamente. Enquanto o candidato do PSL usou seu tempo para ligar o PT a governos da Venezuela e de Cuba, numa estratégia de relacionar o adversário ao comunismo, Haddad convocou eleitores a falar sobre casos de intolerância registrados no país e ligados supostamente ao discurso de Bolsonaro. Ao longo da semana, havia uma discussão na campanha de Haddad se os ataques a Bolsonaro na televisão deveriam incluir também os casos de violência. Os 16 pontos de vantagem do candidato do PSL na pesquisa do Datafolha divulgada na última quarta-feira, e a perspectiva de que o rival pode não ir aos debates, levaram os petistas para a opção mais dura contra o adversário. Sem a possibilidade de confrontar Bolsonaro nos debates, só restou a Haddad endurecer na propaganda eleitoral.

A estratégia de Bolsonaro aposta no discurso antipetista “triplicado”, como afirmou o coordenador da campanha Gustavo Bebbiano. Os programas ainda vão explorar imagens da Venezuela e de Cuba, associando pobreza e violência à esquerda. Outra ofensiva é classificar Haddad como um“novo poste” do ex-presidente Lula, a exemplo de Dilma Rousseff. Os presidenciáveis terão até o dia 26, antevéspera da eleição, para usara TV. Há nas campanhas, no entanto, o entendimento de que o espaço será transformado num campo de batalha para a desconstrução da imagem alheia. Para o cientista político Oswaldo Amaral, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o uso do medo na tentativa de buscar o voto útil do adversário tem sido uma das principais característica da eleição, marcada por ambiente polarizado, mas pode ser ineficiente: — O medo tem tido papel importante na eleição, no sentido de que as pessoas votam num lado por medo do outro. Mas é difícil que seja suficiente para virar votos. Uma eventual mudança de cenário não deve ocorrer por meio da propaganda, mas somente seria possível por meio de um acontecimento externo,talco mofo ino episódio da facada que atingiu Bolsonaro (no dia 6 de setembro). A propaganda do candidato do PSL começou atacando um discurso de Lula, no qual o ex-presidente apoia o Foro de São Paulo (encontro de movimentos de esquerda da América Latina). Na fala, o líder petista dizia que, um dia, os governos de esquerda da região “chegarão ao poder”. Bolsonaro foi para o ataque: “Lá atrás eles já plantaram a semente de doutrinação e domínio político na nossa pátria e isso foi sentido quase 20 anos depois. Cuba é o país mais atrasado, a Venezuela está devastada, e o Brasil foi governado pelo PT por 13 anos e deixou o país na maior crise moral da História. Corrupção é uma chaga e o desemprego tira a esperança de milhões de brasileiros, como aconteceu na Venezuela, tão admirada pelo Lula, por Dilma e pelo Haddad”.

 

LULA E INTIMIDAÇÕES

Também dando voz aos eleitores, em entrevistas gravadas, o programa de Bolsonaro direciona mais ataques a Lula. Num dos trechos, um homem diz que o ex-presidente está preso “porque é um bandido como outro qualquer”. Um outro vai além: “É como um traficante que comanda o tráfico de dentro da prisão. Haddad é só um fantoche”.

A peça faz ainda referência ao ataque à faca sofrido por Bolsonaro, antes de apresentar a biografia do candidato. Ao falar dos filhos, o candidato cita sua filha, Laura. “A realização de grande parte das mulheres é ter filho. Então, eu desfez a vasectomia”.

Já o primeiro programa de Haddad já começa com a exposição de casos de violência que teriam sido praticadas por bolsonaristas. No início, é lembrada a morte do mestre de capoeira Moa do Katendê, atacado após uma discussão política na segunda-feira, em Salvador. O capoeirista foi morto com 12 facadas por um homem. Também é abordado o caso da jovem marcada com uma suástica (símbolo do nazismo), que está sob investigação, dando a entender que teriam sido feitos por apoiadores de Bolsonaro. Durante o programa, é apresentado ainda o vídeo em que Bolsonaro defende “fuzilar a petralhada”. “Este é o Brasil de Bolsonaro. Se a violência já chegou nesse nível, imagine se ele fosse presidente”, diz o programa. (Colaborou Jussara Soares)

 

“O Brasil foi governado pelo PT por 13 anos e deixou o país na maior crise moral da História”

Programa eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL)

 

“Este é o Brasil de Bolsonaro. Se a violência já chegou nesse nível, imagine se ele fosse presidente”

Programa eleitoral de Fernando Haddad (PT)