Título: Eleições gregas voltam ao foco
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Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2012, Economia, p. 11

Regaste espanhol foi acelerado para evitar caos no mundo, dependendo do resultado das urnas no combalido país

Alemanha, França, Grã-Bretanha e Suécia reagiram positivamente à ajuda de 100 bilhões de euros proposta pela União Europeia (UE) à Espanha para recapitalizar o setor bancário do país, fazendo com que as preocupações agora voltem a se concentrar na Grécia, que realiza novas eleições legislativas no próximo domingo. As autoridades da Zona do Euro vinham pressionando a Espanha a concordar com um pacote de ajuda antes das eleições da Grécia no dia 17, já que eles temem que o fato pode lançar uma nova onda de turbulência nos mercados financeiros.

Há grandes chances do partido radical grego Syriza, de extrema-direita, de vencer as eleições. Ele é contra o plano de austeridade exigido pelas lideranças europeias e o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a favor da retirada do país da Zona do Euro. Por isso, as eleições estão sendo vistas como um referendo para o futuro da Grécia dentro da Zona do Euro. A União Europeia já avisou que, se não respeitar seus compromissos de austeridade, a Grécia não receberá mais nenhuma ajuda financeira.

Por isso, os investidores têm reagido mal a qualquer notícia na seara política que possa trazer mais instabilidade econômica à região. No meio da semana, a informação de que o Syriza assumiu a liderança em pesquisa de intenção de voto para as eleições de domingo azedou o humor dos mercados, e as bolsas caíram em todo o mundo. O partido ganharia com 30% dos votos, colocando em dúvida a permanência da Grécia na Zona do Euro.

Campanha

Ontem, os líderes dos principais partidos políticos da Grécia usaram o anúncio do pacote de socorro à Espanha para reforçar as mensagens aos eleitores gregos. O líder do conservador Nova Democracia, Antonis Samaras, disse que o resgate mostrou como é importante para a Grécia permanecer dentro da União Europeia e negociar com seus parceiros sobre os problemas do país, não devendo partir para o isolamento. É o que defende o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que declarou na semana passada que a saída da Grécia da Zona do Euro seria "ruim" para o país.

"Enquanto um país como a Espanha negocia com a Europa, existem algumas pessoas aqui que afirmam que nós devemos isolar a Grécia", disse Samaras durante campanha no sul da Grécia. Já o partido de esquerda Syriza, que saiu forte das eleições inconclusivas realizadas no mês passado, rebateu o adversário. Em nota, respondeu que "a conclusão tirada do acordo espanhol é completamente oposta daquela percebida pelo Sr. Samaras".

O partido defendeu que "a única rota de dignidade e prosperidade para o povo europeu está na rejeição das políticas de austeridade e recessão". Além da Nova Democracia e do Syriza, disputa a eleição o socialista Pasok, que também apoia os termos do acordo da Grécia com a União Europeia.

Novo imposto só em 2013

O imposto europeu sobre transações financeiras não deve entrar em vigor antes das eleições legislativas alemãs, em 2013, disse, ontem, o ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble. "Um imposto europeu não chegaria tão rápido", disse Schäuble à rede de televisão alemã ARD. O comentário veio depois de o líder da principal oposição, Partido Social Democrata (SPD), Sigmar Gabriel, afirmar na quinta-feira que o governo e a oposição chegaram a um acordo sobre o imposto. Essa questão tem sido um grande obstáculo para o Parlamento alemão ratificar o pacto europeu sobre a União fiscal.

Sinal para mercados

A decisão de acordar um resgate aos bancos espanhóis é um sinal claro dirigido ao mercado pelos países da Zona do Euro sobre sua determinação em atuar de maneira decisiva para evitar a contaminação, afirmou ontem o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Olli Rehn. "Trata-se de um sinal da determinação da zona do euro em tomar medidas decisivas para conter as turbulências", disse.

O ministro da Economia alemão, Philipp Roesler, destacou que a decisão da Espanha de pedir um resgate para recapitalizar a seus bancos é uma decisão correta e necessária, que dará confiança aos mercados. "Creio que essa decisão contribuirá consideravelmente para criar transparência e estabilizar a confiança nos mercados financeiros", disse o ministro, que também é o vice-chanceler do governo alemão.

As bolsas em todo o globo vinham amargando fortes quedas desde o final de maio, conforme aumentavam os boatos sobre o agravamento da crise espanhola. A gota d"água foi a divulgação no início do mês de que os investidores externos retiraram R$ 66,2 bilhões do país e que as pessoas físicas e jurídicas sacaram R$ 34,1 bilhões das suas contas bancárias em abril. A divulgação dos dados levou o G-7 — grupo dos sete países mais desenvolvidos — a convocar uma reunião de emergência para discutir a crise na Zona do Euro. Eles temiam que a fuga de recursos dos bancos se ampliassem e levasse pânico maior aos mercados de todo o mundo.

O Ibovespa — índice que reúne as ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo — chegou a bater os 52.481 pontos em 5 de junho, o menor patamar desde outubro de 2011. Em maio, a desvalorização foi de 11,86%, a maior em um mês desde outubro de 2008, quando despencou 24,8%. Depois de muita volatilidade durante a semana, na última sexta, diante dos rumores de que o socorro à Espanha estava prestes a sair, o pregão brasileiro reagiu, teve alta de 0,51% e conseguiu retornar aos 54.429 pontos.

Para esta semana, a expectativa é de mais volatilidade, até que se definam os termos do socorro internacional à Espanha. O montante dos 100 bilhões de euros que o país sacará agora dependerá do resultado da auditoria nos bancos que está sendo feito por consultorias internacionais.