O globo, n. 31122, 22/10/2018. País, p. 7

 

Fake news e outros crimes somam 469 inquéritos

Manoel Ventura

22/10/2018

 

 

Divulgação de notícias falsas, propaganda ilegal e compra de votos são as principais denúncias em apuração pela Polícia Federal. Para a ministra Rosa Weber, só um ‘milagre’ poderia combater a difusão de informações mentirosas

A Polícia Federal já abriu 469 inquéritos para investigar crimes eleitorais durante esta campanha. As principais motivações são propaganda ilegal, compra de votos e divulgação de informações falsas. Ontem, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, negou que a Justiça tenha falhado no combate às fake news e afirmou que se alguém tiver uma solução para coibi-las ou evitá-las que avise ao Tribunal, pois a corte ainda não descobriu esse “milagre”.

—Se tiverem a solução para que se evitem ou se coíbam as fake news, por favor, nos apresentem. Nós ainda não descobrimos o milagre —disse a ministra, durante entrevista à imprensa.

Rosa Weber considerou que a divulgação de notícias falsas é um fenômeno mundial e que o TSE não errou. Segundo ela, a novidade nessas eleições foi a quantidade de boatos sobre as urnas eletrônicas.

— Nós entendemos que não houve falha da Justiça Eleitoral a isso que se chama fake news. Todos sabemos que a desinformação é um fenômeno mundial. Gostaríamos imensamente de ter uma solução pronta e eficaz, mas não temos —disse.

A entrevista foi convocada em meio às denúncias de que empresas têm disseminado, de forma estruturada, mensagens falsas por meio do aplicativo WhatsApp. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso no sábado. A investigação foi posta em sigilo, segundo o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann.

Ameaça à Ministra

Ele informou que, além de abrir mais de 400 inquéritos, a PF apreendeu mais de R$ 2 milhões na campanha. A polícia investiga ainda três pessoas por mensagens com conteúdo de ameaças direcionadas à ministra Rosa Weber. Os três investigados podem responder criminalmente pelo teor das mensagens. Segundo Jungmann, os casos não têm conexão. Dois autores de ameaça já foram identificados. O terceiro email “com ofensas e ameaças graves” foi enviado a partir do Japão, disse ele:

— Não há anonimato na internet, não há essa possibilidade. A Polícia Federal tem capacidade de chegar a eles em qualquer lugar do mundo.

O Tribunal Superior Eleitoral divulgou três vídeos curtos na tentativa de combater fake news relacionadas a fraude nas urnas. O material deve ser divulgado no WhatsApp, apontado como principal rede para divulgação de notícias falsas.

Na mesma entrevista, o ministro do TSE Tarcísio Meira de Carvalho disse que a Justiça Eleitoral recebeu até agora cerca de 400 representações sobre propaganda irregular no processo eleitoral, das quais 40 foram relativas a fake news.

— O TSE jamais desprezou ou subestimou os impactos desastrosos das notícias falsas catapultadas pelas novas tecnologias — disse Carvalho.

Participaram da entrevista autoridades do Poder Executivo, da Procuradoria-Geral Eleitoral, da Justiça Eleitoral, da Polícia Federal e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Eles manifestaram preocupação especial com as suspeitas lançadas sobre a lisura do processo eleitoral.

Apesar da preocupação dos integrantes da Justiça, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, afirmou que notícias falsas “talvez sejam o menor” dos problemas para das eleições. Ele disse que esse é um fenômeno mundial e que o primeiro caso foi registrado na Bíblia:

— Adão e Eva foram expulsos do Paraíso por uma fake news.