O globo, n. 31117, 17/10/2018. Colunas, p. 6

 

Cid Gomes chutou o pau do circo petista

Bernardo Mello Franco

17/10/2018

 

 

Quem tem os irmãos Gomes como aliados não precisa de adversários. Na semana passada, Ciro esnobou um convite para coordenar o comitê petista no segundo turno. Declarou “apoio crítico”, fez as malas e se mandou para a Europa. Na segunda-feira, Cid subiu num palanque da campanha de Fernando Haddad. Esculhambou a plateia, atacou o PT e afirmou que o partido vai “perder feio”.

Cid disse verdades que os petistas teimam em não admitir. A sigla deveria ter humildade, pedir desculpas e reconhecer que fez “muita besteira”. A cobrança está correta, o problema foi o resto. Ao proclamar que Haddad será derrotado, o senador eleito deu um presente inesperado a Jair Bolsonaro. Ontem à noite, o capitão exibiu o discurso em seu programa eleitoral na TV.

O irmão de Ciro chutou o pau do circo no momento em que os petistas lutavam para manter o ânimo. A campanha já estava abatida com a desvantagem nas pesquisas. Agora terá que explicar por que nem os aliados acreditam mais numa virada.

O chefe da oligarquia de Sobral terminou o primeiro turno com 13 milhões de votos. Poderia seguir o exemplo de Leonel Brizola e liderar uma transferência maciça para Haddad. Preferiu imitar Marina Silva e sair de férias até a próxima eleição.

Ciro passou meses chamando o candidato do PSL de “fascista”. Chegou a declarar que uma vitória de Bolsonaro representaria a “destruição da nação brasileira”. Se ele acredita nas próprias palavras, não poderia lavar as mãos e correr para o aeroporto.

A fuga dos Gomes implodiu o projeto de uma “frente democrática” a favor de Haddad. O PT pensou que conseguiria repetir a eleição da França em 2002, quando o ultranacionalista Jean-Marie Le Pen surpreendeu ao chegar ao segundo turno. Lá, os socialistas deixaram a rivalidade de lado e apoiaram o conservador Jacques Chirac para evitar uma vitória da extrema direita.

Por aqui, tucanos e pedetistas estão optando pelo muro. A omissão pode custar caro no futuro.

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Bolsonaro pede indicação de ministro a ruralistas

Patrik Camporez

17/10/2018

 

 

Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária diz que grupo, após contato do candidato, vai apresentar ‘dois ou três nomes’ para ministério da Agricultura em eventual governo. Ideia é fundir a pasta com a do Meio Ambiente

A bancada ruralista está selecionando dois ou três nomes para apresentar ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, para possivelmente ocupar o Ministério da Agricultura. Se confirmada, uma nomeação desse tipo descumpriria promessa de campanha dele de não aceitar indicações de políticos. A presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), afirmou ontem que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) pediu que a bancada ruralista indique o nome de um possível candidato a ministro da Agricultura para um eventual governo.

— Éo candidato que tem mais proximidade com as demandas do agronegócio. Devemos reunir uns dois ou três nomes e apresentar — afirmou a deputada.

A frente também apoia a ideia do candidato de incorporar o Ministério do Meio Ambiente à pasta de Agricultura. O grupo, que reúne 261 deputados federais e senadores, declarou apoio a Bolsonaro na reta final do segundo turno.

Se confirmada, a entrega da pasta da Agricultura aos ruralistas será a primeira ação formal de Bolsonaro contra uma de suas promessas de campanha. Em junho, ao ser questionado pelo GLOBO sobre as regras que adotaria para evitar casos de corrupção, o candidato do PSL prometeu não nomear indicados políticos. Procurado, Bolsonaro não retornou para falar do tema.

A presidente da FPA afirma que representantes da entidade já fizeram duas visitas a Bolsonaro durante a campanha.

— O que a frente quer é ajudar o próximo presidente a diminuir os impasses, a burocracia, e a deixar que o setor caminhe de forma mais leve. Isso não quer dizer que a gente quer menos segurança. Hoje é muito difícil empreender no Brasil. É um excesso de normas, conselhos, gasta-se muito tempo e muito dinheiro — afirma Tereza Cristina.

Terras indígenas

Na reunião, a bancada definiu algumas sugestões que pretende apresentar.

— Nós temos muitas coisas para desenhar num novo modelo de Ministério da Agricultura. Antes, precisamos saber o que pensa o núcleo que está fazendo o programa de governo — completa Tereza Cristina.

A deputada do Mato Grosso do Sul disse que aguarda um posicionamento de Paulo Guedes —já anunciado como possível ministro da Fazenda de Bolsonaro —sobre a estrutura do novo ministério.

— Queremos ver qual é o conceito dele. Entendemos que isso (a fusão) é bom, sim, e que já é praticado na Europa.

Outra medida em debate com Bolsonaro é a demarcação de terras indígenas. A bancada quer tirar a responsabilidade da Funai e acredita ter apoio de Bolsonaro para fazer isso a partir do próximo ano.

— Há uma crise existencial sobre quem tem o direito e o poder de legislar no Brasil hoje. O que nós queremos é que o Parlamento tenha o direito de legislar sobre todos os atos que precisam ser regulados da forma de lei — disse o deputado Sérgio Souza (MDB-PR).