O globo, n. 31111, 11/10/2018. Colunas, p. 6

 

Em vantagem, capitão deve tocar para o lado

Bernardo Mello Franco

11/10/2018

 

 

Jair Bolsonaro largou bem à frente de Fernando Haddad na disputa do segundo turno. Se a eleição fosse hoje, o capitão venceria por 58% a 42%. Os números do Data folha devem incentivá-loa toca rabo lapara o lado, esperando o tempo passar. É oque fazemos ti mesque voltam do intervalo com ampla vantagem no placar.

Para um candidato que costuma tropeçar na própria língua, a melhor maneira de não dizer bobagens é manter a boca fechada. Isso explica a estratégia de faltar aos debates na TV. Duas emissoras já cancelaram seus encontros. A decisão beneficia Bolsonaro, que não precisará se expor nem arcará como desgaste da cadeira vazia.

O atestado médico não o impediu de manter sua campanha ativa na internet. Ontem ele fez uma transmissão de quase uma hora com o dono das lojas Havan. No primeiro turno, o empresário foi repreendido pela Justiça ao coagir seus empregados a votarem no capitão. Agora reaparece como dublê de youtuber e cabo eleitoral.

No outro front, Haddad pena para gerar fatos positivos. Sua campanha aposentou o vermelho do PT, mas ainda parece longe de montar uma frente ampla contra o bolsonarismo. Em três dias, ele só conseguiu uma foto com Guilherme Boulos, que recebeu 0,58% dos votos.

No livro “Como as Democracias Morrem”, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt defendem que partidos rivais devem se aliar quando líderes autoritários ameaçam chegar ao poder pelas urnas. “Sempre que extremistas emergem como sérios competidores eleitorais, os partidos predominantes devem forjar uma frente única para derrotá-los”, afirmam.

Para os professores de Harvard, a existência de risco às liberdades justifica alianças que seriam “inimagináveis” em outro contexto. “Em tempos extraordinários, a liderança partidária corajosa significa pôr a democracia e o país à frente e explicar claramente aos eleitores o que está em jogo”, diz o livro, lançado em janeiro nos Estados Unidos. “Frentes democráticas unidas podem impedir que extremistas conquistem o poder, o que pode significar salvar a democracia”, acrescenta.

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Ciro decepciona PT e anuncia 'apoio crítico'

Patrik Camporez

Sérgio Roxo

11/10/2018

 

 

Com 13,3 milhões de votos no primeiro turno, pedetista nem mesmo discursa em evento e deve passar os próximos dias fora do Brasil; coordenador da campanha de Haddad reconhece que esperava ‘papel mais ativo’ de pedetista

Em nova fase, Haddad se descola da imagem de Lula e explora o verde e amarelo. Em uma reunião tensa, a cúpula do PDT decidiu ontem que dará “apoio crítico” ao candidato do PT, Fernando Haddad, no segundo turno da disputa presidencial. Terceiro colocado no último domingo, com 13,3 milhões de votos, Ciro participou do encontro, mas não se manifestou. E avisou a amigos que pretende passar os próximos dias fora do Brasil. Um dos coordenadores da campanha do PT, Emídio de Souza reconheceu que o tom da manifestação do novo aliado ficou aquém do esperado.

— O Ciro é uma liderança fundamental e não precisa estar junto com o PT, precisa estar junto com a democracia. Nós esperamos que ele tenha um papel mais ativo do que simplesmente um apoio crítico — afirmou Emídio de Souza, um dos coordenadores da campanha petista.

Ciro foi um dos nomes citados pelo coordenador da campanha do PT, Jaques Wagner, em conversa com o colunista Bernardo Mello Franco, do GLOBO, para compor uma frente ampla que una também Marina Silva e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O candidato derrotado, porém, não fez nenhuma menção à proposta durante o encontro.

Na pré-campanha, a atuação do ex-presidente Lula, preso em Curitiba, foi determinante para que o PSB não seco ligasse com Ciro, oque limitou as chances de o pede tist achegara o segundo turno. Ontem, Lu pi chegou afalar em “golpe”, quando lembrou o episódio da retirada da candidatura da petista Marília Arraes, em Pernambuco, em favor do governador do PSB, Paulo Câmara, que afastou de vez os socialistas de Ciro.

O ato de adesão a Haddad foi marcado por mais críticas do que elogios. Presidente nacional do PDT, Carlos Lupi disse que o “apoio crítico” a Haddad contra Jair Bolsonaro (PSL) é “para evitara vitória das forças mais atrasadas do Brasil e a derrocada da democracia”. Lupi deixou evidente que os pedetistas ainda não digeriram a forma como foram prejudicados pelo PT na fase de negociação de alianças.

Sem engajamento

Lupi explicou que o apoio do PDT se resumiria ao ato de ontem.

— Não vamos participar da campanha, não vamos participar da coordenação e não vamos participar do governo. Esse apoio é pelos riscos que corre a democracia brasileira, se for eleito o outro lado —disse.

— Esse apoio crítico é devido às ressalvas que nós temos ao comportamento do PT no processo eleitoral como um todo. Aos golpes que eles nos desferiram durante o processo eleitoral, com pressões para a retirada de candidaturas —disse Lupi.

O apelo do presidente pedetista não foi suficiente, porém, para impedir que a senadora Kátia Abreu declarasse, ao final da reunião, que não votaria em Haddad por considerá-lo despreparado. Kátia pediu a renúncia do candidato para que Ciro, o terceiro colocado, fosse convocado pelo TSE para disputar o pleito do próximo dia 28 contra Bolsonaro. Pela legislação eleitoral, em caso de desistência do candidato no segundo turno, o terceiro colocado é convocado automaticamente para disputar a eleição.

—Eu, Kátia Abreu, acharia muito digno se ele (Haddad) desistisse da disputa vendo que pode entregar o país para um fascismo religioso. Ale ié clara: se ele renunciar à sua candidatura, ainda está em tempo, Ciro Gomes é o candidato e é o único capaz de vencer Bolsonaro. Então, se o PT se preocupa com o Brasil e os brasileiros, coma democracia, porque não abrir mão dessa candidatura e ceder para Ciro Gomes, que desde agosto lidera as pesquisas no segundo turno? Está aí lançado o desafio —disse.

A senadora, que foi ministra da ex-presidente Dilma Rousseff, direcionou suas críticas mais duras ao PT.

—A reclamação geral é que aquele PT, que lá atrás teve uma boa causa, que esse PT não existe mais, que não tem mais uma causa. Não vale a pena defender, não é um projeto a se defender. O PDT só tomou essa atitude unicamente em defesa da democracia, para não deixar na nossa história que nós demos uma de Pôncio Pilatos e lavamos as mãos diante da ameaça de um fascismo escancarado no país —disse Kátia.

Integrantes do PDT disseram que as três horas de reunião foram tensas. Uma coletiva de imprensa estava marcada, mas não aconteceu. Ciro deixou o local sem dar entrevistas, dizendo apenas “abaixo a ditadura, abaixo o fascismo”.

Durante o primeiro turno, o PT foi uma sombra ao pedetista. Quando Ciro despontou nas pesquisas com a proposta de tirar milhões de brasileiros do SPC, Haddad copiou a proposta para impedir seu crescimento no eleitorado progressista.

Apoio do sindicalismo

Haddad recebeu ontem o apoio das principais centrais sindicais do país. Além da CUT, ligada ao PT, também assinaram uma carta de apoio ao candidato petista a Força Sindical, a UGT, a CTB, a CSB, a Nova Central e a Intersindical. Numa carta conjunta, as centrais sindicais disseram que Bolsonaro “encarna o autoritarismo” enquanto Haddad “personifica a democracia”.

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Petista tira Lula de foto e passa a usar verde e amarelo

Sérgio Roxo

Dimitrius Dantas

11/10/2018

 

 

Campanha também decidiu engavetar slogan usado no 1º turno, que remetia ao período do governo do ex-presidente

A campanha de Fernando Haddad decidiu retirar o ex-presidente Lula e reduzir o uso do vermelho no material de campanha que será apresentado no segundo turno da disputa presidencial.

O logo vai destacar o verde, amarelo e azul da bandeira brasileira para ter sintonia com o novo slogan: “O Brasil para todos”. O slogan do primeiro turno, “O Brasil feliz de novo”, remetia a um resgate dos anos de Lula no poder (2003-2010). A nova estética será levada ao horário eleitoral gratuito, que começa no sábado.

Em vídeo postado em redes sociais em que fala de educação, Haddad já aparece sob tarjas azuis e amarelas, cores normalmente usadas pelo PSDB. Lula deve continuar a aparecer no programa de televisão, porém com menos ênfase do que no primeiro turno.

A imagem de Lula foi retirada da foto oficial da campanha. O ex-presidente aparecia junto com Haddad e candidata a vice, Manuela D’Ávila, numa montagem, já que quando a foto foi produzida o líder petista já estava preso.

O novo material foi discutido em reunião ontem. Desde o início da semana, a coordenação da campanha trabalha no sentido de descolar a imagem de Lula e Haddad, na tentativa de angariar apoios ao centro.

Durante o encontro, contudo, representantes de movimentos sociais destacaram que há riscos caso a opção seja por uma retirada completa de Lula da campanha.

— Não podemos ir para um lado e perder os eleitores que temos. A sintonia é muito fina nesse caso — afirmou um dos presentes.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu que a “centralidade” deve continuar em Lula para que a campanha possa atingir as classes C e D.

Sinalização ao centro

Na manhã de ontem, o candidato do PT concedeu entrevista coletiva a jornalistas estrangeiros e voltou a fazer sinalizações ao centro. Ele elogiou a postura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante a crise na Venezuela e reconheceu erros em mandatos do PT, como desonerações feitas por Dilma Rousseff que beneficiaram empresários.

Na entrevista, Haddad disse ainda que o principal erro do PT foi não ter aprovado uma reforma política. Segundo ele, essa omissão abriu brechas em todo o sistema político para que pessoas se comportassem de “maneira equivocada”. O PT foi o maior atingido pela operação LavaJato, que levou à cadeia vários integrantes do partido, entre eles Lula.

—Na minha opinião, esse foi o maior problema, e eu penso que isso deve ser reconhecido com naturalidade: erramos nesse aspecto. Tínhamos que ter enfrentado isso na primeira hora, em 2003, eter vetado a contribuição de empresas, porque não há como controlar isso, não há. Então, tem que proibir. O que você não consegue controlar, tem que proibir —afirmou o petista.