O globo, n. 31111, 11/10/2018. País, p. 8

 

Bolsonaro quer 13º do Bolsa Família; custo: 2,5 bi

Jussara Gomes

11/10/2018

 

 

Em busca de votos no Nordeste e após declarações polêmicas de vice sobre benefício para trabalhadores, Gustavo Bebianno, presidente do PSL, diz que candidato decidiu anunciar aumento de programa criado pelo PT

O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, afirmou ontem que Bolsonaro vai incluir uma nova proposta em seu programa na área social. Segundo ele, o presidenciável vai anunciar a proposta de implementar o 13º salário para beneficiários do Bolsa Família, programa social criado durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Em um vídeo gravado para eleitores do Nordeste, Bolsonaro disse que a medida foi uma proposta de seu vice, general Mourão, para Paulo Guedes, coordenador do programa econômico da campanha. Segundo o candidato do PSL, os recursos para a ampliação do benefício virá “combatendo a fraude”. Hoje o orçamento do Bolsa Família está em R$ 29 bilhões por ano. O pagamento do 13º benefício aumentaria em R$ 2,5 bilhões o custo anual do programa.

A ideia faz parte da estratégia de ampliar a votação no Nordeste, única região onde o candidato do PT, Fernando Haddad, foi melhor do que o adversário.

O capitão da reserva já criticou o programa. Em discurso na Câmara, em 2011, disse: “O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder.” Hoje, o tom é outro: — Essa despesa a mais nós vamos tirar da fraude, combatendo isso nesse programa que para, muita gente, é essencial. Falar em tirar Bolsa Família é uma desumanidade. Muito pelo contrário: vamos fortalecer e dar para quem necessita — disse Bolsonaro, em vídeo.

Segundo Gustavo Bebianno, que é cotado para assumir um ministério em eventual administração Bolsonaro, a proposta será incluída no programa de governo do capitão da reserva.

—Essa é uma notícia que a gente não iria divulgar agora, mas o capitão (Bolsonaro) decidiu que seria assim. É uma proposta que foi costurada, desenhada e pensada pelo general Mourão, que é a implementação de um 13º do Bolsa Família— disse o presidente do partido.

O dirigente, no entanto, não detalhou como o plano será financiado pelos cofres públicos. Ele afirma que a proposta será incluída no programa de governo:

—Será nos termos de um 13° salário normal, novembro e dezembro, talvez dividido em duas parcelas, isso aí o Paulo Guedes vai definir no momento certo.

No fim de setembro, o general Mourão criticou o 13º salário para trabalhadores e o abono das férias numa palestra na Câmara de Dirigentes Lojistas de Uruguaiana (RS). O militar disse que esses benefícios da lei trabalhista são um peso para o empresário.

A declaração foi rebatida por Bolsonaro, que usou as redes sociais para enfatizar que o 13° está previsto na Constituição. O candidato destacou que criticar esse direito é uma “ofensa a quem trabalha” e configura uma “confissão de desconhecimento” sobre o texto constitucional.

Novas apostas

A estratégia é diretamente ligada a um desafio para a campanha de Bolsonaro. Desde a redemocratização, nunca um presidente foi eleito sem que vencesse o pleito no Nordeste. O capitão da reserva terminou à frente no primeiro turno da eleição no país, mas perdeu em todos os estados da região.

A campanha de Bolsonaro acredita que há espaço para crescer na região e um dado da eleição reforça a expectativa. Apesar da derrota nos estados, ele teve o alento de vencer na maioria das capitais, cinco das nove.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

MPF investiga Guedes por suspeita de fraudes

Mateus Coutinho

11/10/2018

 

 

Economista de Bolsonaro e cotado para Ministério da Fazenda critica uso eleitoral de irregularidades, que envolveriam estatais

Anunciado como ministro da Fazenda em um eventual governo de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes é investigado desde o dia 2 de outubro pelo Ministério Público Federal em Brasília por suspeita de envolvimento em fraudes em fundos de pensão junto com dirigentes das entidades ligados ao PT e ao MDB. O GLOBO teve acesso aos autos da investigação, revelada pela “Folha de S. Paulo”.

Guedes é suspeito de cometer crimes de gestão fraudulenta e temerária à frente de fundos de investimentos (FIPs) que receberam R$ 1 bilhão, entre 2009 e 2013, de fundos de pensão ligados a empresas públicas.

A defesa do economista cotado para assumir a Fazenda critica a investigação às vésperas da eleição e afirma que os fatos são mentirosos. Os advogados informaram que apresentarão “toda a documentação que comprova a lisura das operações” e esclarecerão quaisquer dúvidas da Justiça.

Também está sendo investigada a emissão e negociação de títulos imobiliários sem lastros ou garantias. Os trabalhos são conduzidos pela força-tarefa da Operação Greenfield, que apura fraudes em fundos de pensão em todo o país.

Dentre os fundos que investiram na empresa de Paulo Guedes estão o Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa), Postalis (Correios) e o BNDESpar, braço do banco estatal que atua com investimentos no mercado de capitais. Em 2009, a Gestora BR Educacional que pertence a Guedes, lançou dois FIPs — FIP Brasil de Governança Corporativa e o FIP BR Educacional —que conseguiram captar R$ 1 bilhão com fundos ligados a empresas públicas. Os dois FIPs eram gerenciados pelo próprio Guedes e tinham como objetivo financiar ações de divulgação de conteúdo, consultorias e produção de tecnologias e processos para o setor educacional.

Chamou a atenção dos investigadores o fato de os quatro maiores cotistas dos FIPs na época serem exatamente os fundos que estavam sob gestão de pessoas ligadas a PT e MDB e já investigadas na Greenfield por suspeita de fraudes em outras operações.

Defesa: "Perplexidade"

Uma suspeita é a de que Paulo Guedes teria beneficiado uma empresa na qual chegou a atuar como conselheiro a partir dos recursos dos fundos de pensão que foram aportados no FIP administrado por ele.

Em nota, os advogados de Paulo Guedes, Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, afirmaram que o fundo FIP BR Educacional não trouxe qualquer prejuízo aos fundos de pensão, mas “retorno substancialmente acima do objetivo estabelecido no regulamento firmado entre os cotistas”.

“Causa perplexidade que, às vésperas da definição da eleição presidencial, tenha sido instaurado um procedimento para apurar fatos apresentados por um relatório manifestamente mentiroso. Resta claro que essa iniciativa é uma afronta à democracia cujo principal objetivo é o de confundir o eleitor”, a firma a nota dos advogados de Guedes.

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Candidatos do PSL deve participar só de dois debates

Jussara Soares

Dimitrius Dants

11/10/2018

 

 

Candidato tem restrições médicas e fará avaliação em São Paulo; Haddad diz que encontraria adversário até em enfermaria

A campanha do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) defende que o capitão reformado participe apenas dos dois últimos debates da TV neste segundo turno. Os confrontos contra Fernando Haddad, do PT aconteceriam apenas na Record, no dia 21, e na TV Globo, dia 26. Ainda existe uma negociação para que a Band adie seu debate, que seria hoje, para a próxima semana. Há também encontros marcados na Gazeta, RedeTV! e SBT. A equipe de Bolsonaro não se manifestou oficialmente.

Bolsonaro recebeu ontem a visita da equipe médica em sua casa. De acordo com o cirurgião Antonio Luiz Macedo e o cardiologista Leandro Echenique, o deputado só deve ser liberado para atividades de campanha a partir da próxima semana e passará por uma nova avaliação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Apesar de estar com anemia e precisar recuperar massa muscular após perder 15 quilos, o estado de saúde é considerado estável e fora de risco.

— Eles decidiram que eu irei a São Paulo na próxima quinta-feira e com toda a certeza vão me liberar para debates. Então quem acha aí que eu estou fugindo de debate, eu estou cuidando da minha saúde. Não adianta debater e ter uma recaída e voltar para o hospital. Na próxima quinta-feira eu serei liberado e participarei de dois debates que faltam para complementar aquela lista enorme que infelizmente não poderei cumprir — afirmou Bolsonaro ontem à noite, durante transmissão ao vivo no seu Facebook.

Já o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, voltou a desafiar seu adversário, a comparecer aos encontros. O petista disse ter receio de que Bolsonaro, que venceu o primeiro turno com 46% dos votos válidos, falte aos cinco encontros previstos.

Em tom irônico, Haddad disse que iria até mesmo a uma enfermaria para debater com o capitão da reserva.

— Vou na enfermaria em que ele estiver. Não tem problema. Os brasileiros precisam saber a verdade — disse, em entrevista concedida ontem a jornalistas da imprensa internacional.

Ato com parlamentares

Os 380 deputados federais e estaduais eleitos pelo PSL foram convocados pela campanha de Bolsonaro para um grande ato público, hoje, no Hotel Windsor, na Barra, onde alguns já estão hospedados. A informação foi publicada ontem pelo blog do colunista Ancelmo Gois, do GLOBO. Segundo a nota, Bolsonaro fará um discurso convocando todos a se engajarem no segundo turno destas eleições.

Um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM) diz que o candidato do PSL teria uma base superior a 300 deputados na Câmara, se eleito. Para ele, com a formalização do apoio das bancadas evangélica, rural e da segurança, cerca de 350 deputados já seriam aliados. Ele destaca a importância dos dos 52 deputados eleitos pelo PSL.