Título: Desempenho sob medida
Autor: Campos, Ana Maria; Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2012, Política, p. 3

Com apoio dos aliados, Agnelo encontrou um palanque ideal para se defender das suspeitas envolvendo os contratos da Delta e o lobby do grupo de Cachoeira na tentativa de entrar no DF

A eloquência não é o forte de Agnelo Queiroz (PT). Justamente por essa característica, o desempenho do governador do Distrito Federal ontem foi considerado surpreendente. O petista frustrou a oposição, empolgou os aliados e passou no teste em que foram medidas todas as suas fragilidades. Em 10 horas de depoimento na CPI do Cachoeira, Agnelo teve um palanque para se defender de denúncias que o incomodavam havia meses. Estava cercado de opositores, mas os aliados foram em maior número e deram o suporte necessário para que ele se sentisse confortável.

Agnelo chegou sorridente ao Congresso, às 10h20. Estava acompanhado dos dois advogados que construíram a estratégia de defesa, Luís Carlos Alcoforado e o criminalista José Gerardo Grossi. A comitiva do governador ainda incluía 15 dos 24 deputados distritais, quatro federais e cinco secretários de Estado. Gente que ajudou, por exemplo, a engrossar as palmas no momento em que Agnelo anunciou a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico. Em meia hora fez o preâmbulo. Falou de gestão, de herança maldita e se defendeu das suspeitas envolvendo os contratos da Delta Construções e o lobby do grupo de Cachoeira para entrar no DF.

O governador chegou escoltado por sua tropa de choque. No fronte inimigo, estavam posicionados os deputados Fernando Francischini (PSDB-PR), Carlos Sampaio (PSDB-SP) e o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Um dos autores do requerimento de convocação de Agnelo, Francischini foi o primeiro a fazer perguntas. Estava municiado com documentos sobre auditorias da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e com cópias das fotos de um prédio em Vicente Pires, que segundo ele seriam de um imóvel de propriedade do filho de Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo afastado do cargo depois da Operação Monte Carlo.

Francischini era considerado o principal algoz de Agnelo, uma vez que chegou a pedir a prisão do governador. Antes do início da sessão, deu a senha de como seria sua atuação. "Ontem, fui tchutchuca. Hoje, estou mais para tigrão." O tucano rugiu, mas não mordeu. Bem mais agressivo foi Carlos Sampaio, que chegou a subir o tom com o governador e acabou advertido pelo vice-presidente da CPI, Paulo Teixeira (PT-SP). Sampaio começou dizendo que a convocação não era um gesto da oposição, em referência à maioria governista. Em seguida, pressionou o governador a dizer quem o convidou para um evento na Vitapan — empresa farmacêutica da ex-mulher de Cachoeira, em Anápolis —, único encontro admitido por Agnelo com o contraventor, ainda como diretor da Anvisa.

Trapalhões No que foi considerado um dos momentos mais tensos, Sampaio exigiu repetidas vezes que Agnelo declinasse o nome dos anfitriões, alegando que pessoa jurídica não faz convite. O governador respondia: "A empresa". A contundência de Sampaio mais uma vez foi combatida pelos aliados de Agnelo. Passadas as intervenções, com algumas poucas exceções, Agnelo ficou em uma zona de conforto. Em alguns momentos, até cresceu. "Vossa Excelência chegou aqui como um anão e sai como um gigante", elogiou o deputado Sílvio Costa (PTB-PE), que, com sua oratória escrachada, divertiu o plenário. Em uma das tiradas, ao citar a quadrilha de Cachoeira fez alusão aos Trapalhões "Dadá, Dedé, Didi, Mussum e Zacarias". Era uma referência ao araponga Idalberto Matias, conhecido como Dadá.

Mesmo com as piadas, Agnelo não sorria. Já era meio da tarde e ele permanecia sentado amparado apenas por um copo d"água. A essa altura, já havia abordado todos os assuntos, sua passagem pelo Ministério do Esporte, a atuação na Anvisa e a evolução patrimonial, quando foi interpelado pelo tucano Vanderlei Macris (SP) sobre o preço atual da casa que comprou no Lago Sul. O petista respondeu mal-humorado: "Não sei. Não sou corretor". Daí em diante, os petistas se revezavam em elogios ao governador, com algumas poucas brechas para a oposição.

Numa das investidas da base aliada, Ronaldo Fonseca (PR-DF) arrancou risadas dos já exaustos congressistas. Ao se referir ao grupo que acompanha o governador, o deputado cometeu um deslize. "Queriam saber qual era a tropa de cheque de Agnelo". Riram todos. Oposição e governistas. Era a tropa de choque.

"Vossa Excelência chegou aqui como um anão e sai como um gigante" Sílvio Costa (PTB-PE), deputado federal