Título: O meio ambiente em nossa rotina
Autor: Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2012, Brasil, p. 10

Debates sustentáveis na Rio+20 não estão longe do cotidiano das pessoas. Leila Swerts tenta colaborar com ações em casa

Enquanto o mundo volta os olhos para a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Sustentável — Rio+20, que reúne líderes dos 193 países membros da ONU até 22 de junho, a servidora pública Leila Affonso Swerts, 53 anos, moradora da Asa Norte, tenta viver, no dia a dia, em harmonia com o meio ambiente. No Rio de Janeiro, a conferência discutirá temas como a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza. Debates sobre a escassez de alimentos e água potável no planeta, a poluição nos oceanos, o uso de energias limpas, a redução de gases nocivos ao planeta, entre outros, estarão presentes em painéis oficias e não oficiais.

Para alguns, os temas podem parecer distantes da população em geral, no entanto, no cotidiano é possível perceber cada conexão que a vida na cidade tem com o meio ambiente. Além disso, pequenas ações adotadas em casa ou no trabalho podem ajudar a minimizar efeitos que hoje são causadores, por exemplo, do aumento da temperatura do planeta e desastres naturais.

Leila Affonso vive há sete em Brasília com o marido e a filha. Em casa, ela tenta adaptar a rotina da família para evitar desperdícios. Uma das principais preocupações é com o consumo de água potável. De acordo com a ONU, cada pessoa necessita de cerca de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo e higiene. No Brasil, porém, o gasto por pessoa é quase o dobro. Leila afirma que fecha a água no banho para minimizar o desperdício, porém, ela reconhece que o esforço ambiental não é um costume de todos os membros da família. "Eu procuro economizar bastante. Quando lavo a louça, não abro muito a torneira. Já ensinei meu marido e a moça que trabalha em casa", relata.

Para evitar o desperdício e colaborar com a conscientização de mais pessoas, Leila quer implantar uma medida ambiental no condomínio onde mora. A servidora está pleiteando um sistema de individualização da medição de água, para que as contas sejam separadas. "É uma obra cara, mas necessária. Assim, as pessoas vão gastar menos", acredita. "Me considero uma pessoa preocupada com esses temas. Procuro ver no meu dia a dia como mudar hábitos para garantir uma convivência mais harmônica com o meio ambiente", avalia.

Rio+20 e você

Saiba como a sua rotina está relacionada com os temas que serão debatidos durante a conferência de desenvolvimento sustentável:

Água Ao acordar, Leila toma um banho que dura em média 10 minutos. Consciente, ela fecha o registro na hora de se ensaboar. Mesmo assim, ela gasta cerca de 90 litros de água. A média do brasileiro chega a 140 litros por banho. Hoje, 1,6 milhão de pessoas no mundo vivem em regiões com escassez absoluta de água potável. Para os próximos anos, o quadro é ainda mais pessimista: até 2025, dois terços da população mundial serão afetados pela escassez de água.

Alimento O consumo consciente é uma preocupação na casa de Leila. A servidora pública não admite desperdício de alimentos. "Quando vejo que um legume vai estragar, cozinho e congelo." Uma das principais discussões da Rio+20 é a segurança alimentar nos próximos anos. Atualmente, não há comida suficiente para alimentar 925 milhões de pessoas. Na conferência, a ONU vai alertar para um quadro ainda mais sombrio: até 2050, 20% da população mundial correrá o risco de não ter alimentos.

Lixo A separação correta do lixo em casa é para Leila a sua medida ambiental de maior sucesso. Ela tem cestas grandes na cozinha e nos banheiros para separar o lixo seco do orgânico. O condomínio tem sistema de coleta separado, e ela fez questão de verificar. Os benefícios da coleta seletiva incluem: conservação de florestas nativas e recursos naturais, diminuição da poluição do solo, ar e água, além de diminuir a quantidade de resíduos sólidos em aterros sanitários e lixões. Segundo dados que serão apresentados na conferência, moradores de cidades usam 75% dos recursos naturais do planeta.

Combustível Um dos problemas ambientais da família de Leila está na garagem. Durante a semana, são usados três carros diferentes, contribuindo para a emissão de gases nocivos na atmosfera. De forma geral, o transporte é responsável por 13% da emissão global de gases do efeito estufa, e 80% do crescimento projetado até 2030 está relacionado ao transporte rodoviário em países em desenvolvimento, principalmente aqueles com economias emergentes. "Eu moro perto do trabalho, mas o transporte público de Brasília não ajuda", justifica Leila.

Energia Painéis da Rio+20 vão debater e incentivar o uso de energias limpas, como a eólica, a solar e a biomassa. Tentando colaborar, Leila faz questão de só comprar produtos eletrônicos que tenham o selo do Inmetro de economia de energia e só usa lâmpadas fluorescentes, que chegam a gastar 79% menos energia. Uma pesquisa divulgada pela Federação do Comércio (Fecomércio) apontou que o brasileiro destina cerca de 30% da renda para os gastos com energia elétrica.

Roupas Apesar de detestar couros mais exóticos, como o de crocodilo, Leila usa sapatos de couro. Esses produtos dependem da pele de vacas e bois. Esses animais — bem como cabras, ovelhas e búfalos — são responsáveis pela emissão de gás metano, cerca de 20 vezes mais poluente que o dióxido de carbono (CO2). Estima-se que 16% da poluição mundial seja proveniente da pecuária, setor de grande destaque na economia brasileira. As mudanças climáticas causadas pela emissão de gases poluentes na atmosfera também serão destaque em painéis da Rio+20.