O globo, n.31158 , 31/11/2018. País, p.8

Lava-Jato: ex-presidente Lula é denunciado por lavagem de R$ 1 milhão

Cleide Carvalho
 
 
 

A força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo denunciou ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por lavagem de dinheiro. Segundo as investigações, ele teria recebido R$ 1 milhão, na forma de doação para o Instituto Lula, ao influenciar decisões do presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, que beneficiaram o grupo brasileiro ARG.

O controlador da empresa, Rodolfo Giannetti Geo, foi denunciado pelos crimes de tráfico de influência em transação comercial internacional e lavagem de dinheiro.

Segundo os procuradores do Ministério Público de São Paulo, o empresário procurou Lula entre setembro e outubro de 2011 e pediu que ele convencesse Obiang a contratar o Grupo ARG para construção de rodovias. Os procuradores afirmam que as provas foram colhidas nos e-mails do Instituto Lula, em operação realizada em março de 2016.

Num e-mail datado de 5 de outubro de 2011e endereçado a Clara Ant, diretora do Instituto Lula, o ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula Miguel Jorge afirmou que o ex-presidente havia dito a ele que gostaria de falar com Rodolfo Giannetti Geo sobre o trabalho da empresa na Guiné Equatorial. Na mesma mensagem, Miguel Jorge afirma que a empresa estava disposta a fazer uma contribuição financeira “bastante importante” ao Instituto Lula.

Em maio de 2012, o empresário enviou a Clara uma carta digitalizada de Teodoro Obiang para Lula e pediu que fosse agendado um encontro com o ex-presidente para a entrega da carta original. Ele diz que viajaria para a Guiné Equatorial no dia 20 de maio e que gostaria de levar a resposta de Lula a Obiang.

Na carta, o presidente da Guiné Equatorial pediu que Lula intercedesse junto à presidente Dilma Rousseff para que o país ingressasse na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

No dia 21 de maio, Lula escreveu uma carta para Obiang, mencionando uma conversa entre ambos por telefone, no qual afirma que acreditava que o país poderia ingressar, futuramente, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Acarta foi entregue ao presidente da Guiné Equatorial pelo empresário Rodolfo Geo. Na carta, Lula cita o empresário e diz que ele dirige a ARG, “empresa que já desde 2007 se familiarizou com a Guiné Equatorial, destacando-se na construção de estradas.”

A força-tarefa identificou pagamento, via transferência bancária, de R$ 1 milhão pela ARG ao Instituto em 18 de junho de 2016. A entidade emitiu recibo da doação. Os procuradores dizem que “não se trata de doação, mas pagamento de vantagem a Lula “.

A defesa de Lula divulgou nota afirmando que a denúncia “subverte a lei e os fatos para fabricar uma acusação e dar continuidade a uma perseguição política sem precedentes pela via judicial” e é mais um “golpe no estado de direito”. A defesa disse ainda que a doação da empresa foi contabilizada e declarada, e que a acusação é construída “com base na retórica, sem apoio em qualquer conduta específica praticada pelo expresidente Lula".