O globo, n.31158 , 27/11/2018. País, p.6

General em ministério tira poderes de ONYX

Jailton de Carvalho

Eduado Bresciani

 

 

Quarto general da reserva do Exército a integrar o primeiro escalão do presidente eleito Jair Bolsonaro, Carlos Alberto dos Santos Cruz foi anunciado ontem o futuro titular da Secretaria de Governo da Presidência. Atualmente ded ica da à articulação política como Congresso, a pasta deve mudar de perfil, tornando-se uma espécie de coordenação de projetos do Executivo. A relação do governo com deputados e senadores deve ser assumida pela Casa Civil de Onyx Lorenzoni.

Escolha pessoal de Bolsonaro, Santos Cruz agrada ao chamado “núcleo militar” do Palácio do Planalto, composto pelo futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão. Mas provoca descontentamento na ala “civil ”, principalmente no entorno de Onyx, que terá de dividir seu poder.

Ciente do desconforto, Bolsonaro telefonou para Onyx na noite de domingo, pouco depois de acertara indicação do general. Numa conversa de 30 minutos, o presidente eleito falou dos seus planos para o governo na nova configuração. A auxiliares, Onyx não escondeu o descontentamento com o que considera um “ataque especulativo” da ala militar, que desde o início da transição viu-se incomodada com os poderes da Casa Civil.

No desenho original do governo Bolsonaro, Onyx teria atribuições comparáveis apenas aos poderes do ex-ministro José Dirceu no início do governo Lula. A nova configuração, bem mais modesta — semelhante à da petista Ideli Salvatti na extinta Secretaria de Relações Institucionais —, será discutida hoje em uma reunião de Bolsonaro com o gabinete de transição. Onyx apresentará ao presidente eleito a configuração final do governo e, segundo auxiliares, espera demover o presidente de algumas decisões que enfraquecem a Casa Civil.

A escolha de mais um general do Exército para o primeiro escalão reforçou a identidade militar do futuro governo, o que levou Santos Cruz a afastar comparações com governos militares.

—Não significa um governo de pensamento militar, de militarização. Não tem nada disso. Simplesmente são pessoas conhecidas dentro de um ambiente profissional, não representando ali as Forças Armadas. As escolhas foram decisões pessoais. Não pode confundir a escolha de pessoas que são militares da reserva com um governo militar. São coisas completamente distintas —afirmou o general, numa entrevista por telefone.

Ontem, ao falar da missão recebida de Bolsonaro, o general Santos Cruz discorreu sobre o atual perfil da Secretaria de Governo, condenando o fisiologismo que marcou as relações da Presidência com o Legislativo em outras gestões.

—O jogo depressão é essência da democracia. Os governos funcionam por jogos de pressão da mídia, dos grupos sociais, dos partidos políticos, das pessoas. Enfim, é um jogo normal, tem que funcionar assim. Não é problema nenhum. O que está errado é o “toma lá dá cá”, principalmente quando não envolve interesse público. Quando fica nos interesses pessoais ou de grupos —disse.

Santos Cruz está em Bangladesh desde a semana passada, onde ministra um curso para oficiais de missões de paz da ONU (Organização das Nações Unidas).

Ontem, aliados de Bolsonaro disseram ao GLOBO que a versão final do ministério poderá ter até 19 pastas. Bolsonaro já anunciou 14 ministros.

 

Generais no governo Bolsonaro

> O general da reserva Hamilton Mourão foi eleito vice-presidente da República. Ele é presidente do Clube Militar, foi secretário de Economia e Finanças do Exército e comandante militar do Sul.

> O general da reserva Augusto Heleno foi escolhido para chefiar o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI). Ele faz parte da equipe mais próxima de Bolsonaro.

> O general da reserva Fernando Azevedo e Silva foi anunciado para o Ministério da Defesa. Ele estava no Supremo Tribunal Federal como assessor do presidente da Corte, Dias Toffoli.

> O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz foi indicado ontem para a Secretaria de Governo.