O Estado de São Paulo, n. 45655, 17/10/2018. Internacional, p. A13

 

Maconha passa a ser legal no Canadá

17/10/2018

 

 

Produtores de bebidas alcoólicas investem no mercado de Cannabis para aproveitar setor que deve render US$ 4 bilhões em 2019

 

Liberou. Funcionário cultiva plantação de maconha em empresa em Ontário; Canadá é segundo país do mundo a legalizar o uso recreativo da droga

A partir de hoje a maconha passa a ser legal no Canadá e o país será o segundo no mundo, ao lado do Uruguai, a autorizar o consumo recreativo da droga. A liberação, aprovada em agosto, abre um dos maiores mercados da América do Norte para uma indústria que pode render até US$ 4 bilhões em 2019 e deixa em alerta produtores americanos, que temem perder espaço para os canadenses.

A liberação foi celebrada não apenas por consumidores, mas pelos principais produtores de álcool do mundo, que captaram o fenômeno de jovens cada vez mais dispostos a trocar o álcool por bebidas e produtos que contenham Cannabis.

Pesquisadores da Universidade de Connecticut e da Georgia State University descobriram no ano passado que as vendas de álcool caíram 12,4% em condados dos EUA onde a maconha medicinal foi legalizada.

A Constellation Brands, fabricante da cerveja Corona e da vodca Svedka, investiu US$ 4 bilhões de dólares na empresa canadense de maconha Canopy Growth. “O mercado que se abre é uma das mais importantes oportunidades de crescimento global da próxima década”, disse o presidente da Constellation, Robert Sands. As vendas de maconha legalizada e de produtos derivados devem chegar a US$ 200 bilhões em 15 anos.

A Diageo, maior produtora mundial de bebidas alcoólicas, que inclui a vodca Smirnoff e o uísque Johnny Walker, está em negociação com produtores canadenses. A cervejaria Molson Coors também anunciou parceria com a The Hydropothecary Corporation of Canada.

Os fabricantes de refrigerantes, que viram suas vendas caírem em razão do alto teor de açúcar, não podem se dar o luxo de ignorar a crescente demanda. A Coca-Cola está discutindo a produção de bebidas de Cannabis com a canadense Aurora Cannabis, e a PepsiCo também estuda o assunto.

A maioria dos produtores está mirando o mercado de tipos de maconha que não se fuma. O consumidor moderno quer extratos, cremes corporais e produtos comestíveis. O Canadá vai começar com cautela. A partir de hoje, o país limitará as vendas de maconha à tradicional forma de flor e seus botões secos, e a um óleo, que as empresas planejam vender em cápsulas de gel.

Mudança. “Projetamos que produtos derivados vão superar as flores em todos os mercados do mundo”, disse Michael Gorenstein, CEO da Cronos Group, uma produtora canadense licenciada com sede em Toronto que também opera na Europa. Com o tempo, os vaporizadores, provavelmente, se tornarão a maior categoria, seguidos por produtos comestíveis, tópicos e bebidas.

A Cannabis ainda é proibida pela lei federal dos EUA, mas nove Estados americanos legalizaram seu uso recreativo, enquanto outros suavizaram sua proibição.

Nos Estados que legalizaram a maconha, as flores representam 50% do mercado, mas estão em declínio. A consultoria Deloitte projetou em um relatório que, no Canadá, seis de cada dez prováveis consumidores de Cannabis optarão por produtos comestíveis após a legalização.

O Canadá pode registrar 4,5 bilhões de dólares canadenses (US$ 3,5 bilhões) em vendas de flores em 2019, mas a receita da Cannabis poderia aumentar mais 30% se o governo aprovar produtos comestíveis e vaporizadores. O governo canadense deve autorizar os produtos comestíveis no quarto trimestre de 2019./AFP e W.POST

 

POTENCIAL

US$ 200 bi

é o total das vendas de maconha legalizada e de produtos derivados da cannabis no Canadá, em 15 anos, segundo consultorias. Só em 2019, a indústria deve render US$ 4 bilhões.

 

AVANÇO GLOBAL

Lei de 2013 aprovou a regulamentação da produção, da comercialização e do consumo de maconha, tornando o Uruguai o primeiro país do mundo a legalizar todas as pontas do negócio

 

Estados dos EUA

Colorado, Califórnia, Nevada, Massachusetts, Maine, Alasca, Vermont, Washington (Estado) e Washington (capital) legalizaram o consumo. Outros 39 Estados permitem uso limitado. Apenas 4 Estados proíbem totalmente: Kansas, Idaho, Dakota do Sul e Nebraska.

 

Portugal

Todas as drogas foram descriminalizadas em 2001 e as sanções penais foram substituídas por civis

 

Holanda

Consumo permanece ilegal, mas é ‘tolerado’ em pequenas quantidades e em locais específicos

 

África do Sul

Em setembro, em decisão unânime, Suprema Corte descriminalizou cultivo e consumo de maconha para uso pessoal e em ambiente privado