Título: Sem acordo, país assume negociação
Autor: Filizola, Paula; Luiz, Edson; Braga, Julliana
Fonte: Correio Braziliense, 15/06/2012, Brasil, p. 9

Comitê Preparatório que formula documento para ser analisado pelos chefes de Estado não chega a consenso. A partir de amanhã, o Brasil presidirá o grupo, que tem como grande impasse os investimentos financeiros

Membros do Comitê Preparatório não concordam sobre as metas, os programas, os conceitos da economia verde, entre outras discussões

As negociações entre os delegados dos 193 países, integrantes do Comitê Preparatório que elabora o documento final da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável — Rio+20, devem se estender até o fim de semana. A previsão é do diretor da divisão de Desenvolvimento Sustentável da ONU, Nilchil Seth, que reconheceu ontem o pedido de mais tempo feito por diplomatas. O prazo inicial se encerra hoje, mas as nações ainda não chegaram a um consenso sobre a definição de metas, as tecnologias, os financiamentos, a capacitação de pessoas para a execução de programas relacionados a sustentabilidade, a compreensão sobre o que significa e representa a economia verde, bem como a criação de novas instituições.

Diante dos impasses, o Brasil, como sede do evento, assume a partir de amanhã a presidência das discussões, com o encerramento oficial do Comitê Preparatório. Segundo o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, a última parte do documento, que versa sobre os meios de implementação, é a que está gerando maiores impasses. "Nossa função, como anfitriões, é buscar explorar vias de acordo. Faremos isso sem abandonar a postura do Brasil como membro e continuaremos perseguindo as nossas ideias próprias e ambiciosas para a conferência", afirmou. Ainda assim, ele disse que o país não tem um texto alternativo a apresentar. "Não é o caso. O Brasil terá, quando necessário, sugestões que serão dadas aos negociadores diante das divergências", garantiu.

O embaixador reconheceu que há uma grande dificuldade em convencer os países desenvolvidos a assumir compromissos de investimento neste momento de crise financeira mundial. "Não há dúvidas que há uma retração forte de países antes doadores que se veem com dificuldades até de justificar internamente uma postura mais solidária. Não tendo os meios, como vamos nos comprometer com ações? Isso faz parte das negociações, encontrar maneiras", afirmou Luiz Alberto.

O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, afirmou que o governo está trabalhando para encontrar as convergências necessárias que possibilitem submeter aos chefes de Estado um texto limpo para aprovação. "É natural que haja dificuldades, é próprio do processo democrático." Patriota ainda defendeu uma agenda positiva como resultado da conferência. "Nós temos que advertir para esses riscos. A agenda aqui é a de objetivos que congreguem, somem e, sobretudo, dêem atenção às necessidades dos países menos desenvolvidos", disse.

Um dos principais pontos de conflito refere-se a criação de um fundo de U$ 30 bilhões pelo grupo do G77+China para o desenvolvimento sustentável. A medida seria uma das soluções para o polêmico tema "meios de implementação". Na avaliação do embaixador brasileiro André Corrêa do Lago, negociador-chefe da delegação do Brasil, os países ricos receberam mal a proposta — rejeitada por Estados Unidos e o bloco da União Europeia. "Quando se fala em dinheiro, de recursos novos e financeiros, é um problema", disse.

Biodiesel Ontem, em Brasília, após solenidade em que lançou um selo de boas práticas às indústrias de cana-de-açúcar, a presidente Dilma Rousseff deu uma resposta aos temores internacionais de que a produção do biodiesel pode ser um problema para a preservação da Amazônia. Segundo ela, ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi feito um zoneamento agroecológico e que, desde aquela época, ficou provado que a produção de cana está longe da Amazônia. "Nós estamos dando um passo no sentido de cada vez mais mostrar que é possível sim, e esse é o tema da Rio+20, produzir, respeitando o meio ambiente e a legislação social. Produzir energia limpa", afirmou Dilma.

Na mesma solenidade, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que, apesar do cancelamento da participação de alguns chefes de Estado, o governo brasileiro não teme que a conferência seja esvaziada. "Nós temos que olhar é para os que vêm", desconversou o ministro. "Temos cento e tantos chefes de Estado presentes. É claro que há a ausência de alguns... Mas aí é uma responsabilidade que não é nossa, é deles. Quem vai perder são eles", criticou Gilberto. No fim da tarde de ontem, haviam rumores de que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teria mudado de ideia e pode vir ao encontro. O fato teria sido causado pela mudança na rotina da segurança do evento.

"Temos cento e tantos chefes de Estado presentes. É claro que há a ausência de alguns... Mas aí é uma responsabilidade que não é nossa, é deles. Quem vai perder são eles" Gilberto Carvalho, ministro

Agenda

Principais eventos de hoje » Último dia da 3ª Reunião do Comitê Preparatório para a Rio+20 que discute as propostas que serão negociadas pelos chefes de Estado.

» Começa, no Aterro do Flamengo, a Cúpula dos Povos, que reúne organização não governamentais para discutir temas que não serão levados à Conferência da ONU.

» Na Arena da Barra será discutidos os desafios da inclusão social e possibilidades de combate à pobreza. A promoção de habitações de interesse social e os programas de conservação do patrimônio cultural edificado.

» Também na Arena da Barra será realizada a Conferência sobre Potencial de Crédito de Carbono nas Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal em Projetos de Assentamentos Gerenciados pelo Incra no Bioma Caatinga.

» No Parque dos Atletas será debatido o tema Poder Judiciário Federal e a Rio+20: diálogos interinstitucionais e experiências inovadoras.