Título: O varejo perde força
Autor: Martins, Victor; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 15/06/2012, Economia, p. 11

fórmula do governo para combater a crise tem obtido resultados limitados neste primeiro semestre. O varejo, uma das principais apostas para reativar a economia, cresceu apenas 0,8% em abril — um número considerado decepcionante e que evidência a fragilidade de segmentos dependentes de crédito, a exemplo de veículos e eletrodomésticos. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam ainda que a fraqueza no consumo se disseminou por outros ramos: as vendas nos supermercados, um termômetro da demanda, encolheram pelo terceiro mês seguido, ao caírem 0,7% em abril. O diagnóstico dos economistas é de que as famílias pisaram no freio para tentar reorganizar as contas.

O desempenho do comércio varejista é mais um indicativo que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) deve ser ruim neste ano, no máximo semelhante ao do ano passado, quando o Brasil cresceu 2,7%. Pelos números do IBGE, as vendas caíram pela metade entre 2011 e 2012. Enquanto na comparação entre março e igual mês do ano passado as vendas subiram 12,5%, em abril, nessa mesma base de comparação o dado desacelera para 6%. "As medidas de estímulo já estão defasadas tendo em vista os dados que o mercado vem apresentando", destacou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. "Para que haja, de fato, respostas positivas, o governo precisa rever suas estratégias e começar a investir em vários setores", disse.

Renda comprometida Uma análise da consultoria LCA mostrou que no primeiro trimestre do ano as vendas nos setores ligados ao crédito cresceram 1,6%, muito inferior aos 6% de expansão dos segmento mais dependentes da renda, como os supermercados. "O crédito ainda está caro, o consumidor está esperando os juros baixarem mais", explicou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes.

Apesar de descartado pela presidente Dilma Rousseff nesta semana como responsável pela queda no consumo, o endividamento das famílias é apontado por especialistas como uma das causas do ritmo mais lento do varejo e da economia. A fatia da renda do brasileiro comprometida com dívidas bateu recorde e, pelos dados do Banco Central, atingiu 42,95% em março. Por isso, a redução no ritmo das compras e dos financiamentos.

Paulo Neves , economista da consultoria LCA, ponderou que o brasileiro já atendeu a boa parte do seu desejo de consumo, reprimido por anos de inflação alta. Agora, o ritmo de compras deve avançar a taxas menores. "O consumidor brasileiro teve uma demanda reprimida de quase 30 anos. Daí, o boom de consumo na era Lula. Agora, o efeito é menor. Quem comprou uma geladeira há três ou quatro anos não vai querer trocar o produto agora", argumentou.

Ainda pelos dados do IBGE, a recuperação do segmento de veículos, mesmo com a queda do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e dos juros, ainda não está a pleno vapor. O setor passou de uma queda de 1,4% nas vendas em março para um aumento de 0,2% em abril.