O globo, n. 31121, 21/10/2018. País, p. 10

 

Bolsonaro quer fim da reeleição e Congresso 20% menor

Jussara Soares

21/10/2018

 

 

Sem detalhar a proposta, candidato do PSL defende reforma política e diz que a nova regra já valeria para ele próprio

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, defendeu ontem o fim da reeleição e disse que, se sair vitorioso nas urnas no próximo domingo, a nova regra já passaria a valer para ele próprio. Sem detalhar a proposta, o capitão da reserva afirmou ainda que atuará por uma reforma política que reduza o número de parlamentares em até 20%.

— Um presidente não tem autoridade de fazer reforma política, cada parlamentar vota de acordo com seu interesse. O que eu pretendo fazer, tenho conversado com o Parlamento também, é fazer uma excelente reforma política para acabar com o instituto da reeleição, que, no caso, começa comigo, se eu for eleito, e diminuir um pouco, 15% ou 20%, a quantidade de parlamentares — afirmou Bolsonaro.

Em entrevista a jornalistas na casa do empresário Paulo Marinho, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, onde tem gravado seus programas eleitorais, o candidato também sinalizou que pode manter nome s de Michel Temer (MDB) em um eventual governo. No entanto, se recusou a dizer quem. Questionado se o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, será mantido no cargo, como vem sendo especulado, Bolsonaro foi evasivo:

— Eu não sei se (Goldfajn) vai ser mantido. O que está dando certo tem que continuar. Não vou dizer que tudo está errado no governo Temer — disse, afirmando que a queda do dólar teria relação mais com a eleição do que com a atuação direta do presidente do Banco Central.

— O dólar caiu muito mais por pesquisa do que por ação dele. O presidenciável afirmou que , caso eleito, o nome de um presidente para o Banco Central será decidido junto com o seu consultor para a área econômica, Paulo Guedes. Ele ainda atacou seu adversário Fernando Haddad (PT) por se consultar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.

— Não (tenho um nome para o Banco Central), isso eu converso com o Paulo Guedes. Eu prefiro conversar com ele do que outro candidato conversar com o presidiário —atacou. Bolsonaro disse que o astronauta Marcos Pontes, capitão da Aeronáutica, deve anunciado para a pasta da Ciência e Tecnologia de seu eventual governo:

— Vem o quarto ministro aí, mais um militar. É o coronel da aeronáutica Marcos Pontes. (Está) Quase confirmado — afirmou, adiantando que a proposta é separar a Ciência de Tecnologia da área de Comunicações, atualmente juntas em um mesmo ministério sob comando de Gilberto Kassab (PSD). Segundo o candidato, a pasta de Comunicação terá papel de destaque em seu possível governo.

— Continuaremos defendendo a imprensa livre, diferentemente do plano camaleão do PT — disse, referindo-se a mudanças no programa de governo de Fernando Haddad. Mais uma vez, Bolsonaro voltou a comentar as denúncias de que sua campanha estaria fazendo disparo irregular de notícias falsas pelo WhatsApp:

— Eu não preciso de ‘fake news’, arranjando dinheiro para jogar fora do Brasil. Dinheiro de onde? Não tenho esse tipo de contatos com bandidos. Quem tem é o PT. Ontem, Bolsonaro gravou entrevistas para emissoras do Nordeste, onde a campanha vai focar nos próximos dias.

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Haddad chama adversário de 'soldadinho de araque'

Sérgio Roxo

21/10/2018

 

 

Petista esteve no Ceará, mas irmãos Cid e Ciro Gomes não acompanharam a agenda

Em sua primeira atividade de rua no segundo turno da disputa presidencial, o candidato Fernando Haddad(PT) endureceu o discurso contra Jair Bolsonaro (PSL) e chamou o adversário de “soldadinho de araque”.

O petista fez campanha ontem no Ceará , estado em que tenta herdar os votos de Ciro Gomes , apesar do “apoio crítico” dado pelo pedetista. Nem o terceiro colocado presidencial nem seu irmão, o senador eleito Cid Gomes, acompanham Haddad nas atividades. Em um comício realizado após uma caminhada em Fortaleza, o petista novamente acusou Bolsonaro de tentar fraudar as eleições por meio de envio de notícias falsas pelo WhatsApp .

— Vem falar da minha família na minha cara, vem falar dos meus bens. Vem me enfrentar. Soldadinho, soldadinho de araque. Não está preparado para presidir a República —disse Haddad, com tom de voz mais agressivo que o habitual. Haddad ainda se referiu a uma fala do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEMRS), que descartou a possibilidade de Bolsonaro ir a debates porque a bolsa de colostomia colocada após a facada “expele odores”.

— Por que ele foge de debate? O possível ministro da Casa Civil dele (Onyx), que é tão desqualificado quanto ele, diz que ele foge do debate porque fede. Ele não mentiu. Faz 28 anos que ele está no Congresso Nacional e só vomita barbaridades — atacou o candidato do PT. Em entrevista após o ato, Haddad minimizou a ausência de Ciro em sua campanha, mas admitiu o interesse pelos votos do pedetista.

— O Ciro é um grande brasileiro. Mesmo tendo sido crítico, o apoio dele é muito importante. Mais tarde, em Juazeiro do Norte, Haddad foi questionado sobre a ausência de Cid. O petista respondeu que a pergunta deveria ser feita ao senador eleito e novamente destacou ser amigo do irmão de Ciro.