Título: Cidade fantasma na Síria
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Fonte: Correio Braziliense, 15/06/2012, Mundo, p. 18

Motociclista passa diante de lojas abandonadas, em Al-Haffeh: 26 mil fugiram

Uma delegação da Organização das Nações Unidas (ONU) chegou ontem a Al-Haffeh (noroeste) e encontrou a cidade quase deserta, com prédios públicos incendiados, lojas abandonadas e um cadáver na rua, conforme relato de um fotógrafo da agência de notícias Reuters. Após oito dias de intensos combates entre forças leais ao ditador Bashar Al-Assad e combatentes rebeldes, os monitores conseguiram entrar em Al-Haffeh, cerca de 48 horas após serem atingidos por pedras lançadas por moradores indignados.

Com o acesso garantido ontem, os monitores da ONU encontraram uma cidade entregue às moscas, com fumaça saindo de prédios destruídos, carros queimados pelas ruas e indícios de fortes bombardeios. Segundo relato de um dos poucos moradores vistos pela equipe das Nações Unidas, mais de 26 mil pessoas fugiram de Al-Haffeh durante os confrontos entre forças pró-governo e manifestantes de oposição.

Os rebeldes deixaram a cidade nesta semana, alegando que os cidadãos que insistiam em permanecer no local se aventuravam e corriam o risco de serem "mortos a sangue frio". O aviso foi reforçado pela própria ONU. De acordo com o Observatório Sírio para Direitos Humanos (OSDH), a repressão aos protestos contra Al-Assad e as combates entre forças rebeldes e tropas e milícias do governo deixaram 77 mortos apenas ontem.

Atentado Considerado um dos lugares mais sagrados para os xiitas e situado nos arredores de Damasco, o mausoléu de Zeynab — dedicado a Sayyida Zeynad, neto de Maomé — foi alvo de um atentado suicida com carro-bomba que feriu 14 pessoas. Segundo a imprensa estatal, o autor do ataque também morreu. A maioria da população síria pertence à corrente sunita do islã. Al-Assad faz parte da minoria alauíta, oriunda do xiismo. Kofi Annan, enviado especial da ONU e da Liga Árabe à Síria, advertiu recentemente que o levante popular pode levar a uma guerra religiosa. Desde março de 2011, mais de 14,5 mil pessoas morreram.