O Estado de São Paulo, n. 45650, 12/10/2018. Política, p. A4

 

Bolsonaro já anuncia três nomes para seu Ministério

12/10/2018

 

 

Eleições 2018 Equipe / Time. Paulo Guedes (Fazenda e Planejamento), general Heleno (Defesa) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) foram indicados por candidato durante evento com parlamentares

 

Defesa. General Augusto Heleno quer proteção a policiais

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) anunciou ontem três futuros ministros caso seja eleito. Durante um encontro do partido em um hotel na Barra da Tijuca, no Rio, ele indicou o economista Paulo Guedes como seu ministro da Fazenda e do Planejamento; o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEMRS), seu principal articulador no Congresso, para a Casa Civil; e o general Augusto Heleno na Defesa.

“Num primeiro momento, tive que convencê-lo, mas ele, como bom militar, aceitou de pronto”, disse o candidato sobre Heleno. Bolsonaro afirmou que ainda não se definiu sobre nomes para os outros ministérios. “Temos de esperar com prudência o dia 28 de outubro, onde podemos ter a certeza de anunciar nomes”, disse, se referindo à data votação em segundo turno – que disputa com o candidato do PT, Fernando Hadad.

Segundo produtores do evento, a convenção juntou cerca de 150 parlamentares eleitos do PSL e apoiadores. A reunião no Hotel Windsor Barra, na zona oeste da capital fluminense, durou cerca de 20 minutos e foi fechada à imprensa. Depois, Bolsonaro foi para outro salão onde respondeu durante 25 minutos a perguntas de repórteres. A sala onde aconteceu a coletiva foi tomada por apoiadores, que reagiam com aplausos a cada resposta dada por Bolsonaro e hostilizavam jornalistas (mais informações na pág. A6).

Uma das sete perguntas a que Bolsonaro respondeu foi se ele daria apoio do partido em disputas de segundo turno para governos estaduais. Ele disse que seu partido vai manter a neutralidade, com exceção daqueles em que o PSL está no páreo.

“Essa é a missão mais importante. Nas disputas estaduais onde tem candidato nosso, vamos nos empenhar. Nos demais Estados, vamos partir para a neutralidade. Afinal de contas, meu objetivo é 17, o nosso número para que possamos mais do que repetir a última votação e garantir a nossa eleição”, afirmou à plateia.

Vice. Autor de declarações polêmicas, candidato a vice-presidente de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, não compareceu ao evento. Ao Estado, Mourão, do PRTB, disse que não foi ao evento porque tinha uma reunião “com companheiros” de sua turma da Academia Militar das Agulhas Negras, que aconteceu também no Rio.

Na coletiva de imprensa, Bolsonaro voltou a defender o candidato a vice em sua chapa, dizendo que sua fala sobre o 13.º salário (ele classificou o direito trabalhista como uma jabuticaba, ou seja, algo que só existe no Brasil) foi mal compreendida e que, em vez disso, seu vice propõe o pagamento do benefício no programa social Bolsa Família. A ideia, segundo Bolsonaro, já teria sido aprovada também pelo assessor econômico Paulo Guedes.

O anunciado ministro da Fazenda e do Planejamento foi outra ausência notada no evento. Um dos representantes da campanha, o deputado federal e senador eleito Major Olímpio (PSLSP) disse que o economista não foi porque o evento era apenas para parlamentares eleitos.

O deputado federal Onyx Lorenzoni defendeu Paulo Guedes, em quem disse que Bolsonaro confia “absolutamente”, mas não “cegamente”.

“O (candidato a) presidente (Jair Bolsonaro) é inflexível nesses assuntos. O presidente confia absolutamente, não cegamente, porque ele não é cego, no professor Paulo Guedes. Paulo Guedes é um homem que tem uma história no Brasil de êxito com decência. Desconfio de que só agora, à beira da eleição, aparece essa história. Por que não apareceu antes? É a grande pergunta”, afirmou Lorenzoni, após a reunião de Bolsonaro com a bancada do PSL e parlamentares eleitos por outros partidos que o apoiam.

O Ministério Público Federal do Distrito Federal abriu um procedimento para investigar operações envolvendo dinheiro público de fundos de pensão de estatais e fundos de investimento operados por Guedes.

Em relação ao apoio parlamentar para aprovar propostas do eventual governo Bolsonaro, Lorenzoni disse que, a partir de 29 de outubro, “se o povo brasileiro decidir”, a equipe do candidato do PSL começará a trabalhar para colocar em prática os “conceitos” do programa de governo.

Debates. O candidato do PSL indicou que poderá não participar de debates com Haddad, seu oponente no segundo turno. Bolsonaro, que, por ordem médica, terá de ficar fora dos confrontos até o dia 18, admitiu que considera a possibilidade de, mesmo liberado, não debater com o petista. “Existe a possibilidade sim (de não ir a nenhum debate), estratégica.”

O presidenciável do PSL está afastado da campanha de rua desde 6 de setembro, quando foi esfaqueado durante uma agenda eleitoral na cidade mineira de Juiz de Fora.

 

PRIMEIROS INDICADOS

1. Paulo Guedes

Economista, de 69 anos, tem mestrado pela Universidade de Chicago, considerado o berço do pensamento liberal. É um dos fundadores do banco BTG Pactual e do Instituto Millenium, e é sócio da Bozano Investimentos. “Guru” econômico de Bolsonaro, por quem é chamado de “Posto Ipiranga”, coordena equipe de profissionais que elaboram o plano econômico de governo do candidato do PSL. É ferrenho defensor das privatizações das estatais e causou polêmica ao sugerir a adoção de um imposto único, nos moldes da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Após a repercussão negativa do episódio, o economista disse ter sido “um equívoco enorme”.

 

2. General Augusto Heleno

General da reserva do Exército, Heleno, de 70 anos, foi comandante militar da Amazônia e chefe da missão de paz da ONU no Haiti, entre 2004 e 2005. É conselheiro de Bolsonaro para assuntos de segurança e defesa. Chegou a ser cotado para vice na chapa, mas o partido ao qual se filiou, o PRP, não apoiou o candidato. No dia seguinte à facada a Bolsonaro, culpou “parte da imprensa” pelo atentado.

 

3. Onyx Lorenzoni

Deputado federal pelo DEM do Rio Grande do Sul, está em seu quarto mandato na Câmara. Foi escalado para a articulação política. Uma semana após o atentado a Bolsonaro, protocolou uma representação criminal na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os advogados do autor confesso, sugerindo que respondam por organização criminosa, crimes contra a segurança nacional, terrorismo e contra a ordem tributária. Relator na Câmara do projeto das Dez Medidas Contra a Corrupção, idealizado pelo Ministério Público Federal, Lorenzoni foi o primeiro político a assumir, em entrevista, ter recebido recursos de caixa 2 da JBS. Ele disse que R$ 100 mil foram doados por uma subsidiária da empresa no Rio Grande do Sul por meio de uma pessoa da confiança dele.