O Estado de São Paulo, n. 45649, 11/10/2018. Política, p. A8

 

Candidatos montam seus times no 2° turno

Ricardo Galhardo, Tânia Monteiro e Constança Rezende

11/10/2018

 

 

 Recorte capturado

Eleições 2018 Equipes de campanha /  Novos aliados de Haddad são integrados a campanha; Bolsonaro mantém estrutura

Enquanto o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, reformula sua equipe de campanha para agregar nomes indicados por partidos que o apoiam no segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL) se mantém fiel à estrutura que montou no primeiro turno, dividida em núcleos. São estes nomes que devem compor um novo governo a depender de quem for eleito.

Formada inicialmente por integrantes do PT, do PC do B e PROS escolhidos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato, a equipe de Haddad tem agregado representantes de partidos recém aliados e parlamentares que encerraram suas próprias campanhas e agora estão livres para ajudar a candidatura do ex-prefeito.

O principal deles é Jaques Wagner, eleito senador pela Bahia. Ele chegou a São Paulo na segunda-feira e imediatamente ganhou papel de destaque na campanha assumindo a função de atrair apoios que possam dar à candidatura de Haddad o caráter de uma ampla frente democrática e ofuscando outras lideranças que exerciam papel semelhante no primeiro turno.

Além dele foram integrados os três vice-presidentes do PT, Alexandre Padilha, Marcio Macedo e Paulo Teixeira, e o expresidente do partido Rui Falcão, todos saídos de disputas para a Câmara. A própria presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que passou as últimas semanas afastada fazendo sua campanha para deputada no Paraná, voltou para reassumir suas funções na eleição de Haddad.

O PSB, que ontem declarou apoio ao petista, também terá assento na coordenação. Depois que o PDT declarou apoio crítico ao PT, o partido espera que Ciro Gomes, em caráter pessoal, também seja incluído. Governadores aliados eleitos e outro candidato derrotado, Guilherme Boulos (PSOL), terão tarefas no segundo turno.

Um segundo grupo, mais amplo, a coordenação política, inclui representantes dos partidos aliados, movimentos sociais como CUT, MST, MTST e CMP e colaboradores como Franklin Martins, Celso Amorim, José Genoino e Aloisio Mercadante, além dos parlamentares, governadores e demais recém integrados. Existe ainda o grupo dos assessores pessoais de Haddad, formado por Leonardo Barchini, Frederico Assis, Laio Moraes e Nunzio Briguglio, todos egressos da Prefeitura de São Paulo.

Bolsonaro. Três grupos independentes trabalham na campanha do candidato do PSL. O principal deles fica no Rio de Janeiro e é comandado diretamente por Bolsonaro. É o chamado núcleo familiar, que reúne além do candidato, seus filhos e os apoiadores políticos, com destaque para o presidente do PSL, Gustavo Bebianno.

O segundo grupo é o econômico, comandando por Paulo Guedes, mas que reúne um grande número de economistas para tratar do planejamento macroeconômico e discutir as primeiras medidas a serem adotadas pelo futuro governo, caso o capitão reformado seja eleito.

Bolsonaro já avisou que quer reduzir dos atuais 29 ministérios para a metade, algo em torno de 15. Mas as áreas que serão reunidas não estão definidas.

Propor como essas áreas distintas passariam a funcionar de forma integrada e coordenar os projetos de desenvolvimento de maneira que eles “conversem entre si” estão entre as metas do terceiro núcleo. Com sede em Brasília, é formado, em sua maioria, pelos militares da reserva, tendo o general Augusto Heleno à frente.

 

Esplanada

15 ministérios

Jair Bolsonaro pretende manter caso seja eleito. Atualmente, o número é 29. Ele, no entanto, ainda não detalhou quais serão preservados.

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Guedes chefia 28 grupos temáticos e 30 colaboradores

Renata Agostini

11/10/2018

 

 

Núcleo duro é formado por economistas fiéis ao conselheiro de Bolsonaro, entre eles Marcos Cintra e Carlos Von Doellinger

Quando Jair Bolsonaro dirigiu-se aos seus eleitores pela primeira vez após o resultado do primeiro turno das eleições, no domingo, somente um dos auxiliares que se reuniram em sua casa naquele dia o ladeava. À direita do candidato à Presidência do PSL, o economista Paulo Guedes acompanhou calado e sério o pronunciamento feito pelas redes sociais, no qual Bolsonaro condenou os ideais comunistas e prometeu tirar o Estado “do cangote de quem produz”.

Peça central da estratégia de Bolsonaro para convencer o público de sua conversão ao liberalismo econômico, Guedes ganhou protagonismo nas comunicações da campanha e autonomia para liderar discussões internas sobre o programa. Do Rio, ele coordena 28 grupos temáticos que estão construindo as bases do plano de um eventual governo de Jair Bolsonaro.

Cada um desses times tem um especialista de referência, que a pedido do economista enviou sugestões ou passou a trabalhar diretamente integrado à campanha. No total, são cerca de 30 colaboradores, entre doutores em economia, professores, advogados, pesquisadores e integrantes de órgãos do governo federal. Eles contribuem com temas que vão desde desestatização e reforma tributária a meio ambiente e segurança pública. Há um grupo que versa até sobre medidas de “apoio à família”.

O núcleo duro é composto por economistas de confiança de Guedes, que ganharam o status de coordenadores de suas respectivas áreas. São eles Marcos Cintra, ex-deputado e atual presidente da Finep; Rubem Novaes, ex-diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e doutor em economia pela Universidade de Chicago; Carlos Von Doellinger, ex-secretário do Tesouro Nacional; Carlos Alexandre da Costa, ex-diretor do BNDES e doutor em economia pela Universidade da Califórnia; e Adolfo Sachsida, pesquisador do Ipea e pós-doutor pela Universidade do Alabama. Com eles, Guedes reúne-se semanalmente.

Novaes responde pelo grupo de desestatização. Doellinger supervisiona as iniciativas para organizar as contas públicas e Orçamento. Cintra coordena iniciativas em Ciência e Tecnologia e também as propostas para a área tributária e trabalhista. Já Costa dedicase a medidas de aumento da produtividade e mercado de capitais. Sachsida atua em diversos grupos e passou a exercer papel de assessoramento direto de Guedes, auxiliando, inclusive, no recrutamento de colaboradores.

Diretrizes. Para montar as diretrizes macroeconômicas, Guedes conta com sugestões de Mário Jorge Mendonça e Roberto Ellery, ambos pesquisadores do Ipea e doutores em economia. Ex-secretário de João Doria (PSDB) na Prefeitura de São Paulo, o advogado Paulo Uebel, mestre em administração pela Universidade de Columbia, contribuiu com propostas para desburocratização e reforma do Estado.

O desenho de programas para a área de infraestrutura, que envolve ferrovias, rodovias e aeroportos, está a cargo de Paulo Coutinho, professor da Universidade de Brasília (UnB) e doutor pela Universidade da Pensilvânia. O plano para o setor de energia recebe a colaboração direta de Luciano Irineu de Castro, professor da Universidade de Iowa e doutor pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Já a área de logística, recebeu contribuições de Fabiano Pompermayer, pesquisador do Ipea e doutor em engenharia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

‘Apoio à família’. Os debates sobre saúde ganharam a contribuição de Nelson Teich, oncologista e empresário. Já o plano para relações exteriores tem recebido orientação de Marcos Troyo, doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor do BricLab da Universidade de Columbia. Pedagogo, Francisco Augusto da Costa Garcia foi procurado pelo grupo de Guedes para auxiliar em medidas que estão sendo batizadas como de “apoio à família”, que incluem estímulo à adoção de crianças.

O trabalho de alguns desses grupos, como infraestrutura e ciência e tecnologia, já está em processo de integração com discussões conduzidas em Brasília pelos generais Augusto Heleno, Oswaldo Ferreira e Aléssio Ribeiro Souto. Mas há iniciativas que ainda estão incipientes ou que não há correspondentes diretos com o trabalho desenvolvido pelos militares. A ideia, porém, é que ao final da eleição todos os debates convirjam para um único documento.