O globo, n. 31118, 18/10/2018. País, p. 9

 

Haddad muda tom sobre Moro: 'ajudou' o Brasil

Sérgio Roxo

18/10/2018

 

 

A dez dias da eleição, candidato faz inflexão no discurso habitual do PT e elogia o juiz responsável pelos casos da Lava-Jato no Paraná. Petista ressalva, porém, que condenação do ex-presidente Lula ‘foi um erro’

A dez dias da eleição, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, elogiou ontem a atuação do juiz Sergio Moro na condução da Lava-Jato, mas disse que o magistrado errou na sentença do ex-presidente Lula. Foi uma inflexão no discurso do partido sobre a operação. Nos últimos dois anos, o PT fez ataques duros e reiterados a Moro, com acusações de que ele perseguia a legenda.

Em entrevista ao SBT, o presidenciável foi questionado se considerava que o magistrado ajudou o Brasil ou perseguiu o PT e Lula.

— Eu acho que, em geral, ele (Moro) ajudou. Em relação à sentença do Lula, tem um erro que vai ser corrigido pelos tribunais superiores porque não apresentou provas contra o presidente —respondeu Haddad.

Os ataques a Moro já constaram em várias resoluções internas do PT desde que a Lava-Jato passou a mirar figuras do partido, principalmente o ex-presidente Lula, que foi duro nas críticas ao magistrado até ser preso, em 7 de abril.

O petista fez ressalvas à soltura de delatores.

— Em geral, fez um bom trabalho, embora tenha soltado muito precocemente os empresários e liberado dinheiro roubado para esses empresários gozarem a vida. No geral, o saldo é positivo, mas há reparos.

Além disso, Haddad afirmou na entrevista que o expresidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) está numa “saia justa” para apoiá-lo porque muitos candidatos a governador do PSDB se declararam a favor de Jair Bolsonaro (PSL).

Mais cedo, após um encontro com evangélicos em São Paulo, o candidato do PT recorreu ao ex-governador tucano Mário Covas para rebater declaração de FH, que colocou empecilhos para aderir à sua candidatura. O petista lembrou que nunca fez referência ao PSDB quando pensou em uma frente democrática

— Nunca fiz referência ao PSDB. Sempre fiz referência ao PDT, PSB, PSOL, PCdoB, Pros. Mas reconheço que há algumas personalidades do PSDB, uma parte da juventude, que tem mais referência no velho PSDB, PSDB do Covas, que nos momentos decisivos não deixava de se posicionar.

Haddad lembrou que Covas apoiou o ex-presidente Lula no segundo turno contra Fernando Collor, em 1989. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, no domingo, FH disse que entre ele e Haddad havia uma “porta”, enquanto entre ele e Bolsonaro havia “um muro”. Ontem, durante evento na capital paulista, o ex-presidente voltou a comentar uma eventual abertura de diálogo:

— Essa porta (com Haddad) está enferrujada. E a fechadura enguiçou.

Confrontado com a fala, Haddad deu a entender que contava com uma adesão natural do tucano.

— O convite permanece para que os democratas se somem, mas nem todos vão atuar da maneira como eu gostaria e como eu sugeriria para uma pessoa que tem a formação que ele tem. Mas, enfim, quando ele falou que de, um lado, tinha um muro e, de outro, uma porta, ouvi com alguma esperança. Só soube que ela (a porta) está enferrujada hoje (ontem). Aos poucos, ele (FH) está contando toda a história.

Para o candidato do PT, o PSDB traiu Geraldo Alckmin no primeiro turno.

— O Alckmin foi traído pelo PSDB ainda no primeiro turno. A vida é assim. Eles ficaram com 4%. A História cobra nossos posicionamentos nem sempre à vista. Às vezes é a prazo.

No encontro com lideranças evangélicas, Haddad tentou rebater acusações feitas contra ele por Jair Bolsonaro (PSL) e seus apoiadores. Ao lado da mulher, Ana Estela, o petista disse que foi criado pelos pais dentro dos preceitos cristãos e, depois de adulto, “abraçou o cristianismo”.

Participaram do encontro, em São Paulo, cerca de 200 pastores das igrejas Metodista, Luterana, Batista, Anglicana, Assembleia de Deus e Presbiteriana.