O globo, n. 31118, 18/10/2018. País, p. 13

 

Temer recebeu R$ 5,9 milhões em propina, segundo relatório da PF

Aguirre Talento

Bela Megale

18/10/2018

 

 

Investigação conclui que presidente ganhou dinheiro de empresas do setor portuário entre 2000 e 2014; sua filha Maristela também foi indiciada no processo, por lavagem de dinheiro

O presidente Michel Temer recebeu diretamente R$ 5,9 milhões em propina do setor portuário entre 2000 e 2014, de acordo com a Polícia Federal (PF). Ele teria captado também junto a empresas do setor R$ 17 milhões em doações para seu grupo político. O relatório da PF indiciou o presidente por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A defesa do presidente argumenta que o indiciamento é ilegal e pede ao STF a anulação. Maristela Temer, filha do presidente, também foi indiciada, por lavagem de dinheiro.

Segundo o relatório, R$ 2,4 milhões foram pagos pela Rodrimar, do porto de Santos, entre 2000 e 2010, para uma empresa de fachada ligada ao coronel João Baptista Lima, amigo de Michel Temer e seu operador financeiro. Outros R$ 2 milhões foram doações oficiais da JBS para o presidente por causa de questões envolvendo um terminal portuário em Santos, em 2014. A PF ainda cita o pagamento de R$ 500 mil por meio de doações oficiais do grupo Libra e R$ 1 milhão entregues em espécie pelo grupo J&F, dono da JBS, para o coronel Lima, cujo destinatário final era Temer, todos em 2014.

A investigação, que durou 13 meses, tem como base um decreto assinado por Temer no ano passado que prorrogou e estendeu os prazos de concessão de áreas públicas às empresas portuárias. A PF aponta que ele recebeu propina e diz que atendeu aos interesses do setor com o objetivo de continuar mantendo influência. O ministro da secretaria de Governo, Carlos Marun, disse ontem à imprensa que o presidente ficou “muito indignado e abalado” com a notícia.

Rocha Lourdes e Alexandre Camanho

A PF também imputou crimes a Rodrigo da Rocha Loures, Antônio Celso Grecco, dono da Rodrimar, Ricardo Mesquita, ex-diretor da Rodrimar, Gonçalo Torrealba, dono do grupo Libra, o coronel Lima e outros. O relatório final foi enviado à Procuradoria-Geral da República, a quem caberá decidir sobre o oferecimento ou não de uma nova denúncia contra o presidente.

Ao quebrar o sigilo do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, a Polícia Federal encontrou várias mensagens trocadas entre ele e um integrante da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR), o hoje secretário-geral da gestão da PGR, Alexandre Camanho. As mensagens mostram que o procurador tinha relação íntima com o então assessor de Temer. Camanho indica nomes para o ministério e sugere repassar informações ao presidente por meio de Rocha Loures. Atualmente, ele é um dos principais auxiliares da procuradora-geral, Raquel Dodge. Na época das mensagens, 2016, Dodge não estava no cargo e ele não integrava a equipe da PGR. Ele diz que era amigo de Rocha Loures, daí a troca de mensagens entre os dois.