O globo, n. 31116, 16/10/2018. País, p. 4

 

Bolsonaro tem 18 pontos de vantagem

Fernanda Krakovics

16/10/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

Rejeição ao petista é de 47%, contra 35% do candidato do PSL

Na primeira pesquisa Ibope do segundo turno, divulgada ontem, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, aparece com 18 pontos de vantagem sobre Fernando Haddad (PT). Excluindo brancos, nulos e indecisos, ele tem 59% dos votos válidos, contra 41%. Além da larga vantagem do deputado, outro dado negativo para Haddad é sua taxa de rejeição. Segundo o instituto, 47% dizem não votar no petista de jeito nenhum. No caso de Bolsonaro, esse percentual é de 35%.

Quando se leva em conta as intenções de voto totais, o placar é de 52% a 37%. Nesse caso, brancos e nulos somam 9%, enquanto 2% não souberam responder. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O candidato do PSL saiu das urnas, no último dia 7, com 46% dos votos válidos no primeiro turno, e Haddad, com 29%.

De acordo com a pesquisa, Bolsonaro tem o voto mais consolidado: 41% dizem que votariam nele com certeza. Já entre os eleitores de Haddad, os convictos são 28%.

A diferença de 18 pontos percentuais registrada pelo Ibope entre os dois candidatos é a maior, na largada do segundo turno, desde as eleições de 2002.

A pesquisa divulgada ontem já colheu o impacto da propaganda de rádio e TV, que recomeçou na última sexta-feira. No horário eleitoral, Bolsonaro e Haddad têm investido mais na rejeição ao outro do que na divulgação de propostas. O candidato do PSL tem usado seu tempo para associar o PT a governos da Venezuela e de Cuba, numa estratégia de tentar relacionar o adversário ao comunismo. Já Haddad tem convocado eleitores a falar sobre casos de intolerância registrados no país, ligados supostamente ao discurso de Bolsonaro.

Outra peculiaridade deste segundo turno é que foram cancelados os três primeiros debates de TV, após Bolsonaro informar que não iria por motivo de saúde. Ele se recupera de uma facada que levou no dia 6 de setembro, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Haddad tem cobrado a presença do adversário, afirmando que ele tem lançado mão de um subterfúgio para evitar eventuais desgastes.

Nessa fase da campanha, os dois têm se concentrado mais em entrevistas e em vídeos divulgados pelas redes sociais. Desde que sofreu o atentado, Bolsonaro suspendeu agendas de rua, mas ontem visitou a sede do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio. Após receber alta hospitalar, em 29 de setembro, ele tem se alternado, durante a maior parte do tempo , entre sua casa e a do empresário Paulo Marinho, onde faz as gravações para o horário eleitoral. Já Haddad reduziu as viagens e tem concentrado sua agenda em São Paulo.

Para tentar aumentar suas intenções de voto e diminuir sua rejeição, Haddad reduziu o vermelho em sua campanha e passou a adotar as cores verde e amarelo, que predominam no material de Bolsonaro. O petista também suspendeu as visitas que fazia toda segunda-feira ao ex-presidente Lula, em Curitiba. Outra providência foi substituir o slogan “O Brasil Feliz de Novo”, que remetia ao governo Lula, para “O Brasil para Todos”.

Haddad tenta construir uma frente democrática para enfrentar Bolsonaro. Ontem, PT, PCdoB, PSB, PSOL, PCB e PROS emitiram nota conjunta de apoio ao petista. Ele tenta atrair Ciro Gomes (PDT), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Haddad, afirmou ontem que ligou para Sergio Fausto, superintendente do Instituto Fernando Henrique, para agradecer a referência ao seu nome feita pelo ex-presidente em entrevista no último domingo, no jornal “O Estado de S. Paulo”. Fernando Henrique afirmou que, com o petista, tem uma “porta” para conversar e com Bolsonaro tem um “muro”. 

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Mensagens simples e eficazes fazem campanha decolar

Guilherme Evelin

16/10/2018

 

 

Ao confirmar a tendência detectada pelo Datafolha na semana passada, a pesquisa do Ibope mostra que o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, caminha para uma vitória expressiva no dia 28 – a não ser que um cataclismo aconteça.

É normal que candidatos com maior votação no primeiro turno saiam na frente no round seguinte. Mas Bolsonaro foi além disso. O candidato do PSL não só manteve uma sólida base de seguidores fiéis —41% deles dizem não ter dúvidas de que votarão no capitão —como atraiu mais eleitores que optaram por outros candidatos no primeiro turno do que Fernando Haddad, do PT.

Bolsonaro conseguiu outro feito. Sua taxa de rejeição, antes acima dos 40%, caiu para 35%, enquanto a de Haddad subiu para 47%. O desempenho do candidato do PSL é resultado de uma campanha de mensagens simples, mas eficazes. Bolsonaro promete mudança ao eleitor desencantado e, para aumentar a rejeição a Haddad, bate no PT, associado à corrupção do sistema político.

Ainda há tempo, em tese, para Haddad protagonizar uma virada. Mas essa meta parece cada vez mais distante —e não só pela diferença de 18%. O tamanho do desafio de Haddad pode ser medido pelo fato de que não basta para ele atrair os eleitores que dizem que vão votar em branco ou nulo — 9%, segundo o Ibope. Para uma virada, Haddad precisa tirar votos de Bolsonaro.

O candidato do PSL não tem dado, porém, margem para erros. Com base em atestados médicos, reduziu a exposição a debates e, depois de um primeiro turno focado nas redes sociais, está fazendo uma propaganda para a TV igualmente bem produzida.

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Em primeira agenda externa, deputado visita Bope

Bernardo Mello

16/10/2018

 

 

Presidenciável vai à sede do batalhão da PM, no Rio, e diz aos policiais que, se eleito, ‘teremos um dos nossos lá em Brasília’

Em sua primeira agenda externa de campanha, desde que levou uma facada em Juiz de Fora, ainda no primeiro turno, o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, saiu de casa na manhã de ontem para visitar a sede do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, na Zona Sul do Rio. Em discurso para integrantes do batalhão, Bolsonaro agradeceu o apoio, elencou o feito do PSL na eleição legislativa e ressaltou que a classe militar terá um representante em Brasília, caso ele seja eleito.

—Temos a segunda bancada em Brasília, sem televisão, sem fundo partidário, sem nada. Então, nós temos que tentar mudar, fazer a coisa certa. Eu acho que isso é possível, afinal de contas não temos outro caminho. Meu muito obrigado a todos vocês, pela confiança por parte de muitos. Podem ter certeza, chegando (à Presidência), teremos um dos nossos lá em Brasília. Caveira! — afirmou o presidenciável, que fechou a fala com o tradicional grito de guerra do batalhão.

Acompanhado do filho Flávio, eleito senador pelo Rio, o militar brincou que, embora batesse continência para o coronel na sede do Bope, “quem vai mandar no Brasil serão os capitães”. Bolsonaro ainda posou para fotos ao lado dos militares e sob a caveira com uma faca cravada de cima para baixo, símbolo do batalhão.

O candidato também falou da violência no Rio e a comparou com a da Venezuela:

— O que acontece no tocante à criminalidade no Rio não acontece em lugar nenhum do mundo, a não ser em países que estão em processo de decadência total, como a Venezuela — afirmou Bolsonaro aos policiais.

Excludente de ilicitude

E voltou a defender o projeto de “excludente de ilicitude”, para que militares não sejam julgados, nem mesmo por varas militares, caso provoquem mortes de criminosos e de inocentes em situações de confronto.

— Então nós temos que mudar isso aí, e mudar como? Por exemplo, tendo gente ao nosso lado que trabalhe para a segurança visando preservar a vida de vocês. A gente sonha, comandante, com o excludente de ilicitude não apenas para vocês mas para todo e qualquer cidadão de bem. Isso existe na legislação americana. A gente tá costurando em Brasília, partindo do princípio que a gente vai se eleger, obviamente. Para isso sair e para que vocês tenham paz. Após o cumprimento da missão, vocês têm que ser condecorados e não processados.

Bolsonaro entrou e saiu do quartel do Bope sem conceder entrevistas aos jornalistas que o aguardavam do lado de fora.

À tarde, o candidato recebeu a visita do bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio, Dom Antônio Augusto, na casa dele na Barra da Tijuca.

Desde que voltou ao Rio após sofrer um ataque em Juiz de Fora, no início de setembro, Bolsonaro tem passado a maior parte do tempo em sua residência. A maioria das saídas aconteceu para gravar programas eleitorais, na casa do empresário Paulo Marinho, na Zona Sul do Rio.