Título: Alívio para a Europa
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 18/06/2012, Economia, p. 9

Vitória do partido conservador nas eleições de ontem na Grécia afasta o risco de o país sair da Zona do Euro

O líder do partido de direita Nova Democracia (ND), Antonis Samaras, vitorioso nas eleições legislativas de ontem na Grécia, propôs a formação de um "governo de união nacional" para sair da crise econômica e manter o país na Zona do Euro. Segundo ele, o país escolheu ficar no bloco da moeda única e "não tem um minuto a perder". "Não haverá mais aventuras. O lugar da Grécia na Europa não será colocado em dúvida, os sacrifícios do povo grego renderão frutos", disse, prometendo cumprir os compromissos com os parceiros europeus, além de tentar introduzir políticas para estimular o crescimento da economia grega, há cinco anos em recessão e com 22% de desempregados.

O líder da esquerda radical, Alexis Tsipras, admitiu a derrota e negou-se a participar de uma futura coalizão, prometendo manter seu partido, o Syriza, na oposição. "Vamos representar a maioria do povo contra o acordo", disse, em referência aos termos de rigor fiscal impostos pela União Europeia (UE), pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O líder do socialista Pasok, Evangelos Venizelos, condicionou a participação no governo de consenso a uma presença ampla da esquerda. "Um governo de responsabilidade nacional supõe a participação de todas as forças da esquerda, incluindo os radicais do Syriza", alertou. Segundo projeções oficiais baseadas em 70% das urnas apuradas, o ND obteve 29,5% dos votos, o que garante 128 das 300 cadeiras no parlamento, contra 27,1% para a Syriza (72) e 12,3% para o Pasok (33). A Constituição grega dá 50 cadeiras extras ao partido vencedor das eleições. Com isso, ND e Pasok já têm eleitos suficientes para atingir a maioria.

As eleições foram polarizadas entre a promessa, do ND, de "sair da crise, mas não do euro" e a esquerda radical, que exigia a renegociação do pacto de austeridade. Os vitoriosos garantiram ser o "fiador" da permanência da Grécia na Eurozona, mas admitem "renegociar" o memorando do plano de ajuste acertado com a chamada troika. Ontem mesmo, o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, reagiu dizendo estar disposto a discutir os prazos necessários para a aplicação das reformas na Grécia. "Posso imaginar, sem problemas, uma negociação sobre novos prazos", afirmou.

Os eleitores gregos foram às urnas divididos entre a revolta com os cortes orçamentários que o governo passado assumiu para obter ajuda internacional e o medo dos desdobramentos de não honrar o mesmo acordo. A expectativa em torno da segunda votação legislativa deste ano, após o pleito de 6 de maio não ter levado a novo governo, já tinha piorado a crise.

Dilma no G-20 O resultado das eleições gregas está na pauta do encontro de cúpula do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, que começa hoje e vai até amanhã em Los Cabos, no México. A presidente Dilma Rousseff desembarcou ontem para a reunião e vai defender que a retomada global não passa por cortes de gastos, mas sim por distribuição de renda e estímulos ao crescimento. Além de participar das sessões de trabalho, Dilma terá série de encontros bilaterais. Hoje, ela se reúne com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Efeito imediato A vitória do partido conservador Nova Democracia já refletiu na cotação do euro. Os mercados asiáticos apontavam ontem valorização do euro frente ao dólar logo na sua abertura, sob a avaliação de investidores de que o apoio dos vitoriosos ao pacote de austeridade imposto aos gregos como condição para ajuda financeira ao país torna mais improvável a saída da Grécia da Zona do Euro.