O globo, n.31114 , 14/10/2018. País, p.7

Bolsonaro descarta apoio para governo do Rio

Igor Mello 

Mariana Martinez

 

 

Um dia após faltar a um encontro com João Doria (PSDB) no Rio, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que manterá a neutralidade nas eleições para governador, exceto nos estados em que seu partido tem candidato no segundo turno. O posicionamento frustrou a expectativa de Wilson Witzel (PSC), que teve 41,2% dos votos no Rio, de receber apoio formal de Bolsonaro. Seu adversário, Eduardo Paes (DEM), registrou 19,5% nas urnas.

O capitão da reserva também fez um apelo, ontem, para que eleitores “deixem as paixões de lado”, e disse que a eleição não pode ser entendida como um “Fla-Flu” — numa referência ao clássico carioca entre Flamengo e Fluminense, sinônimo de rivalidade acirrada. Bolsonaro disse que lamenta as agressões motivadas por questões políticas, incluindo a facada que levou em Juiz de Fora:

— Lamento as agressões. Gostaria que elas parassem. Apelo a todos no Brasil que deixem as paixões de lado. Não estamos disputando Fla-Flu. Bolsonaro esteve ontem na casa do empresário Paulo Marinho, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, onde tem gravado programas eleitorais. O presidenciável reiterou a sinalização da cúpula do partido de que ficará neutro na maioria das disputas para governador. As exceções, por enquanto, são Roraima, Rondônia e Santa Catarina, estados em que o PSL tem candidatos no segundo turno.

PAES ELOGIA

Bolsonaro falou especificamente sobre Witzel, cujo crescimento no primeiro turno coincidiu com a associação de sua imagem à de Flavio Bolsonaro (PSL), um dos filhos do presidenciável, eleito senador pelo Rio:

— O juiz colou no Flavio e cresceu. Mas orientei a garotada aqui a ficar neutra no segundo turno. Ontem, em caminhada pela Freguesia, na Zona Oeste do Rio, Witzel falou apenas sobre propostas para Segurança e não respondeu aos jornalistas. Eduardo Paes (DEM), seu adversário na disputa pelo Palácio Guanabara, disse que Witzel tentou “galopar na popularidade de Bolsonaro” e elogiou a neutralidade do capitão.

— Bolsonaro cumpriu um papel importante para a democracia ao permitir que a população possa comparar com lucidez os candidatos — disse Paes, antes de uma carreata em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Na sexta, Bolsonaro deixou de ir a uma gravação eleitoral e, com isso, não encontrou João Doria, candidato a governador de São Paulo, que esperava o presidenciável na casa de Paulo Marinho. Ontem, Bolsonaro amenizou o mal-estar e admitiu a possibilidade de conversar com Doria,mas frisou que segue neutro:

— No tocante ao João Doria, quero agradecer o apoio dele. Não havia combinado isso (o encontro), não sei quem combinou. Bato papo com ele sem problema nenhum. Somos oposição ao PT, então desejo sorte a ele. Fernando Haddad (PT), por sua vez, voltou a convocar Bolsonaro para ir a debates. O candidato do PSL tem alegado razões médicas para adiar sua participação.

— Não pode passar incólume. Tem que passar pelo crivo do debate. Acho que não tem paralelo na história do Brasil alguém que chegou à Presidência sem participar dos debates.

O petista disse ontem em São Paulo que não tem nomes ainda para anunciar em seu eventual ministério e provocou o adversário: — Mas estamos conversando com um pessoal. Agora, eu jamais chamaria alguém com o perfil do Paulo Guedes para a Fazenda.