Título: Apoio de Maluf ameaça chapa
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 19/06/2012, Política, p. 5

Candidata a vice de Haddad à prefeitura paulistana, Erundina diz que prefere desistir a dividir o palanque com o ex-prefeito

A aliança formal entre o PT e o PP para apoiar Fernando Haddad na eleição para a prefeitura de São Paulo gerou uma crise política na chapa PT-PSB. Durante o fim de semana, a vice na chapa de Haddad, deputada Luiza Erundina (PSB), já havia demonstrado incômodo com a aproximação com o deputado Paulo Maluf. Ontem, após a foto de Maluf ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad, nos jardins da casa do pepista, Erundina estourou: "Vou rever minha posição. Não preciso ser vice para fazer política".

A crise gerou um corre-corre entre PT e PSB. Integrantes do partido de Eduardo Campos afirmaram que, desde a intensificação das negociações entre o PT e o PP para uma aliança formal, Erundina "passou a fazer política em suas declarações públicas". Durante o fim de semana, ela chegou a demonstrar um incômodo com a aliança, mas disse não acreditar que o presidente estadual do PP fosse subir no palanque ao lado de Haddad.

Ontem, após Maluf afirmar que, se convidado, participará de atos públicos ao lado de Haddad, Erundina desabafou. "Se for por nomes, meu partido tem outros a indicar. Eu pessoalmente não vou aceitar", completou.

A aliança entre o PP e o PT também criou atritos no partido de Maluf. Integrantes do Diretório Nacional da legenda reclamaram ao Correio que apenas o ex-prefeito de São Paulo ganhou com a parceria ao indicar Osvaldo Garcia para a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. "O PP já tinha o Leodegar Tiscoski no mesmo cargo. Apoiar o PT e não ganhar nem uma vaga a mais na máquina? O Maluf emplacou um afilhado dele, mas o PP continuou exatamente do mesmo tamanho", reclamou um membro da direção do partido.

Acordo oficializado Maluf esquivou-se de polêmicas e responsabilidades. Em ato público realizado no quintal de da casa dele, no Jardim Europa, em São Paulo, o ex-prefeito afirmou, que nem "sequer conhece" Osvaldo Garcia e que a indicação dele foi uma sugestão do PP do Paraná, não sua. Afirmou ainda ter aceitado a parceria com o PT de Fernando Haddad porque ama São Paulo. "É o nosso candidato porque eu amo São Paulo. E por amor a São Paulo eu tenho plena convicção de que São Paulo vai precisar do governo federal para resolver seus problemas."

O presidente estadual do PP não demonstrou qualquer desconforto em aparecer abraçado com Luiz Inácio Lula da Silva. "Nós não devemos olhar pelo retrovisor. Temos de olhar pelo para-brisa. Quem olha para trás, não olha para a frente." Ele sepultou qualquer divergência ideológica com os petistas. "Eu fiz a minha opção por uma parceria estratégica com o governo federal". Maluf disse estará à disposição de Haddad. "No que ele precisar de mim e do partido, vamos estar com ele."

"Vou rever minha posição. Não preciso ser vice para fazer política" Luiza Erundina (PSB-SP), candidata a vice na chapa de Fernando Haddad

Memória De "corrupto" a aliado A parceria entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf surpreendeu parte da militância petista, a candidata a vice Luiza Erundina e uma parcela considerável dos eleitores.

Lula e Maluf sempre estiveram em lados opostos em São Paulo. Quando Lula surgia no movimento sindical, em 1979, Maluf era governador biônico em São Paulo. Lula esteve na campanha das Diretas Já e Maluf foi candidato dos generais no colégio eleitoral que elegeu Tancredo.

O ex-presidente chegou a chamar o agora aliado de "corrupto" e ironizá-lo, dizendo que Maluf era competente porque "competia, competia, mas nunca ganhava" , durante as eleições presidenciais de 1989.

Nas disputas paulistanas, jamais estiveram juntos no primeiro turno das eleições. Em 2000, e então candidata Marta Suplicy, do PT, conseguiu apoio do ex-governador tucano Mário Covas justamente porque disputaria a prefeitura contra Maluf.