O globo, n. 31110, 10/10/2018. Colunas, p. 6

 

Wagner costura frente com Ciro, Marina e FH

Bernardo Mello Franco

10/10/2018

 

 

Jaques Wagner era o preferido de Lula para concorrer ao Planalto. Recusou a tarefa, elegeu-se senador pela Bahia e agora desembarcou em São Paulo para ajudar Fernando Haddad. O ex-ministro tenta costurar uma “frente democrática” contra o bolsonarismo. Quer unir Ciro Gomes, Marina Silva e Fernando Henrique Cardo sono palanque do PT .“T emosque procurar todos os que estão na política e têm responsabilidade como país ”, diz.

Entreouvido no ‘baixo’ ringue — Vamos nessa?
Wagner faz elogiosa F H, que já descartou a hipótese de apoiar o capitão. “A construção do país é tijolo por tijolo, ninguém faz nada sozinho. O Fernando deu uma bela contribuição ao Brasil. Nós aprendemos a responsabilidade fiscal com ele”, afaga. “É uma coincidência negativa da História que, em vez de ficarem juntos, PT e PSDB tenham polarizado um com o outro. Foram as melhores forças que surgiram no período democrático”.

Para ampliara aliança, o ex-ministro defende uma guinada no discurso do PT. Pede que o partido adote tom mais conciliador e reconheça erros do passado. “Achoque nuncaé demais agente fazer autocrítica ”, diz. Ele considera que o candidato agora deves er menos Lula emaisHadd ad .“Nãopreci samos inventara roda. No primeiro turno, ficou claro que o Haddad era o candidato do Lula. Agora temos que mostrar quem ele é: um professor bem formado, que já foi prefeito de São Paulo e recebeu prêmios de boa gestão”, sustenta.

Wagner também defende o uso do verde e amarelo na campanha, no lugar do vermelho do PT :“Abandeirado Bra si lé det odos nós. Agente não pode entregar graciosamente para eles o que é um símbolo do país”.

O senador eleito diz acreditar numa virada .“Não acho que seja uma missão impossível. Tem cada vez mais gente incomodada como discurso da truculência. Segundoturno nãoéescolha,éo menos ruim. Não dá para comparar o Bolsonaro com o Haddad”, argumenta.

Ele acusa o capitão e investir no discurso de ódio e na disseminação de “baixarias”. “O Bolsonaro é um cara inteligente, mas usa sua inteligência para o mal. Ele acaba liderando monstros que não tinham coragem de externar o preconceito”, critica. “Eu, que sou judeu, posso falar isso. As coisas começam assim”.

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Segurança agora é prioridade para Haddad

Sérgio Roxo

Jussara Soares

10/10/2018

 

 

Pressionada por governadores, campanha petista decide incorporar nova proposta ao programa, incluindo até penas mais duras; sobre casos de agressões cometidas por seus apoiadores nas ruas, Bolsonaro diz não ter controle

Para se contrapor ao discurso do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no combate à violência, a campanha de Fernando Haddad (PT) prepara a elaboração de uma nova proposta na área de segurança pública, ainda a ser incorporada com mais detalhes ao programa de governo. Aliados do petista avaliam que o tema ajudou o adversário a obter expressiva votação no Nordeste, principalmente em capitais que registram altos índices de violência.

O assunto deve ganhar destaque na campanha de segundo turno dos dois candidatos. Bolsonaro, ontem, provocou Haddad no Twitter: “Meu adversário falou que vai combater o encarceramento e soltar criminosos da cadeia. Nossa preocupação e prioridade são as pessoas de bem. Falo desde sempre, prefiro uma cadeia lotada de criminosos do que um cemitério lotado de inocentes. Se faltar espaço, a gente constrói mais!”.

Durante toda a tarde, em um hotel em São Paulo, Haddad dedicou parte do tempo para tratar exclusivamente do tema. Integrantes da coordenação de campanha admitem que estão em discussão propostas de segurança, mas se recusam a revelar quais serão as prioridades. O candidato, em entrevista coletiva, confirmou ter tratado sobre temas para tratar da violência crescente no Nordeste.

— Nós falamos um pouco sobre a segurança pública do Nordeste com o compromisso estabelecido de que a Polícia Federal vai atuar contra o crime organizado. Parte grande do crime tem organizações nacionais e, para isso, a PF tem que entrar —disse o candidato.

Sinais no Maranhão

Também no encontro, o governador reeleito da Bahia, Rui Costa, defendeu que o partido passe a adotar como bandeira o endurecimento de penas. A campanha de Haddad, segundo ele, estaria disposta a incorporar a defesa da medida

— É preciso maior rigor das penas para homicídio. Há uma revolta generalizada em razão da impunidade. A progressão no caso de homicídio não pode ser tão benevolente como é hoje. Houve sinalização positiva (por parte de Haddad) em relação a isso. A sociedade clama por mais segurança e proteção —Disse Costa.

O endurecimento das penas nunca foi uma bandeira do PT e não constou dos programas de governo das candidaturas presidenciais da legenda nenhuma vez desde as eleições de 2002.

A proposta de colocar a PF para combater organizações criminosas foi apresentada ao lado de três governadores do Nordeste eleitos pelo PT: além de Costa, também estavam Camilo Santana (Ceará) e Wellington Dias (Piauí). A proposta já estava no programa de governo, mas, a partir de agora, ganhará evidência no discurso do candidato.

— Nosso partido tem que apresentar de forma clara a nossa proposta de segurança. Não dá para deixar de fazer essa autocrítica — disse Wellington Dias

O governador reeleito do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que também foi ao encontro de ontem com o candidato, apresentou ao petista uma proposta para criação de uma guarda nacional, uma das bandeiras do programa de governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

No Maranhão, Haddad saiu vitorioso no primeiro turno, inclusive na capital São Luís. Porém, em Imperatriz, segundo maior município do estado, Bolsonaro ficou à frente do petista. Para Dino, a violência pode explicar o bom resultado do candidato do PSL na cidade.

"Entupir a cadeia"

O capitão reformado defende a flexibilização do porte de arma para que, segundo ele, o “cidadão de bem” esteja preparado para enfrentar os criminosos. Petistas descartam aderir a qualquer proposta nesse sentido. Numa entrevista à rádio “Jovem Pan”, Bolsonaro afirmou que vai “encher a cadeia de bandidos”.

—Se acha a cadeia ruim, é só não fazer besteira que não vai para lá. Tem que acabar com isso de ter pena de encarcerado. Quem está lá fez por merecer — afirmou ele, emendando. — Vamos brigar para acabar com a progressão de pena. Vamos entupir a cadeia de bandidos. Está ruim? É só não fazer besteira. Eu prefiro a cadeia cheia de bandidos que o cemitério cheio de inocentes. Isso é ser radical? Isso é ser racional.

Ao responder se perdoaria o homem que o esfaqueou durante um comício em Juiz de Fora, no início de setembro, Bolsonaro se exaltou:

—Esse cara sabia o que estava fazendo. Estou vivo por milagre. Tem que agravar a pena desse cara. Não perdoo, não. Se depender de mim, vai mofar na cadeia.

Ontem, o candidato do PSL saiu de casa pela primeira vez após a votação do primeiro turno. Ele gravou programas para a propaganda eleitoral, que recomeça na sexta-feira.

O presidenciável conversou com a imprensa por cerca de dez minutos no fim da tarde de ontem. Bolsonaro comentou sobre atos de violência que estão sendo registrados por apoiadores de sua candidatura e disse que “não tem como controlar” a sua militância.

— Essa pergunta não tem que ser invertida? Quem levou a facada fui eu. Agora um cara com uma camisa minha comete lá um excesso, o que eu tenho com isso? Peço ao pessoal que não pratique isso, mas não tenho controle. São milhões e milhões de pessoas que me apoiam. A violência vem do outro lado, a intolerância vem do outro lado. Eu sou a prova, graças a Deus, viva disso daí — disse o candidato do PSL.

Para Bolsonaro, casos de intimidação são episódios isolados.

— (O clima) não está tão bélico assim não. Está um clima acirrado, está havendo uma disputa, mas são casos isolados —afirmou.

Tema ganhou protagonismo na campanha

> Com a escalada da violência e a intervenção federal no Rio, o tema da segurança dominou a pauta desde a pré-campanha presidencial.

> Ex-capitão do exército, o presidenciável Jair Bolsonaro, do PSL, atraiu as atenções ao concentrar seu discurso na defesa do porte de armas para civis e no mantra do “excludente de ilicitude” para isentar policiais que matam bandidos em confronto.

> Em meio a essa discussão, os demais candidatos também reafirmaram suas propostas na área.

> Geraldo Alckmin prometeu reduzir os índices de homicídios no país e apresentou os números da queda de mortes em São Paulo. Ele também defendia o controle de fronteiras.

> Fernando Haddad, do PT, deu pouco destaque ao tema. Em seu plano de governo, ele propõe investimento em inteligência nas polícias .

> Já Ciro Gomes defendia melhora das condições de trabalho da polícia e maior inteligência.