O Estado de São Paulo, n. 45648, 10/10/2018. Política, p. A6

 

É verdade esse 'bilete'

Vera Magalhães

10/10/2018

 

 

O PT mudou de roupa do domingo para a segundafeira. Saíram as camisetas “Lula livre” que Fernando Haddad vestiu no primeiro turno nas visitas a Curitiba ou nos caminhões de som pelo Nordeste e pela periferia e entrou o terno alinhado do candidato no Jornal Nacional.

Juntamente com a nova indumentária vieram acenos a um novo programa de governo, novos aliados, pacto contra fake news e até um elogio, vejam só, à socialdemocracia.

O próprio Lula, que comandou a campanha até domingo direto de Curitiba, por meio de cartas, orientações nas visitas à sede da PF e aparições na propaganda do PT, resolveu sair de cena. Liberou Haddad das visitas por ora.

O problema do PT é que a transmutação é tão repentina, ensaiada e interessada que é difícil de ser crível. Diferentemente das bateções de cabeça entre Jair Bolsonaro e o candidato a vice, Hamilton Mourão, sobre Constituinte de notáveis, no caso do PT a defesa a que se rasgue a Constituição e se escreva outra, sabe-se lá como, está consignada no plano de governo, que foi coordenado pelo próprio Haddad. Mais: foi dita em voz alta por ele em setembro.

Não basta dizer que era “pegadinha do malandro”. O programa de governo do partido será revogado? Só nesta parte ou será inteiramente refeito? Sim, porque ele contém outros pontos claramente autoritários, dos quais já tratei aqui: controle social da mídia e também a mudança nos conselhos nacionais de Justiça e do Ministério Público para torná-los mais “permeáveis” à sociedade (ou ao partido?).

O PT passará a respeitar decisões judiciais? Haddad, caso seja eleito, o fará? Sem compromissos claros, não basta um arremedo de carta ao povo brasileiro. Diante das sistemáticas ações petistas de achincalhe às instituições desde o início da Operação Lava Jato, passando pelo impeachment e atingindo o ápice na condenação e prisão de Lula, a guinada está mais para o meme que vai no título desta coluna.

 

TRABALHO ESCRAVO

Bolsonaro quer fim de ‘ativismo fiscalizatório’

Na primeira entrevista após o primeiro turno das eleições, Jair Bolsonaro (PSL) criticou, na Jovem Pan, o que chamou de “ativismo fiscalizatório” em relação a denúncias de trabalho escravo ou análogo à escravidão. Recorrendo a um exemplo, disse que uma agricultora pode estar borrifando uma lavoura de alface com veneno sem saber que está grávida e, nesta situação, se um fiscal chegar, o proprietário rural pode ser punido por trabalho análogo à escravidão até com a expropriação do imóvel. Para ele, “isso não pode continuar acontecendo”.

No ano passado, uma portaria do Ministério do Trabalho tentou alterar as definições de trabalho forçado, jornada exaustiva e condições análogas à de escravidão. Diante da reação negativa do Ministério Público, da Justiça e da imprensa, o governo Michel Temer recuou e o então ministro, Ronaldo Nogueira, caiu. Como inseriu o tema em uma resposta sobre um outro assunto, Bolsonaro não esclareceu se quer mudar a legislação, que está em vigor desde 2003.

 

NOVO CONGRESSO

Articulador de Bolsonaro fala em ‘modelo europeu’

Onyx Lorenzoni (DEM-RS), principal articulador de Bolsonaro no parlamento, se entusiasmou com a renovação do Congresso. Para ele, a nova configuração aproxima o parlamento brasileiro dos europeus, em que bancadas ideológicas mais definidas darão lugar às fisiológicas que mandaram na Câmara e no Senado até aqui e negociavam apoio por emendas ou cargos, com o Centrão como símbolo. A conferir.

 

PARTIDOS

Vem aí temporada de ‘fusões e aquisições’

A possível fusão da Rede, que não atingiu a cláusula de barreira, com o PV abriu a temporada do que os políticos chamam nos bastidores de “fusões e aquisições” de siglas por outras. Um dos partidos mais ambiciosos nesse mercado – que nada mais é que o velho troca-troca partidário, agora com licença da Justiça Eleitoral –, é o Podemos, que resolveu colocar em prática o slogan “abre o olho”, de seu candidato à Presidência, e calcula que pode agregar de 5 a 7 novos deputados.

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PT escala emissários para sondar militares

Tânia Monteiro

10/10/2018

 

 

Eleições 2018 Forças Armadas / A pedido do ex-presidente Lula, sigla tenta aproximação com chefes das Forças Armadas

 

Consulta. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, recebeu o ex-ministro Nelson Jobim na 5ª feira passada

Com a possibilidade de o PT voltar ao poder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de dentro da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, instruiu emissários a procurarem chefes militares das Forças Armadas. O objetivo foi medir a temperatura nos quartéis, caso Fernando Haddad chegue ao Palácio do Planalto depois das denúncias de corrupção na Lava Jato contra as administrações petistas. O ex-presidente está preso desde abril, após ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Lula buscou como interlocutores três ex-ministros da Defesa, que ocuparam o cargo nas gestões petistas – Nelson Jobim, que ficou na pasta entre julho de 2007 e agosto de 2011; Celso Amorim, no cargo entre agosto de 2011 e dezembro de 2014; e José Viegas, o primeiro a ocupar o ministério na gestão Lula, entre janeiro de 2003 e novembro de 2004.

O principal emissário foi Jobim que, na quinta-feira passada, procurou o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, em Brasília. Ele também se reuniu com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, seu amigo e com quem já trabalhou. A missão de Lula a Jobim foi repassada em um almoço pelo ex-ministro da Comunicação do petista Franklin Martins e pelo ex-deputado José Genoino, que tinha proximidade com os militares e chegou a assessorar o ex-ministro da Defesa.

O Comando do Exército confirmou o encontro entre Jobim e o general, mas não informou o teor da conversa, justificando que foi apenas entre os dois e “a portas fechadas”. Procurado, Jobim negou que tenha viajado a Brasília como emissário ou para promover pacificações, mas que aproveitou uma visita à cidade para encontrar amigos. “Não fui cumprir tarefas. Fui visitar antigos amigos”, disse ao Estado.

Paralelo a esse movimento, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG), que integra a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, também procurou militares para conversas, embora diga que foi discutir assuntos relacionados a projetos em tramitação na Câmara.

Constituição. Nas diferentes conversas, o PT queria saber qual será a conduta dos militares se o partido ganhar a eleição. A resposta foi “cumpre-se a Constituição” e, em relação às questões da caserna, que o PT não tente interferir internamente. Os emissários, recebidos pelas Forças Armadas antes do primeiro turno, ouviram dos militares a garantia de que eles são legalistas e que não há chance de o resultado das eleições não ser respeitado. Mas todos os líderes procurados avisaram que não admitem intromissão em questões internas das Forças, como politizar promoções ou interferir nos currículos das escolas militares, mudanças já cogitadas por petistas. Mexer na Lei da Anistia ou retomar discussões, como a Comissão da Verdade, também são temas em que não se admitem revisões ou alterações. A desconfiança dos militares com o PT, por causa de acontecimentos nos recentes governos, é grande.

Sobre a possibilidade de indulto a Lula, para surpresa dos emissários, a resposta dos militares foi unânime: “Isso é problema da Justiça”. No entanto, os militares não deixaram de registrar que isso não seria bom porque reforçaria o sentimento de falta de segurança jurídica no País.

 

Salários

Apesar de o período do PT ser considerado “muito bom” em termos orçamentários para as Forças Armadas, militares não se conformam com o fato de os salários terem sido achatados, ao contrário de outras carreiras.

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Filho liga Bolsonaro à ‘extrema pobreza’

Constança Rezende e Renata Batista
10/10/2018

 

 

Flávio Bolsonaro diz que programas de TV vão mostrar candidato ‘de verdade’; presidenciável ataca Fernando Haddad

O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) disse que a campanha do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) vai mostrar como o candidato é “de verdade”, “dentro de casa”, nos próximos programas eleitorais na TV. Flávio disse que as inserções vão focar “na história de vida vitoriosa” de seu pai.

“Vamos mostrar uma pessoa que veio da extrema pobreza, virou oficial das Forças Armadas e que, hoje, tem grandes chances de ser presidente do Brasil”, disse o deputado, em frente à casa do empresário Paulo Marinho, onde o presidenciável passa parte do dia, gravando e aprovando programas já feitos.

Flávio afirmou também que está marcada para amanhã uma reunião com todos os deputados federais eleitos pelo PSL com o candidato, no Rio, para falar sobre estratégias de programa. “O objetivo é mostrar o tamanho do Bolsonaro dentro do parlamento e traçar algumas estratégias”, disse Flávio.

A reunião será realizada em um salão de um hotel na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, perto do condomínio onde mora o candidato ao Palácio do Planalto. Flávio afirmou que já fez uma reunião com os 13 deputados estaduais eleitos pelo partido no Estado.

‘Fantoche’. Ainda sem confirmar participação em debates neste segundo turno na TV, alegando seguir recomendação médica, Bolsonaro afirmou que não tem de discutir plano de governo com o adversário na disputa, Fernando Haddad (PT).

Bolsonaro chamou Haddad de “fantoche”, que, em toda decisão que precisa tomar, “tem de ir para Curitiba conversar com o presidiário” – referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato.

“Será que queremos de volta todos aqueles que, no governo do PT, mergulharam o Brasil na mais profunda crise ética, moral e econômica?”, questionou o candidato do PSL.

Segundo Flávio, um médico do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde Bolsonaro ficou internado por três semanas depois do atentado que sofreu em Juiz de Fora (MG), deve visitá-lo hoje em sua residência, no Rio. O objetivo é verificar suas condições de saúde e dizer se ele poderá viajar em campanha.