O Estado de São Paulo, n. 45648, 10/10/2018. Política, p. A8

 

Alckmin a Doria: 'Traidor eu não sou'

Pedro Venceslau e Adriana Ferraz

10/10/2018

 

 

Eleições 2018 Partidos /  Tucanos discutiram durante reunião em que ex-prefeito cobrou mais verbas para candidatos que, como ele, vão disputar o 2º turno

Atrito. Doria e Alckmin durante reunião da Executiva Nacional, ontem; eles também se desentenderam em relação ao posicionamento da sigla na eleição

Dois dias após amargar o quarto lugar na corrida ao Planalto, o presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, criticou o candidato do partido ao governo de São Paulo, João Doria, durante reunião da Executiva Nacional da sigla, na tarde de ontem em Brasília. Em áudio obtido com exclusividade pelo Estado, o ex-governador interrompe a fala de Doria por duas vezes. Na primeira, o chama de “Temerista” e, na segunda, insinua que o ex-prefeito o traiu: “Traidor eu não sou”, diz Alckmin. Procurado, Doria afirmou que não guarda “ressentimento”.

O ex-prefeito de São Paulo cobrava do partido mais ajuda financeira às campanhas dos candidatos a governos estaduais que passaram para o segundo turno – ele vai disputar o Palácio dos Bandeirantes com o sucessor de Alckmin no cargo, Márcio França (PSB).

“Não posso imaginar que um partido da dimensão do PSDB não tenha projetado a existência de um segundo turno, seja para Presidência da República, seja para os governos. Se não fez, errou”, diz, pouco antes da primeira intervenção de Alckmin. Ele cita as campanhas de Antonio Anastasia (MG) e Eduardo Leite (RS) para criticar a falta de repasses.

Em seguida, Doria continua sua fala e afirma que o partido deve se concentrar na eleição de seus seis representantes que passaram para o segundo turno. “Terminada a eleição, aí sim fazermos, de forma dedicada, uma avaliação completa sobre erros, acertos, sobre equívocos, pontos onde o PSDB não cumpriu seu papel. De uma forma mais incisiva, reconheço, mas não podemos fugir dessa avaliação. Teremos de fazer novamente”, afirma o ex-prefeito.

Nesse momento, Alckmin afirma a Doria: “O ‘Temerista’ não era eu não, era você”. E diz na sequência: “Você, você”, numa associação com o governo federal marcado pelo alto grau de impopularidade. Alckmin era contrário ao ingresso do PSDB no governo.

Doria rebate, dizendo que Alckmin estava diante de dois ex-ministros de Temer e que, por isso, não poderia desrespeitá-los. Ele cita o senador José Serra, que foi ministro das Relações Exteriores, e o deputado federal Bruno Araújo, que comandou a pasta de Cidades. Ambos fazem parte da Executiva. Também ressalta que o senador Aloysio Nunes segue no governo. “Vamos ter discernimento em relação a isso, calma e equilíbrio.” Alckmin então diz: “Traidor eu não sou”. E outra pessoa, não identificada, completa: “Nem falso”.

Apoio. Sem alteração na voz, Doria pede novamente calma e equilíbrio. “Não vou entrar nesse mérito em respeito a você, mas volto a dizer que nós precisamos ter uma posição definida pelo partido para o segundo turno com os seis candidatos que aqui estão e que precisam do apoio para vencer as eleições. Geraldo, compreendo evidentemente sua situação e o ideal era que você pudesse ter vencido as eleições, não há dúvida, mas agora temos de preservar e salvar o PSDB nos seis Estados.”

Procurado, Doria disse que a discussão não vai abalar sua relação com o ex-governador. “Geraldo teve um momento de dissabor pessoal, da minha parte tem o meu perdão. Nada que possa abalar as nossas relações”, disse. “Quando se sai da campanha com resultado inesperado, isso abala emocionalmente, gera sofrimento pessoal”, emendou ele. “Minha manifestação não foi bem recebida, mas eu relevo.”

Ele estava ao lado do prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, que no dia da eleição pediu que Alckmin deixasse a presidência do PSDB. Ao ser questionado se também defendia a saída do ex-governador, Doria não respondeu.

Alckmin não quis pôr mais lenha na fogueira, mas também deu estocadas na direção de Doria. “Mario Covas já dizia que não se faz política pela imprensa”, afirmou. “Se outros fazem, eu não o farei.”

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Centrão de divide entre Bolsonaro e Haddad no 2° turno

Felipe Frazão e Camila Turtelli

10/10/2018

 

 

Bloco partidário que foi disputado por diversas candidaturas no 1º turno agora opta por lados diferentes

Ex-aliado do tucano Geraldo Alckmin, o Centrão – bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade – rachou no segundo turno da disputa entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Enquanto PP e PR estão divididos internamente entre os presidenciáveis por causa de interesses e alianças regionais de seus parlamentares, DEM e PRB darão apoio majoritário a Bolsonaro, polo oposto ao do Solidariedade, cuja base sindical fez o partido preferir Haddad.

O acordo de unidade no Centrão visava ao fortalecimento para emplacar um aliado na Presidência e se manter no comando da Casa a partir de 2019 – na prática, o grupo possui integrantes de outros partidos, embora não esteja constituído como bloco formal, com líder eleito pelos demais da bancada. O cabeça do Centrão é Rodrigo Maia (DEMRJ), que costurava sua recondução à presidência da Câmara.

Apoios. O PP, o PR e o PRB comunicaram ontem a decisão de, oficialmente, adotar uma postura de neutralidade e liberar seus filiados para fazer campanha em prol do presidenciável que cada um desejar. “O Progressistas adotará uma postura de absoluta isenção e neutralidade no segundo turno. Faz convicto de que essa é a melhor contribuição que pode oferecer ao debate, em que os cidadãos e cidadãs demonstraram querer se ater a um olhar aos projetos e às personas dos candidatos, deixando todas as demais variáveis em segundo plano”, disse o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, em nota. No comando do PR, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, comunicou aos parlamentares sobre a decisão de neutralidade. “Valdemar já autorizou a liberação em todos os Estados. Cada parlamentar apoia quem achar que deve”, disse ao Estado o líder do PR na Câmara, deputado José Rocha (BA).

O DEM e o Solidariedade pretendem fazer hoje anúncio formal semelhante, embora, haja maiorias opostas nessas legendas. “Eu acho que tem gente de todo lado, uma maioria pró Haddad. Mas acho que o melhor caminho para o partido é liberar. A ideia que eu tenho é encaminhar a proposta de liberar. Quem quiser ajudar o Haddad vai ajudar, sem ter obrigação de apoiá-lo”, disse o presidente Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP). A Força Sindical, principal base do Solidariedade, vai apoiar Haddad, ao lado de outras centrais sindicais.

Como o DEM, historicamente, faz oposição ao PT, a tendência é de que a maior parte dos filiados com mandato e militantes do partido siga em campanha por Bolsonaro, como muitos já fizeram. É o caso da líder da Frente da Agropecuária, Tereza Cristina (MS), e de Onyx Lorenzoni (RS), coordenador da campanha do candidato do PSL à revelia do DEM, e do líder da bancada da bala, Alberto Fraga (DF).

O líder do PRB, deputado Celso Russomanno, terceiro mais votado em São Paulo, gravará vídeo de apoio a pedido do presidenciável. A sigla possui vínculos com a Igreja Universal, cujo líder religioso, bispo Edir Macedo, já declarou voto em Bolsonaro.

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Novo fica neutro, mas diz ser contrário ao PT

 

 

 

10/10/2018

 

 

O partido Novo informou ontem que não tomará lado na disputa presidencial no segundo turno. Em nota, porém, reiterou o posicionamento da sigla de ser contrário ao PT, “que tem ideias e práticas opostas” às do partido.

Com pouco mais de 2,7 milhões de votos, o candidato derrotado João Amoêdo, líder do partido, ficou em quinto lugar na disputa presidencial, à frente de nomes como Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB) e o senador Alvaro Dias (Podemos).

“O cenário presidencial no segundo turno não é aquele que desejávamos. Manteremos nossa coerência e nossa contribuição se dará através da atuação de nossa bancada eleita”, diz a nota enviada à imprensa. “O Novo não apoiará nenhum candidato à Presidência, mas somos absolutamente contrários ao PT, que tem ideias e práticas opostas às nossas”, afirma a nota divulgada pelo partido. Em entrevista publicada ontem pelo Estado, Amoêdo elogiou as ideias do economista Paulo Guedes, principal assessor da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) para a área.

“Ele tem algumas ideias que se assemelham ao que defendemos, como mais liberdade econômica e privatização de estatais”, disse. “O problema é que essas propostas vêm do assessor econômico. Bolsonaro, como deputado (o candidato está em seu sétimo mandato na Câmara), nunca foi um grande defensor dessas pautas”, disse.

Em sua primeira eleição nacional, o Novo elegeu oito deputados para a Câmara