Título: Corrida contra o tempo para chegar a acordo
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 19/06/2012, Brasil, p. 9

Às vésperas da chegada dos chefes de Estado na conferência, delegação brasileira não soluciona impasses

Rio de Janeiro — A etapa de negociação da Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Sustentável — Rio+20 chegou à reta final ontem, sem que os 193 países membros da ONU chegassem a um consenso sobre o documento que estipula metas de desenvolvimento sustentável a serem adotadas a partir de agora. A delegação brasileira, que preside a conferência e é responsável pela mediação dos impasses, ainda espera finalizar os trabalhos antes da chegada dos chefes de Estado, na quarta-feira.

A tendência é que o documento fique pronto até amanhã à noite. Não se sabe, porém, em quais termos os temas mais polêmicos serão redigidos e, consequentemente, a real eficácia do que será acordado. Na prática, o Brasil precisa entregar uma versão conclusiva. Caso contrário, se os chefes de Estado tiverem que tomar a frente das negociações, que deveria ter sido concluída por seus representantes (técnicos e embaixadores), a imagem da diplomacia nacional sairá arranhada da Rio+20.

"Estamos absolutamente convencidos de que o texto será fechado esta noite (ontem). Como disse aos meus colegas, comparando com um campo (esportivo), estamos na prorrogação, que nunca é maior do que o jogo propriamente dito", sentenciou o comandante da delegação brasileira nas negociações, embaixador Luiz Alberto Figueiredo. Pelo cronograma original, o período dos comitês preparatórios (discussões pré-chegada dos chefes de Estado) terminaria na sexta-feira.

A evolução dos debates recebeu críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ontem compareceu ao Riocentro, onde ocorrem as reuniões da conferência. "Não integro a delegação brasileira e não estou participando das reuniões, mas pelo que vejo na imprensa, a evolução das negociações não é satisfatória. Existe ainda muita resistência, incompreensão e incapacidade de se chegar a uma área comum", afirmou.

Outro ex-presidente o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) viveu um dissabor ontem no Riocentro. Ele foi vaiado ao ser apresentado durante uma mesa de discussão que tratou sobre a qualidade da água do planeta. Ele estava em uma área reservada a convidados e não esboçou qualquer reação diante da manifestação do público que acompanhava o evento.

Os problemas do Ministério das Relações Exteriores (MRE) não se limitam as negociações internacionais tratadas na Rio+20. Os servidores do Itamaraty anunciaram uma greve nacional hoje. Por causa da conferência, há um acordo para que funcionários públicos do MRE lotados no Rio de Janeiro só cruzem os braços depois de sexta-feira, último dia do evento.

"Comparando com um campo (esportivo), estamos na prorrogação, que nunca é maior do que o jogo propriamente dito" Luiz Alberto Figueiredo, diplomata negociador-chefe do Brasil