Título: G-20 quer emprego e mais crescimento
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Fonte: Correio Braziliense, 19/06/2012, Economia, p. 10

Países do Brics podem dar mais US$ 70 bilhões ao FMI e criam fundo de reservas para se protegerem do pior

O ataque especulativo em cima da Espanha e da Itália, mesmo depois de os resultados das eleições mostrarem que a Grécia deve permanecer na Zona do Euro, levou ontem o G-20, grupos das 19 maiores economias do mundo e a União Europeia, a dar um firme recado aos investidores: "Estamos prontos para adotar as medidas necessárias no sentido de reforçar o crescimento global e retomar a confiança de consumidores e empresários", segundo o rascunho do documento final da reunião de cúpula que termina hoje,.

Para o G-20, "caso a situação econômica se deteriore ainda mais, os países com suficiente margem de manobra no orçamento estarão prontos para coordenar e implantar as medidas orçamentárias apropriadas para apoiar a demanda interna". Ou seja, injetar mais recursos em suas economia. O primeiro sinal efetivo de que os líderes globais estão dispostos a reverter a recessão que ameaça o planeta partiu dos Brics, que agrega Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O grupo vai injetar entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões no caixa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para socorrer economias em dificuldade. Esse apoio está condicionado, porém, a um maior poder desses países nas decisões da instituição.

O Brics também decidiu criar um Fundo Virtual de Reservas, para ajuda mútua em momentos de crise. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esse instrumento é uma antecipação das principais economias emergentes a um possível agravamento da crise mundial. Os países do Brics temem enfrentar desequilíbrios nas contas externas, que poderiam fazer disparar a valorização do dólar em relação às suas moedas, impactando fortemente a inflação. Em caso de escassez de recursos estrangeiros, essas nações poderão recorrer ao fundo para irrigar os mercados.

Trata-se de uma "nova bala na agulha" a ser disparada, se necessário, afirmou Mantega. O Brics detém reservas internacionais superiores a US$ 3 trilhões. "Essa iniciativa vai no sentido do aumento da confiança, o elemento que se deteriorou nesta crise. Estabelecemos a solidariedade financeira entre nós (Brics)", disse o ministro. "É importante ter uma região dinâmica para ajudar a estimular as economias avançadas a fazer as reformas necessárias, a aumentar os seus investimentos e a crescer", acrescentou. O novo fundo seguirá o modelo da Iniciativa Chiang Mai, mecanismo multilateral criado em 2000 que permitia a troca de moedas entre a China, o Japão, a Coreia do Sul e os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).

Força ao emprego A crise da Europa dominou o primeiro dia de reunião de cúpula do G-20. E todos os líderes concordaram que os graves problemas na Zona do Euro são uma ameaça ao sistema financeiro internacional e à estabilidade econômica global. Por isso, pediram mais ações ao líderes europeus, que já aprovaram uma linha de socorro de até 100 bilhões de euros para a Espanha salvar seus bancos. No entender do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, passos importantes foram dados, mas é preciso mais. Ele ressaltou que ficou "animado" com os planos europeus para sair da crise econômica, após conversar chanceler alemã, Angela Merkel.

Barack Obama se diz %u201Canimado%u201D com o que ouviu da chanceler Angela Merkel

"O presidente ficou animado com o que ouviu sobre as discussões que acontecem na Europa relacionadas ao caminho que devem seguir para sair da crise", afirmou o porta-voz da presidência norte-americana Jay Carney. "Os dois líderes estão convencidos da conveniência de colaborarem estreitamente, incluindo nesta reunião do G-20, para apoiar o que deve ser feito na Europa e no mundo para estabilizar a situação e impulsionar o crescimento e emprego", emendou. A subsecretária do Tesouro dos EUA, Lael Brainard, ressaltou que houve uma "mudança significativa no discurso europeu". Merkel vinha insistindo que a saída para a Europa está no ajuste fiscal dos países. Ou seja, em mais arrocho.

Anfitrião do encontro, o presidente do México, Felipe Calderón, disse que o G-20 está diante de um oportunidade única para livrar o mundo do pior. "Temos de adotar ações que estejam a altura do que todos esperam de nós", afirmou.

» Para Mantega, medidas são insuficientes

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a perda de confiança dos mercados na Zona do Euro mostra que as medidas adotadas não têm sido suficientes para solucionar a crise na região. "Ao invés de (as medidas) reduzirem (os problemas), estão aumentando", disse, durante reunião do G-20. Ele afirmou que as contribuições que os Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, farão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), para reforçar o caixa da instituição, devem ajudar a melhor o humor dos investidores. "Isso vai aumentar a confiança, ao garantir que há mais munição disponível se houver algum problema", completou. Apesar de todos os indicadores apontaram forte desaceleração da economia brasileira, o ministro mantém o discurso de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil crescerá mais de 3% neste ano.