Título: Espanha volta à cena
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Fonte: Correio Braziliense, 19/06/2012, Economia, p. 11

Eleição grega não consegue acalmar mercados e Madri paga taxa mais alta em 10 anos para rolar sua dívida

A apertada vitória dos conservadores na Grécia afastou o risco de uma implosão iminente da Zona do Euro, mas deu um alívio apenas momentâneo aos mercados, que ontem voltaram a operar em clima de instabilidade, com o recrudescimento dos temores sobre a saúde das economias espanhola e italiana. A Espanha, que continua sendo o maior foco de preocupação dos analistas, teve de pagar juros de 7,15% ao ano para vender títulos públicos de 10 anos de prazo, a taxa mais elevada desde que o euro foi implantado, em janeiro de 2002. Na Itália, o custo de rolagem da dívida também subiu, chegando a 6,08%. Refletindo a tensão dominante entre os investidores, a Bolsa da Madri caiu 2,96%. A de Milão ficou apenas um pouco atrás e recuou 2,85%.

O cenário de cautela e aversão ao risco predominante no exterior contaminou os negócios no Brasil, onde o dólar voltou a subir ante o real, após duas sessões de queda. No fechamento, a moeda norte-americana foi cotada a R$ 2,057, com alta de 0,62% em relação ao dia anterior. Na Bolsa de Valores de São Paulo, os operadores também trabalharam com as atenções voltadas para a Europa, mas o pregão terminou o dia com um leve ganho, de 0,16%.

Resgate "Estamos de volta às preocupações com a Espanha e um descrédito com a Zona do Euro em geral. A questão que ocupa a cabeça de todos é: a que nível os rendimentos dos títulos espanhóis se tornarão insustentáveis?" — questionou o gerente de fundos da Meeschaert Wealth Management em Paris, Frederic Rozier. O temor revelado na frase remete aos casos da Irlanda, Portugal e Grécia, países que foram obrigados a pedir socorro financeiro quando o custo de rolagem da dívida ultrapassou a marca de 7%.

Os juros recordes pagos pelo tesouro espanhol reacendeu os temores de que seja necessário um plano de resgate para todo o país, e não apenas para o setor bancário, como ficou acertado no pacote de 100 bilhões de euros fechado há cerca de 10 dias entre o governo de Madri e seus parceiros da União Europeia. A fraqueza dos pregões na Espanha e na Itália acabaram contagiando os principais indicadores da região. O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações negociadas no continente permaneceu estável, com uma leve alta de 0,01%. Já o indicador de blue chips da Zona do Euro, o STOXX 50, caiu 1,2%. Os papéis de bancos foram os que acumularam maiores perdas, como os do Bankia desabando 9%, os do UniCredit em baixa de 4,3% e os do Santander em queda de 4,6%.

Seguindo a tendência geral, a Bolsa de Paris teve queda de 0,69%. Outras praças, contudo, se mostraram mais resistentes à onda de incerteza: houve altas de 0,22% em Londres e de 0,30% em Frankfurt. Nos Estados Unidos, a bolsa de tecnologia Nasdaq avançou 0,78%, devido ao bom desempenho das ações da Apple, mas o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, também sucumbiu ao pessimismo e cedeu 0,2%. O estrategista-chefe de investimentos do Janey Montgomery Scott, Mark Luschini, resumiu o ambiente dos negócios: a eleição grega "não mudou completamente a situação dos mercados e fez pouco para aliviar as questões maiores que ainda afligem a Europa".

»Calote em alta A inadimplência de bancos espanhóis subiu para 8,72% carteira em abril, maior nível desde abril de 1994, segundo o Banco da Espanha. No mês anterior, o indicador havia sido de 8,37%.Os empréstimos não pagos no prazo aumentaram em 4,7 bilhões de euros (5,9 bilhões de dólares) ante março, para 153 bilhões de euros. A inadimplência tem crescido continuamente desde o estouro da bolha imobiliária, quatro anos atrás, e o desemprego tem crescido para mais que o dobro da média da União Europeia.