O globo, n. 31109, 09/10/2018. País, p. 6

 

Bolsonaro avança em redutos do PT e domina áreas tucanas

Luís Guilherme Julião

Marlen Couto

09/10/2018

 

 

 Recorte capturado

Deputado vence em colégios eleitorais que deram vitória à Dilma em 2014. E consolida preferência no Sul e Sudeste

O candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL)avançou, no primeiro turno das eleições 2018, sobre tradicionais redutos tucanos e até mesmo nas áreas que deram a vitória ao PT na disputa de quatro anos atrás. Bolsonaro não só consolidou sua posição no Sul, Sudeste e Centro-Oeste — onde Aécio Neves (PSDB) também registrou seus melhores resultados há quatro anos —como foi o mais votado no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi vencedora nos três estados.

O PT, por outro lado, manteve a liderança em quase todo o Nordeste com Fernando Haddad. O bastião petista na região garantiu o segundo turno. O partido só não ganhou no Ceará, reduto eleitoral de Ciro Gomes (PDT).

No primeiro turno, Bolsonaro venceu em 17 estados. Na eleição passada, Aécio Neves ficou na liderança em apenas dez. Já Fernando Haddad, do PT, ficou em primeiro lugar na votação para presidente em nove estados, enquanto Dilma liderou em 15, em 2014.

Com 44% dos votos válidos, Bolsonaro não alcançou na capital paulista o mesmo índice que no estado (53%), mas ainda assim impôs uma ampla vantagem para o segundo colocado, Fernando Haddad, com mais de 1,5 milhão de votos de diferença. Haddad, que foi prefeito de São Paulo mas não conseguiu a reeleição, teve 19, 6% na cidade. Alckmin teve na capital paulista 8,79%, ficando em quarto lugar.

Jair Bolsonaro teve 59% dos votos válidos na cidade natal de Alckmin, que ficou em segundo (15,24%). No geral, Bolsonaro foi soberano no interior paulista, reduto tradicional do PSDB.

Rio de Janeiro

O estado do Rio de Janeiro foi o maior símbolo do avanço de Bolsonaro sobre antigos redutos petistas. O candidato do PSL alcançou 59,8% dos votos no estado, contra 14,7% de Haddad, que não ganhou em nenhum município. O petista recebeu ainda menos votos do que Ciro, que teve 15,2%. Há quatro anos, Dilma foi a mais votada em 54 cidades fluminenses.

Outro estado que registrou um recuo significativo do PT e do PSDB foi o Rio Grande do Sul. Bolsonaro somou 52,6% dos votos válidos, contra 22,8% de Haddad. Alckmin teve 5,5% dos votos. Em 2014, a superioridade foi apertada: Dilma conquistou 43,2% dos votos, enquanto Aécio teve 41,4%. Em Minas Gerais, o quadro é semelhante. O candidato do PSL ficou também na primeira colocação com 48,3% dos votos, enquanto Haddad somou 27,6%. Há quatro anos, a candidata petista chegou ao fim do primeiro turno com 43,48% dos votos, e Aécio com 39,75%.

Para Julio Aurelio, da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), Bolsonaro foi capaz de construir uma ampla frente conservadora, diferentemente de Aécio em 2014. Além do desgaste do PT e de outros partidos, a ascensão do candidato do PSL é explicada pela abordagem de “temas republicanos”, como segurança pública, corrupção, impunidade e combate a privilégios.

—Ele é antissistema porque aparece com essa veste republicana. O centro não faz isso, está todo cheio de denúncias de corrupção. A esquerda também não tem conseguido fazer. O que vejo é que o Bolsonaro se tornou o núcleo de uma ampla frente republicana conservadora. Reúne todos conservadores, em suas diferentes gradações. Isso Aécio não conseguiu fazer.

A professora de Ciência Política Maria de Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirma que Bolsonaro conseguiu catalisar a decepção em relação à classe política, que vem desde 2013, e também estabelecer alianças político-partidárias.

—Bolsonaro fez realmente palanque onde o PSDB teve problemas. Geraldo Alckmin tinha uma soma de recursos enorme, mas quem consegue no final maior apoio foi o Bolsonaro. Alckmin não foi exitoso na coordenação eleitoral. Também foi o candidato que mais conseguiu vocalizar a pauta antipetista — avalia.

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No Nordeste, candidato perde estados, mas vence em capitais

Eduardo Bresciani

09/10/2018

 

 

Bolsonaro chegou em primeiro lugar, por exemplo, no Recife, considerado simbólico para a esquerda; Haddad liderou a disputa em três cidades

Derrotado nos estados da Região Nordeste por larga margem por Fernando Haddad (PT), o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, venceu a eleição em cinco das nove capitais nordestinas. A vitória mais simbólica foi no Recife (PE), capital de um estado importante para o PT e tido como berço para o lulismo.

De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além do Recife, Bolsonaro venceu em Aracaju (SE), João Pessoa (PB), Maceió (AL) e Natal (RN). Haddad ganhou em Salvador (BA), São Luís (MA) e Teresina (PI), enquanto que Ciro Gomes (PDT) foi vitorioso em Fortaleza (CE).

O melhor desempenho do candidato do PSL nas capitais nordestinas foi em Maceió, onde alcançou 52,2%. Seu pior desempenho foi em Salvador (BA), onde teve 27,8%. Bolsonaro foi derrotado em todos os nove estados da região, tendo alcançado melhor desempenho em Alagoas, com 34,4%. O candidato publicou em suas redes sociais uma foto destacando seu desempenho no Nordeste e agradecendo os 7,4 milhões de votos recebidos na região.

O Ceará foi o único estado do Nordeste em que Ciro Gomes ficou em primeiro lugar com 40,9% dos votos. Haddad ficou em segundo lugar, com 33,11%, seguido de Bolsonaro com 21,7%.

No Norte do país, Marina angariou apenas 0,92% dos votos em Xapuri, cidade acreana onde nasceu Chico Mendes. Bolsonaro teve 48%, enquanto Haddad chegou a 38%.

Essa confluência conservadora, na avaliação de Julio Aurelio, ocorreu quando Haddad ficou em segundo lugar nas pesquisas,apósLulaficaroficialmente de fora da disputa.

— O desafio do PT é vencer sua rejeição. Oúnicoj ei toé encarnara constituição de 1988. Ser muito amplo. O Haddad é a liderança mais ampla no partido, é quem mais tem trânsito. Mas será muito difícil — conclui Julio Aurélio.

Para a professora de Ciência Política Maria de Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no segundo turno, tanto Bolsonaro quanto Haddad terão como desafio atrair setores do centro:

— Bolsonaro terá mais tempo para se expor. Isso pode significar perda de votos, se aparecer inconsistência no debate, inclusive nas propostas. Tudo isso vai ser colocado em xeque.